paulofski @ na bicicleta
Publicado em 12/11/2024 às 10:10
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Por estes dias, por estas noites, quem passa numa praça, avenida ou rotunda, quem simplesmente pedala pelo passeio, é envolvido e transportado pelo delicioso e persistente cheiro das castanhas a estalar nas brasas. É um aroma que cada português transporta desde a infância e que associa a momentos próprios desta época do ano. É um “cheirinho” que se liberta da carreta fumarenta e que nos invade inebriante as narinas. Irresistíveis e tostadas, as castanhas passam das mãos enegrecidas do assador para as nossas, envoltas num confortante cartucho de papel. Assim, muito boas e ainda quentinhas quando chegaram a casa, as castanhas deram calor e perfume às pedaladas. Só me faltou o copinho de jeropiga, que logo, logo, tratamos de a provar e as castanhas empurrar.
paulofski @ na bicicleta
Publicado em 26/09/2024 às 10:32
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Antes de entrar no tema que me traz de volta, devo reforçar a minha opinião pessoal sobre o aproveitamento da adaptação dos abandonados canais de linha ferroviária em vias pedonais e cicláveis. A forma como nas décadas de 80 e 90 do século passado foram encerradas muitas linhas de bitola estreita, meramente pelo quero, posso e mando político, sem dar cavaco aos interesses do povo, e que foi bastante prejudicial em termos sociais e económicos para as populações e para o comércio que do comboio se servia, foi crime de lesa pátria. Nesses anos os governos cavaquistas arrasaram por completo a maior parte das infraestruturas ferroviárias do país, argumentando com interesses economicistas, o que permitiu a delapidação do património ferroviário pelos interesseiros da clientela de pacotilha.
Evidentemente que seria necessária uma restruturação e modernização da rede ferroviária nacional face ao investimento e desenvolvimento de infraestruturas rodoviárias, associada à lentidão do comboio perante o concorrente rodoviário, mas temos de admitir que alguns encerramentos foram injustos e funestos para as populações, no combate à interioridade e no desenvolvimento económico dessas regiões. Parece haver agora alguma vontade política para reverter alguns desses erros e reabrir algumas linhas, como tem sido a eterna promessa de recolocar os carris, reconstruir as estações e apeadeiros degradados, abrir as pontes deixadas ao abandono, da antiga Linha do Douro, no troço entre o Pocinho e Barca d’Alva! Só que nada de concreto se tem feito.
O percurso da Ecopista do Tua, desenvolve-se pelo canal da antiga Linha Ferroviária do Tua, que em Foz-Tua fazia a ligação com a Linha do Douro e dali levava os passageiros em linha estreita para o interior transmontano. Em 1887 foi inaugurado o primeiro troço até Mirandela e em 1906 foram completados os seus 133 kms de extensão até Bragança. No seguimento dos encerramentos unilaterais de muitas linhas férreas deste país, em 1991 o troço entre Bragança e Mirandela foi definitivamente encerrado. Os carris e o material circundante foram sendo retirados, mesmo perante a oposição e os protestos das populações. Em 1995 foi reaberto o troço entre Mirandela e Carvalhais para o Metropolitano de Superfície, sendo a exploração do serviço de passageiros realizada pela empresa “Metro de Mirandela”, serviço que já foi desactivado. A circulação ferroviária manteve-se entre Mirandela e Foz-Tua, entrando sucessivamente em declínio, resultando em graves acidentes ocorridos entre 2007 e 2008. Os carris são então arrancados e é iniciada a construção da barragem de Foz-Tua, o que leva ao encerramento definitivo desta linha de comboios, considerada por muitos (infelizmente nunca a percorri) como uma das mais belas do mundo.
