Conversa aberta: O espaço urbano para quem?

MUBi @ MUBi

Publicado em 4/03/2024 às 19:46

Temas: eventos vantagens da bicicleta cargo-bikes Lisboa logística micrologística mobilidade Porto

Nos dias 9 e 14 de Março, no Porto e em Lisboa, a MUBi promove uma conversa sobre a distribuição em bicicleta, os problemas e soluções em entregas nas nossas cidades.

A distribuição de bens dentro das cidades portuguesas ainda é sobretudo feita por veículos motorizados, frequentemente de grandes dimensões, com muitas embalagens de pequenas [...]

 

Perú: crónicas de uma viagem em bicicleta

Cristina Miranda da Cruz @ Braga Ciclável

Publicado em 2/03/2024 às 8:00

Temas: Opinião Bicicleta Cicloturismo Cristina Cruz Cristina Miranda Cruz Peru Turismo Viagens


Tudo começa com os improvisos de última hora, que cada vez mais se estendem pela noite dentro. Embalámos as bicicletas para voarem, orgulhosos das estratégias que fomos aperfeiçoando ao longo das últimas viagens. Nas embalagens de cartão, cabem, para além de algumas ferramentas básicas, os alforges e algumas roupas que são estrategicamente acondicionadas para protegerem as partes mais sensíveis das bicicletas recém desmontadas. Os pneus vão vazios devido às variações de pressão. Relembramos as coisas que não podemos esquecer, mas acima de tudo aquelas que são desnecessárias e que afinal podem ficar em casa para não pesarem nas pernas ao longo das 3 semanas.

Não levamos planos connosco, ao chegar a Lima entregamo-nos ao baile de rua, misturamo-nos com os salseiros e bachateiros locais e recolhemos informações. Deixamos que nos desenhem mentalmente o que vai ser o nosso destino nos próximos dias.

Deslumbramo-nos com a grandiosidade e modernidade da cidade e com a presença de ciclovias seguras e bem sinalizadas.

Em viagem, levamos poucas regras connosco: “Ter cuidado com a segurança dos alimentos que ingerimos.”, “Não pedalar de noite.”. São todas para infringir! Deliciamo-nos com deliciosos ceviches, corvina frita, maíz, lomo saltado, anticuchos e tudo que todos os vendedores de rua ou lugares duvidosos anunciem. E, claro, levamos todo o tipo de luzes e refletores. Pedalando à noite pelo deserto, chegamos a Huacachina. Huacachina é um oásis e é igual a todos os oásis que imaginamos e desenhamos na escola.  Depois de gastarmos as energias a fazer sandboarding, o pôr do sol mais cor de laranja em anos. As imagens são estonteantes, retiradas de Marte ou de algum cenário de ficção científica.

Inspirados pelos Diários de Che Guevara, enveredamos pela Panamericana numa travessia ao deserto. À medida que os km se acumulam, o sol a pique e os cuidados também. Levamos agora mais de 6 litros de água cada um e as garrafas bem embrulhadas em toalhas para não sobreaquecerem. As camadas de protetor solar tornam-se mais espessas, as golas servem para tapar o rosto do sol e das poeiras da estrada, as roupas leves de verão, ao segundo dia, passam a parecer má ideia e depressa aprendemos que cobrir a pele com roupa é a melhor proteção de todas. Aprendemos também que no meio do deserto não há rede. Os pontos de paragem para nos abrigarmos do sol e reabastecermos de água identificáveis no Google Maps não são necessariamente reais, nem a aplicação tem o mesmo tipo de fiabilidade nestas regiões.

30 Km antes da saída do deserto, conhecemos o El Parça, o homem que colocou água e sombra no deserto. Emigrou da Colômbia, vende água e folhas de coca a camionistas cansados e agora oferece dois lugares à sombra a ciclistas sequiosos.

No Vale Sagrado, as mudanças de paisagem e de clima não se revelam necessariamente mais fáceis. Atingidos pelo “mal de altura” sentimos as dificuldades em respirar e os problemas digestivos. A água e o verde são agora abundantes. A viagem passa a exigir paragens obrigatórias e abrigos criativos até que as chuvas se dissipem.

Já desconfiávamos, mas os Andes dão-nos a certeza: todas as subidas se fazem, desde que com paciência e o ritmo certo; e quando restam dúvidas, os cães que protegem os caminhos e terreiros, mostram-nos o extra de energia que ainda temos escondido e desconhecíamos.

A Natureza ensina-nos que nenhum esforço é inglório e presenteia-nos com um duplo arco-íris sobre a as nuvens e sobre a montanha. As descidas começam.

 

fotocycle [272] dose dupla

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 31/01/2024 às 15:48

Temas: fotocycle 1 carro a menos benefícios das pedaladas bicicleta ciclismo ciclismo urbano commutescount Corredor Verde do Leça Douro economia da bicicleta fotografia mobilidade motivação no meu percurso rotineiro pr'o trabalho outras coisas pelas ruas do Porto penso eu de que... Porto Ribeira sustentabilidade

A bicicleta é o meu meio de transporte. É o meu meio para ir e voltar do trabalho. É um meio de lazer e descontracção. É o meu ginásio. É gratuito… quer dizer, anda a sandes e a cerveja, mas é barato. É ecológico e está sempre disponível, de manhã e à noite, faça sol ou faça chuva, haja ou não transportes públicos… Já nem sei o que é andar de transportes públicos!

Todos os dias vou de bicicleta para qualquer lado. Como tenho tempo, à tarde no pós-laboral concilio duas horas e qualquer coisa para regressar a casa, tempo suficiente para pensar, descarregar e parar de pensar, só pedalar. Ao fim-de-semana lá vou eu, ao sábado e ao domingo, licra no corpo para mais quilómetros de satisfação, com outra disposição, bem mais rápido, mais longo e mais suado.

De qualquer forma, com qualquer bicicleta, nada é melhor que levar com mosquitos na testa.

 

Rapha Festive 500. If it’s not on Strava, it didn’t happen

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 5/01/2024 às 9:45

Temas: marcas do selim 1 carro a menos 2023 2024 a chuva não atrapalha benefícios das pedaladas bicicleta bom ano ciclismo ciclismo urbano desafio fotografia Gorka longas pedaladas Maria del Sol mobilidade motivação Natal outras coisas Porto Rapha Festive selim STRAVA Sua Alteza

Todos os anos, desde 2010, naquela semana estranha entre a véspera de Natal e o Ano Novo, a marca de roupas de ciclismo Rapha desafia os ciclistas a pedalar 500 quilómetros em oito dias. Para além do marketing associado, o desafio proposto pelo Clube Rapha é uma forma de incentivar o derradeiro esforço velocipédico para se atingir metas anuais, queimar calorias natalícias em excesso… ou, simplesmente, arranjar uma desculpa e fugir de casa por algumas horas!

Em 2023 o desafio entrou no seu 13º ano de existência. Se pedalar uma média de 62,5 km por dia durante 8 dias não é nada de outro mundo, eu que até nem sou muito destas coisas, quando há uma bela Cannondale bike XPTO em jogo, cliquei no botão e fiz a inscrição. Não meti férias nem me socorri do rolo, coisa que nem tenho, mas com determinação e empenho, sem comprometer rotinas e compromissos natalícios, teria as condições necessárias para o sucesso da coisa.

Há sempre uma forte probabilidade dos afazeres da quadra natalícia virem a atrapalhar a pedalada, como o facto da época festiva envolver muitas comezainas e algumas bebedeiras. Depois, temos os compromissos familiares a que não conseguimos fugir. Ir fazer compras de última hora também não nos dá o livre-trânsito de desaparecer porta fora e ir pedalar durante um bom par de horas. As festividades têm de ser bem negociadas, lá em casa e com as bicicletas disponíveis.