A reconversão em ecopistas, ecovias e ciclovias destes antigos canais ferroviários é uma forma dos municípios aproveitarem e preservarem parte deste património abandonado. O investimento para fins recreativos e turísticos permite ao novo utilizador conhecer o remanescente património paisagístico e arquitectónico das antigas linhas de comboio. Desta forma pode-se conhecer, ou recordar, quase à mesma velocidade das viagens do passado, o traçado serpenteante destes canais rasgados pela força do Homem. Contemplar paisagens magníficas sobre os vales escarpados dos rios. Conhecer a riqueza cultural, a natural e das populações. Visitar recantos deste património da humanidade entre socalcos e serras. Divulgar a cultura de um Portugal profundo e que era tão bem servido por este magnifico meio de transporte.
Nesta epopeia de três dias, o cicerone Manuel Couto e este que se fez convidado viajamos com as nossas companheiras de duas rodas no comboio Miradouro ao longo do rio Douro para, no Pocinho, iniciarmos a pedalada, tendo como destino final a pequena aldeia transmontana de Romeu. Ao invés da primeira vez que lá fui, e que percorremos de bicicleta o que resta da antiga Linha Ferroviária do Corgo entre a Régua e Vila-Real, desta vez aproveitando o asfalto da EN102, em lugar de reviver o gradual esplendor panorâmico da Ecopista do Sabor, encurtamos de sobremaneira a pedalada, sem, no entanto, acumularmos um bom esforço para lá chegar.
O primeiro contacto que tive com a ciclovia da antiga Linha do Tua foi no curto troço asfaltado dentro da cidade de Macedo de Cavaleiros. No centro, a antiga estação foi remodelada e reparei no cuidado que tiveram em construir uma espécie de “estação de serviço” para os ciclistas, com biciparques, ponto de carregamento para e-bikes e uma estação para lavagem e pequenas reparações. Ponto negativo que tenho a apontar são os inúteis balizamentos existentes ao longo da ciclovia. Certamente que estruturas deste tipo se justificam para a segurança dos ciclistas, sobretudo no cruzamento com as estradas, mas no caso, muitas delas não se justificam e só dificultam a passagem dos ciclistas, especialmente aqueles que viajam em modo bikepacking com alforges laterais nas bicicletas. Depois, o ciclista mais afoito para evitar entrar nestas “ratoeiras” passa à volta em algumas delas!
Após o jantar, e de iluminação ligada pela estrada afora, fomos dormir a Romeu para continuarmos a jornada no dia seguinte.
(aqui o registo “stravico” da jornada)
Antes de darmos ao pedal, juntou-se o Joel e assim se formou um trio ciclocurioso, um numa bêtêtê pura, outro numa espécie de motocross a pilhas e eu numa aspirante a gravel bike e que se fez grande. Seguindo a primeira sugestão do Couto, fomos revisitar e dar a conhecer ao Joel as memórias de Clemente Menéres, industrial portuense que nos finais do século XIX revolucionou a região, especialmente na exploração da cortiça. Abandonámos as bicicletas no mato e subimos a fraga granítica onde se tem um dislumbre mágico da Natureza envolvente.
Pelo caminho confirmou-se estar aberto à circulação o ultimo troço recuperado do antigo canal ferroviário da Linha do Tua e assim se decidiu rumar a Macedo de Cavaleiros. O traçado em gravilha está inserido na mata do Quadrassal, uma extensa mancha natural de sobreiros e bosques de sobreiro e zimbro. Território integrado na Rede Natura 2000, uma área protegida tutelada pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que abrange a União de Freguesias de Avantos e Romeu, as freguesias de Cedães e de Vale de Asnes, no concelho de Mirandela, e a freguesia de Cortiços, no concelho de Macedo de Cavaleiros.
Depois de um reforço calórico decidimos ir pedalar junto às calmas águas da Albufeira do Azibo, por um trilho suave, local de grande beleza e importância turística, mas sobretudo ecológica. Depressa chegamos à famosa praia fluvial, onde nos detivemos para um bom almoço e dali traçarmos os objectivos para o resto do dia, antes do regresso à aldeia de Romeu para o repasto no Restaurante Maria Rita.