Se poderia fazer tudo de uma vez… eh pá, há quem o faça, mas para quê!? O objectivo aqui seria aproveitar o tempo livre nas folgas e vésperas dos feriados para umas voltas mais esticadas, e ir dando ao pedal consoante a possibilidade ao longo dos dias de trabalho. Infelizmente, para mim, o Natal não é sinónimo de férias, nem no Algarve e muito menos nas Caraíbas, e, caso assim fosse, a bicicleta seria mesmo a última coisa a ser incluída na bagagem.

Quando se trata de dia útil para pedalar, à partida o dia de Natal estava para mim fora de questão. Mesmo assim, com a desculpa de ir fazer o papel de Pai Natal, lá consegui sair no dia 25 para uma mini-micro volta de 15km (foram mais, mas o Strava stravou e mais não contou). Já foi muito bom para “desmoer” as rabanadas. Por acaso até foi o dia mais agradável no que ao clima dizia respeito, mas sabendo que no dia seguinte iria abrir o presente da tolerância de ponto governamental, não me preocupei e programei o dia para a voltinha mais extensa.

Chova ou faça sol, as pedaladas casa-trabalho vs. trabalho-casa diárias, o “#commutescount”, são para cumprir. São Pedro tem sempre uma palavra importante a dizer e eu sabia à partida que teria de lidar com o senhor Inverno. Se não é frio é chuva, se não é o vento é tudo misturado. O melhor é não contar com as alterações climáticas no… e estruturar bem a coisa. Mas, com três dias de chuva inclemente, precisamente nos chamados dias úteis, isto nas previsões mais otimistas, a coisa ira resumir-se aos mínimos indispensáveis, o que não daria para acumular quilometragem em metade do prazo disponível. Feitas as contas, no derradeiro fim de semana do ano civil de 2023 teria de pedalar contra o prejuízo. 

Pedalar, seja para cumprir 500 quilômetros em 8 dias, seja para pedalar os 4 que separam a casa do trabalho, a bicicleta tem de estar preparada e afinadinha. Na estrada estamos sempre sujeitos a avarias e não temos uma oficina ao virar de cada esquina e que nos desenrasque. O selim da gOrka teimava em desapertar e por mais aperto que lhe ia dando, o parafuso ia me moendo a paciência e as costas. Esse handicap teve influência na escolha de percursos para os derradeiros dias, pois a cada paragem lá ia eu fazer fosquinhas com a chave umbraco. As voltas basearam-se num raio de acção mais curto do que inicialmente pretendia.

Um parafuso de titânio é coisa para resolver definitivamente o problema, só que não! O busílis da questão estava na base do espigão. Depois de tanto apertar e reapertar, no final da volta de sábado, forçadamente encurtada, decidi atacar o problema pela raiz. Assim que parei a actividade no Strava e entrei na arrecadação, de roupa suada colada ao corpo, estive mais de uma hora para solucionar o problema à boa maneira McGuyveriana. Quando entrei no chuveiro estava certo que no derradeiro dia do desafio não iria sentar as nalgas num baloiço. Eis o último dia do ano que veio a ser um 31!  

A manhã estava bastante sombria. Pouco depois de me fazer à estrada, uns pingos de chuva misturavam-se com alguns pingos do meu nariz. A ressaca de uma noite tremida e a perspectiva de 90 km pela frente não foram, no mínimo, as melhores motivações para sair da cama. Para além disso, pernas fraquejadas e vento contrário não combinam bem. “Oh diacho, tu queres ver!” Não era minha pretensão repetir rotas, então optei pela monotonia perto de casa em vez de arriscar e morrer na praia. Assim, com o ritmo adequado à energia, segui o plano da praia, aproveitando para passar pela casa do velhote e lhe dar um abraço.