Ficou logo decidido que iriamos fazer o trilho em “loop” de 25km à volta da albufeira, mas ainda antes dessa aventura, e para se fazer uma boa digestão, demos uma saltada a Podence para algumas tropelias. A aldeia estava muito mais calma, tendo em conta a última vez que por lá andei, e depois de umas fotos e explorações, os caretos não quiseram saber de nós, e nós descemos de novo à praia, para o inevitável mergulho antes da boa da suadela.
Ainda envolvidos pela serenidade das águas azuis da albufeira e pelas margens arborizadas que a rodeiam, aos poucos a rota tornou-se desafiante. O trilho sai das margens e à passagem junto à aldeia de Santa Combinha dá-se o inicio a um sobe e desce sem misericórdia. A minha Maneirinha não se fez rogada, nem aos declives e muito menos ao terreno inóspito para uma bicicleta com pneus de 30mm! Claro que, para o meu bem-estar físico, respeitei o terreno e apeei nos pontos mais complicados do percurso, especialmente quando tinha demasiada areia e pedras soltas.
À medida que fomos explorando uma das joias naturais de Portugal, deixamos de vislumbrar as águas e ficamos embrenhados pela mata de sobreiros, pela solidão e pela vida selvagem. Consultando o traçado no GPS, mergulhados na beleza da natureza e desfrutando de vistas deslumbrantes, descemos de novo à tranquilidade das águas da albufeira e a um céu repleto de nuvens lenticulares. Por alturas da barragem do Azibo seguimos por estrada para Vale da Porca, onde após um lanchinho e pedalada mais rápida, junto ao antigo apeadeiro de Castelãos retomamos o alcatrão da Ecopista. Deste local em diante, na direcção de Bragança, o antigo troço da Linha do Tua permanece abandonada e à espera da reconversão. Recolocamos os pneus no asfalto da ciclovia e mais à frente a terra batida da Ecopista em direcção a Romeu.
Definitivamente esta rota é perfeita para caminhantes e amantes da natureza, para o lazer de um dia em família, para ciclistas de todos os níveis de habilidade usufruírem de uma experiência agradável, que tanto pode ser um passeio tranquilo ou uma aventura deslumbrante.
(aqui o registo “stravico” da jornada)
No terceiro dia da nossa jornada, com o bacalhau do Maria Rita bem digerido mas com a mousse de chocolate com azeite ainda no pensamento, arrumadas as trouxas fizemo-nos à estrada e retomamos o troço de Ecopista que ainda faltava percorrer, de Romeu para Mirandela. Antes disso, o Couto levou-me a um dos pontos altos da, também conhecida como, aldeia das rosas: o Santuário de Nossa Senhora de Jerusalém, pequena capela rodeada de olivais e que fica bem no alto, de onde se pode desfrutar de uma paisagem sublime.
A história de Jerusalém do Romeu está intimamente ligada à história da família Menéres, ao fundador e descendentes que aqui investiram na agricultura e criaram postos de trabalho e condições à fixação dos seus trabalhadores e famílias. O fundador Clemente Menéres foi também o grande impulsionador da construção do caminho de ferro, principalmente para o escoamento da cortiça. Velho edifícios, como a antiga escola primária, os armazéns da Quinta do Romeu e a abandonada estação de comboios, são construções que resistiram ao tempo e preservam o passado. Outro local de muita e surpreendente história, que juntamente com o Restaurante Maria Rita atraia visitantes, era o Museu das Curiosidades, que duplamente tive a oportunidade de visitar mas que infelizmente foi encerrado.
Passada a antiga passagem de nível, onde se atravessa a EN15, uns metros mais à frente, temos a primeira interrupção na progressão pela Ecopista. A antiga ponte ferroviária de Jerusalém do Romeu ainda não foi restaurada, fazendo com que para se retomar a pista da outra banda do vale, o cicloturista ter de fazer um pequeno desvio, primeiro com uma suave descida, para, posteriormente, enfrentar a correspondente e exigente subida.