Assim, quando finalmente entrei em casa e pendurei a bicicleta havia acumulado mais quatro quilómetros para além dos mínimos exigidos. Ena… Para lá da satisfação pessoal de concluir o dito cujo desafio, ficando assim habilitado à tal máquina que, só em sonhos, me poderá sair na rifa – quem não arrisca não petisca, não é mesmo? A medalhinha digital da Rapha Festive 500 vai permanecer na sala de troféus como o resultado do esforço e da minha teimosia tenacidade. De que me posso queixar quando se ganha um prémio bónus acrescido. Para lá de ter tido um reveillon 2024 de molho, uma noitada bem suada, ainda tive direito à participação, nos dias seguintes, no Brufen 600! Ca Categoria, hein…

Bom Ano e Boas pedaladas.

 

Pai Natal, conta-me histórias

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 21/12/2023 às 16:03

Temas: Bicicleta de Natal bicicleta fotografia fotopedaladas histórias iNBiCLA motivação Natal outras coisas Pai Natal pasteleiras e vintageiras

Sua Alteza é crente, ainda acredita no Pai Natal. Viu o velhote e, numa de Operação Influencer, parou e intercedeu para que eu receba no sapatinho de encaixe a bicicleta há muito pedida. Mas eu sei o que ela quer. O caruncho e a ferrugem já lhe estão a emperrar a pedaleira. O que ela realmente deseja é dividir as minhas nádegas com outro selim. O senhor das barbas riu-se… “Oh Oh Oh… tu queres é que te conte uma história. Pois bem: Há muito, muito tempo, que depois do Natal e do Ano Novo, três magos em camelos chegam de um reino longínquo, e trazem presentes… Sabe-se lá se não é desta que tens o teu presente de volta, que um desses reis venha a pedalar na velha nova bicla do Paulo!!!”

Com ou sem presentes no sapatinho de encaixe, o que interessa é que todos tenham um Feliz Natal.

 

can’t miss [235] www.randonneursportugal.pt

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 28/11/2023 às 10:36

Temas: can't miss it bicicleta ciclismo ciclistas no mundo coisas que leio dos malucos das biclas voadoras França histórias de vida longas pedaladas motivação outras coisas Paris-Brest-Paris PBP randonneur

Júlio Caroça
Randonneurs Portugal Nº 20200553
Paris Brest Paris 2023

O meu primeiro PBP

“A pergunta que vale um milhão, Why Paris Brest Paris?

Pois …..Em 2017 com 47 anos e mais de 100kg de peso, decidi retomar o hábito de andar de bicicleta, isto é, desde os meus 13 anos que não andava, o meu objetivo era emagrecer e me sentir melhor, foi com um grande espanto meu que após uma volta de 4 km estive uma semana para recuperar.”

[…]

Podes ler o relato do Júlio em: https://www.randonneursportugal.pt/pbp-2023-por-julio-caroca/

 

fotocycle [271] no espírito da coisa

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 17/10/2023 às 9:49

Temas: fotocycle 1 carro a menos bicicleta carrocultura Código da Estrada ciclismo coisas que vejo fotografia fotopedaladas Gorka metro e meio motivação N108 outras coisas penso eu de que... Porto

Aproveitando a sinalética espalhada na estrada N108 pela organização da prova de triatlo “Spirit of 78”, deixo algumas considerações a respeito de uma regra que muito condutor desconhece: o limite mínimo de 1,5 metros de distância lateral para ultrapassar o ciclista em segurança. Infelizmente, ainda é raro o dia em que eu não sofra aquela razante desnecessária. Com uma massa e pneus muito menores se comparado a um carro, cada buraco na estrada, cada objecto estranho no asfalto tem o potencial de arruinar o dia de um ciclista. Como tal, o metro e meio de distância mínima que o CE prevê como margem de segurança para a ultrapassagem do automobilista ao ciclista faz todo o sentido. Obrigado pela atenção.