A partir deste ponto da Ecopista, a paisagem muda radicalmente, fazendo com o que o ciclista cruze terrenos agrícolas e vinhedos. O trilho segue ao lado da estrada nacional até que, após passar ao lado da povoação de Vale de Lerda, volta a ver interrompida a passagem por outra ponte ferroviária com a data de restauro em suspenso. Novo desvio e novo cruzamento numa desactivada passagem de nível, a Ecopista da extinta Linha do Tua segue agora a EN15 pela berma esquerda até ao cruzamento/rotunda para Carvalhais. A partir deste ponto para se entrar em Mirandela o ciclista poderá recorrer às faixas cicláveis desenhadas no asfalto, enquanto pode ir observando o troço agora abandonado do antigo Metro de Mirandela até à estação de comboios no centro da cidade.
Preparados para forrar os estômagos com o tradicional rancho à transmontana, com os bilhetes comprados para o autocarro das 18 e tal, fomos de barriga cheia fazer uma sesta para a relva refrescante da praia fluvial de Mirandela. Entretanto, e na incerteza quanto às exigências de transporte de bicicletas pelas transportadoras rodoviárias diz respeito, fizemos uma tourné ciclística pela cidade, visitando lojas dos chineses à procura dos maiores sacos de lixo do mercado. À hora marcada, na estação rodoviária, chegava o autocarro da FlixBus proveniente de Bragança e com destino ao Porto, abordamos o simpático motorista que, exibindo a sua proeminente barriguita, nos convidou a colocar as bicicletas sem requisitos no porão do autocarro. Depois disse-nos que também ele, em tempos, havia pedalado bicicletas!
(aqui o registo “stravico” da jornada)
Obrigado pelo convite amigo Couto. Venha a proxima aventura.
paulofski @ na bicicleta
Publicado em 21/08/2024 às 13:57
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A proporção de bicicletas que possuímos é, como todos sabemos, N + 1, onde N é o número de bicicletas que temos e o +1 é aquela que sonhamos vir a ter. A simples troca de bicla não se aplica aqui.
Esta ânsia de encontrar uma boa justificação para ter mais uma bicicleta é evidente na mente da maioria dos ciclistas.
Longe vão os dias quando uma bicicleta servia para todas as ocasiões. Usada e abusada, no processso de aprendizagem, nas voltinhas ao bairro com os amigos, compartilhada entre os irmãos, passada de pais para filhos.
Hoje em dia o mercado é cada vez mais variado e as bicicletas são mais especializadas, criadas de acordo com algo mais específico e que supostamente necessitamos. Agora não é tanto o caso de nos adaptarmos a elas, mas escolher a “máquina” que melhor se adequa à necessidade do utilizador.
Há uma bicicleta certa para cada função, seja para um trilho de cascalho, estradão enlameado, para utilização urbana ou rodar por longas horas em alcatrão lisinho. A bicicleta é escolhida especificamente para dar o melhor rendimento ao exercício que desejamos, à segurança, ao ritmo e finalidade da pedalada.
As marcas e designers vêm nisto do N + 1 uma boa razão para manter activas as necessidades e sobretudo os caprichos individuais. É um desafio permanente de evolução tecnológica, que acontece bem na frente dos nossos olhos e que estimula querer o mais sofisticado. O mercado faz o seu papel no incentivo para o “upgrade”, reforçando o desejo de expandirmos horizontes e tentarmos algo diferente.
“Qual será a tua próxima bicicleta?” É quase certo que a resposta esperada é “o último modelo”, mas uma coisa é o que queremos e outra é o que podemos ter. O factor económico é preponderante e na mente do pretendente, para fazer novo investimento só precisa se certificar junto da sua “cara metade”. Ou então não, e parte destemido para o elemento surpresa. “Querida…”
No “parque velocipédico” lá de casa tenho uma Del Sol LXi comprada em 2003 na ETIEL, aka Ciclo Coimbrões. De acordo com as especificações da minha “cara metade”, esta bicla de alumínio, tipo beach cruiser, fê-la voltar ao selim e durante alguns anos a acompanhar-me em passeios à beira-mar, até que um tal de síndrome vertiginoso apareceu e obrigou-a a pôr termo às pedaladas.