 

mercearia Mariazinha

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 1/08/2023 às 14:04

Temas: marcas do selim aldeia bicicleta bons exemplos ciclismo cicloturismo comércio tradicional Dona Mariazinha Douro fotografia fotopedaladas histórias de vida longas pedaladas momento motivação N108 outras coisas pelos caminhos de Portugal

Em Vila Nova, no topo da subida da Pala, no cruzamento de estradas onde a N108 começa a descer para o Douro, mesmo num domingo à tarde a porta da mercearia aberta convida-me a parar. Encosto a bicicleta à parede de granito e entro na loja… (como lhe chamo)

– Ora muito boa tarde.

– Outra vez, por aqui! Então, vai para cima ou volta para baixo? E os seus amigos, não vieram?

Dona Mariazinha tem o seu jeito simpático de receber o cliente. Ali há um modo de atender mais pessoal. Há convivência, há conversas. São relações que perduram no tempo…

– E volta a pedalar para o Porto, sabiam? Satisfaz ela a curiosidade da freguesia presente, mesmo que não me tenham perguntado nada!

Nem sempre está nos seus melhores dias. A tristeza de ter perdido um irmão vestiu-a de negro por uns tempos. Os achaques do corpo também não a largam, mas é preciso manter o negócio aberto. Atrás do balcão não há nenhum espaço vazio. Tem de tudo, à medida das necessidades da pequena povoação que serve.

– Então, e o que vai ser hoje?

O ciclista chega sempre com sede, e também traz fome. Uma sandes de queijo, uma ou duas bananas, mesmo daqueles pretas de tão maduras que estão, saciam o desgaste da pedalada.

– Ah, obrigado, mas é melhor deixar o Moscatel para outra ocasião. Com este calor, hoje vai ser uma cola fresca e… já agora, encher a garrafinha d’água, sefaxabôre? Tenho de seguir viagem.

Alheios à voragem do tempo, são ainda alguns, poucos mas bons, os comerciantes que teimam em manter a sua taberna, loja, mercearia ou mini-mercado em actividade, só pela força da subsistência.


Ahhh… e continua a não gostar muito que lhe tirem fotografias!
 

MiraDouro

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 24/07/2023 às 13:47

Temas: motivação 1 carro a menos aldeia bicicleta boas pedaladas ciclismo cicloturismo combóio Douro Linha do Douro longas pedaladas Lugar do Castelo memórias outras coisas penso eu de que... video

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Lá vai o cavalo de ferro, Douro acima, pelas curvas do rio.

Se eu podia ir também? Podia, mas, já se sabe, não seria a mesma coisa!

Quando estou sentado no selim de uma bicicleta, não há nada entre mim e o mundo que me rodeia. Não há vidro, não há metal, não há interior climatizado que me contenha a liberdade e o tempo. Apenas o devaneio e o espaço. Apenas o ar que respiro, que me torna vivo. Livre, a ambiência chega natural e envolve-me nas variáveis condições. Nos humores do vento e na ambiguidade da estrada. Os sentidos, esses, são seduzidos a cada curva, enquanto miro o Douro na clássica ida e volta ao Castelo, o Lugar que tem um lugar cativo no meu coração.

 

de bicla nos coretos do Porto

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 3/07/2023 às 14:20

Temas: motivação o ciclo perfeiro roteiros a pedal ciclismo urbano ciclistas urbanos do Porto coretos fotografia histórias jardins do Porto mobilidade musica no meu percurso rotineiro pr'a casa no meu percurso rotineiro pr'o trabalho pelas ruas do Porto Porto singlespeed Sua Alteza

No passado mês de Junho, mês de festas populares, à passagem pelo Jardim do Passeio Alegre no meu habitual percurso pós-laboral, fui agradavelmente surpreendido pela animação do Concerto do Coro da União de Freguesias do Centro Histórico do Porto, do “Projecto Musica no Coreto”. Presentes nos mais emblemáticos jardins da cidade, os coretos estão há muito esquecidos pela população. “Nascidos” num tempo em que se vivia a época do Romantismo, o Porto conserva ainda vários coretos, pequenos palcos de formato circular ou octagonal, especialmente criados como espaços comunitários de laser, onde os portuenses podiam conviver e ter acesso à cultura.