Ficou guardada, sendo oportunamente adoptada pelo herdeiro e que o ajudou a fortalecer tanto o seu crescimento bem como a desenvoltura das suas pedaladas recreativas / escolares. Entretanto o rapaz botou os olhinhos em algo mais cross e mais trail, e a velha bina voltou para o banco de suplentes.
A Maria Del Sol é uma ótima bicicleta e fui incapaz de me desfazer dela. Aproveitei as suas potencialidades para a tornar numa espécie de rain cruiser, sobretudo para ser usada nas minhas pedaladas “commutianas” diluvianas. Com pneus mais largos e guarda-lamas à maneira, um resistente porta-couves a apoiar um volumoso par de alforges, inevitavelmente ficou muito mais pesada, mas a lentidão da pedalada nunca me desencorajou a investir nela, sobretudo em calços de travão.
Depois de vários anos e quilómetros de bons serviços estava a pedir nova manutenção geral. A idade, a dela e a minha, começavam a pesar, e assim que me deparei com este modelo “Roadlite CF8” da Canyon, achei que seria uma boa oportunidade para a Maria Del Sol passar à reforma.
As dúvidas em comprar uma bicicleta via online eram bastantes, no entanto foram sendo afastadas com a ajuda da competente assistência de comunicação com a marca, bem como no processo de compra e posterior envio e preparação da bicicleta.
Especialmente estimulado pelo preço promocional, pelas características híbridas desta fitness bike, depois de muito pesquisar e matutar mandei-a vir, sem sequer a ter experimentado. Segundo os critérios da marca, estando eu na fronteira de tamanhos entre um XS e um S, veio o XS, não só porque era o único tamanho disponível, mas no que diz respeito ao quadro de bicicleta, o mais pequeno torna-se sempre mais fácil de configurar para o nosso corpo acomodar.
Assim que chegou o caixote, a desembalei e montei, permiti que fosse o herdeiro a dar-lhe os primeiros giros dos pedais. Muitos minutos depois o Rafa lá voltou e o seu entusiasmo era por demais evidente: “Pai, posso ficar com ela?” Eh pá!… Parece que acertei nisto!
Não sabia bem o que esperar quando, pela primeira vez, passei a perna sobre a esta pequena máquina. Pensada para uma utilização sobretudo urbana, para circular em todas as condições climatéricas, a Roadlite CF8 é, ao fim e ao cabo, uma bicicleta de estrada, leve e rápida que, por acaso, tem um guiador plano em vez do dropbar tradicional. A geometria do esbelto quadro e dos periféricos em carbono, fornecem um excelente comportamento e o ajuste que se espera de uma “estradeira” de alto desempenho.
O prato único de 46 dentes é suficiente e competente na transmissão de potência ao SRAM NX Eagle. A simplicidade mecânica do escalonamento das 12 velocidades, do 11 aos 50 e vice-versa, é bastante rápido e suave. Com facilidade se trocam as velocidades, não comprometendo a eficácia e o desempenho em relação a uma transmissão tradicional, o que oferece maior amplitude de andamentos, especialmente para ajudar as pernas nas subidas mais íngremes.
Os travões de disco eram uma novidade para mim. Não sendo topo de gama, são hidráulicos, dando-me a garantia e confiança necessária que exercem cabalmente a sua função, especialmente nas pedaladas à chuva. As rodas 650b que a Canyon equipou neste modelo, tornam esta bicicleta ainda mais manobrável e eficiente. Os pneus tubeless de 30mm, G-One Speed da Schwalbe, são excelentes para uma pedalada eficaz na estrada, confortável no paralelo, sem sacrificar a tracção em estradões de terra e gravilha. Os originais guarda-lamas para o inverno também vieram e que nela serão instalados no devido tempo.