  • Jardim do Passeio Alegre

O Coreto do Jardim do Passeio Alegre, foi o primeiro coreto a ser construído no Séc. XX, em 1902. Estrutura de ferro “plantada” no centro de um jardim romântico oitocentista à beira-rio. Passeio Alegre de seu nome, jardim de grandes dimensões com uma vasta colecção de espécies arbóreas raras, assim como plantas ornamentais, foi apetrechado com um coreto, equipamento muito em voga na época áurea do Romantismo. A poucos metros das praias, a Foz do Douro tinha mais animação. Em dias de festa, sobretudo na época balnear, o espaço era frequentado pela nova burguesia, pela comunidade inglesa residente no Porto, que ia a banhos e assim podiam assistir a actuações musicais de bandas filarmónicas.

  • Jardim de S. Lázaro

Em 1833, D. Pedro IV ordena construir o primeiro jardim público do Porto, dedicando-o às mulheres da Invicta para, de alguma forma, as compensar pelas duras provações enfrentadas durante o Cerco do Porto. Nos meados do século XVIII era apenas um campo nos arrabaldes da cidade, onde existia um hospital de lázaros (leprosos) cujo santo padroeiro, S. Lázaro, deu o nome a esta zona da cidade. Oficialmente, Jardim Marques de Oliveira, permanece como um típico jardim romântico. A sua localização central, envolvido por um gradeamento com quatro portões e rodeado por edificios de interesse histórico, é nos dias de hoje um dos jardins mais frequentados da cidade. O Coreto do Jardim de S. Lazaro, datado de 1869, provavelmente o coreto mais antigo da cidade, apenas foi oficialmente inaugurado em 1873.

  • Jardim da Arca d’Água

Encosto agora a bicicleta no Coreto da Arca d’Água. Situado na Praça 9 de Abril, o Jardim da Arca d’Água foi aberto ao público em 1928, devendo o seu nome aos reservatórios de águas de Paranhos ali existentes, e que até aos finais do século XIX alimentavam as fontes e chafarizes da cidade. Sendo um dos jardins mais aprazíveis do Porto, destacam-se o lago e um conjunto de frondosas magnólias. O mais recente dos coretos da cidade, datado de 1929, é todo ele construído em betão armado e apresenta as características da Arte Nova, muito em voga na época. Mas não só de música dão os coretos palco. Em algumas ocasiões foram tribunas para solenidades festivas ou momentos de intervenção política e social. Facto curioso ocorrido em 1866, muito antes de existir o jardim e o coreto, ali se enfrentaram num duelo de espada os escritores Antero de Quental e Ramalho Ortigão, saindo este último ferido num braço.

  • Jardim da Cordoaria

O Coreto do Jardim João Chagas, ou da Cordoaria, como é popularmente conhecido, está bem no centro da movida portuense. Palco de uma excelente acústica, é dos coretos mais utilizados actualmente. Localizado entre o casario do Campo Mártires da Pátria e a linha do eléctrico, o bulício das esplanadas, dos copos de cerveja e da malta mais animada, não lhe são nada estranhos. Do lado mais tranquilo abre-se a famosíssima avenida dos plátanos, gigantes exemplares cujos troncos ficaram deformados pela moléstia. Conhecido na idade média como o Campo do Olival, a sua designação popular deveu-se à actividade que os cordoeiros ali executaram durante 200 anos. O processo de ajardinamento do espaço tomou forma a partir de 1865, tendo sofrido várias remodelações ao longo dos anos, sobretudo na sequência da devastação provocada pelo ciclone de 1941, quando foi replantado. O Jardim da Cordoaria é caracterizado por um lago e diversas estátuas que lhe conferem o tradicional ambiente romântico. Algumas espécies arbóreas raras deram-lhe em tempos o “título” de jardim botânico. Tendo sido controversa a última intervenção, está prevista para breve nova reabilitação geral… diz-se!

  • Jardim do Marquês

Antes de se denominar Praça do Marquês de Pombal (1882), o local era conhecido como Largo da Aguardente, por ali existirem alambiques de aguardente e, posteriormente, um mercado com a mesma designação. Localizado num dos pontos mais altos do burgo, a 150 metros de altitude, foi local estratégico de defesa da cidade, tanto no tempo das invasões francesas como durante o Cerco do Porto. Facto curioso, a existência de uma praça de touros nesse local (1870), que, sem o sucesso pretendido junto dos tripeiros, não durou muito tempo a desaparecer e acabou queimada. Já com a configuração actual, em 1898 uma frondosa alameda foi ajardinada e rodeada de plátanos. No ano seguinte a praça recebeu o seu coreto tradicional oitocentista, em ferro fundido, que foi oferta dos habitantes da zona, onde nele podiam assistir a concertos de música e outras festas. Ao longo dos tempos, o jardim foi tendo alguns acréscimos, como é o caso do quiosque Art Déco e, em 1948, da biblioteca popular Pedro Ivo. Das mais importantes intervenções, registo para a construção da Estação do Metro do Porto, em 2006, e a posterior requalificação do jardim com a fonte redonda que durante décadas iluminou, literalmente, a Praça D. João I.

  • Jardins do Palácio de Cristal

Nos jardins do Palácio de Cristal, o requintado Teatro-Coreto, popularmente conhecido como a Concha Acústica, embeleza a Avenida das Tílias. Construído em alvenaria, com decorações em bronze provenientes da fundição francesa do Val d’Osne, destaca-se a lira ao cimo do palco e, a ladear, duas esculturas de figuras femininas, uma negra e uma egípcia. Uma placa faz a alusão à ‘Fundição de Massarelos’, onde se produziu o restante bronze da decoração. O característico formato abaulado do palco, permite a amplificação da emissão de sons ao ar livre. A inauguração do ‘teatro-coreto’, como lhe chamava ‘O Primeiro de Janeiro’, foi feita em 10 de Junho de 1886. Para além da actuação de bandas filarmónicas, a burguesia oitocentista pode ali assistir a peças de teatro e recitais de índole cultural. Na foto ainda se pode admirar a intervenção da artista portuense RAFI die Erste (Teresa Rafael) no âmbito do “Natal no Porto com Muita Música”, onde a Concha Acústica foi o palco principal.

Mas não é só o Porto que tem belíssimos coretos. Poderia pôr os pedais ao caminho em romaria pelos arredores e visitar o fascinante Coreto de Canelas, passar pelos belíssimos coretos de Matosinhos, o do Jardim Basílio Teles e o da Igreja do Bom Jesus, ou até ir jantar ao Coreto da Maia, que agora é um restaurante. Mas Sua Alteza foi mais longe, à Póvoa de Varzim, e pousou o pedal na escadaria do deslumbrante Coreto da Praça do Almada.

  • Póvoa de Varzim

Inaugurado em 1905, dizem as crónicas com a actuação da Banda Povoense, o palco deste icónico coreto tornou-se no coração dinamizador da povoação, com actuações musicais, reuniões e discussões de índole variada. Edificado em dois níveis, o piso térreo em alvenaria é ocupado por instalações sanitárias, onde o acesso ao palco se faz por uma imponente escadaria. De gosto marcadamente romântico, planta hexagonal, segue uma tipologia Arte Nova, comum a algumas estruturas semelhantes, onde a harmoniosa cobertura em tom escuro e cercadura rendilhada o torna num dos mais belos coretos que conheço.

 
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