O guiador plano acrescenta um nível de conforto e versatilidade para as pedaladas urbanas que é difícil de encontrar numa bicicleta de estrada convencional. A posição de condução facilita o equilíbrio e desempenho sem sacrificar a velocidade. A estabilidade e a manobrabilidade, tornam a Roadlite bastante versátil nas deslocações diárias, na disputa com o trânsito na hora de ponta, já para não falar da simples alegria de percorrer estradas rurais tranquilas ou caminhos de cabras pela Natureza.
Desde há coisa de um mês aos comandos desta minha ultima aquisição, só agora faço a sua apresentação e o relatório de boas vindas porque, para além das rotineiras voltas diárias pela cidade e arredores, esperei para fazer um longo e completo test ride à Maneirinha, como lhe chamo.
No passado feriado acompanhei um grupo de amigos em parte dos caminhos de Santiago pela costa portuguesa, para depois fazer o consequente regresso por asfaltadas estradas interiores. Esta voltinha proporcionou fazer uma completa e exigente rodagem em diferentes tipos de terreno, numa distância considerável. Resumidamente, a bicicleta teve nota positiva com distinção.
A direção rápida e estável torna mais agradável percorrer sinuosas estradas rurais e contornar curvas apertadas, bem como nos trilhos de gravilha e areia. Pedalar com uma pressão pneumática mais baixa permite receber todo o conforto e segurança dos pneus, seja no paralelo mais manhoso, seja no fofinho asfalto. Aprecei bastante a leveza do conjunto, especialmente quando fui obrigado a carrega-la em ombros pela praia. Nunca me imaginei subir com desenvoltura a ingreme e agressiva Rua do Ferraz e a resposta rápida à força nos pedais foi brutal. Também apreciei o guiador plano e a posição um pouco mais vertical que desfruto aos comandos da bina, o que ajuda a gerir e melhorar a postura, tornando mais fácil manter-me atento ao trânsito à minha volta, sobretudo quando cruzamos alguns centros urbanos.
O selim é definitivamente o ponto fraco da bicicleta. Sofrível para os commutes curtos, é absolutamente desconfortável para o rabo suportar as longas horas a pedal. Valeu-me a carneira dos calções! Este é porventura o único componente que definitivamente será substituído num futuro próximo.
Concluindo. Gosto bastante da versatilidade da Maneirinha e tenho a certeza que foi uma excelente aquisição para o parque velocipédico lá de casa. Embora não pense trocar nenhuma das outras minhas beldades pedaláveis, Sua Alteza, a gOrka, a bamBina, por uma bicicleta de plástico carbono, que não é uma coisa nem outra, mas tudo numa bicla só, é fácil perceber a afeição que ganhei por esta biclazinha.
Maneirinha, uma bicla à maneira
Publicado em 18/10/2021 às 23:22
Temas: bikepacking review
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A Triban no Gerês |
Comprei a minha Triban quase por impulso, em Novembro de 2019, quando em casa moravam já outras duas bicicletas de estrada. Estes modelos eram algo peculiares: uma Surly Long Haul Trucker, a bicicleta mais confortável em que já rolei, e uma velhinha Raleigh inglesa dos anos oitenta, que eu usava sobretudo para fins utilitários.
A minha antiga Surly |
O que eu procurava, já há algum tempo, era um modelo que permitisse substituir todas as outras bicicletas (as duas já citadas e uma BTT). A elusiva bicicleta única, que fosse capaz de fazer estrada a sério, viagens de longa distância, com carga, BTT em eventos e passeios, uso utilitário, e tudo o mais que se me ocorresse. E que fizesse tudo isto com alguma competitividade, que me permitisse participar ocasionalmente em eventos. Bem sei que não é pedir pouco, para mais de um modelo "económico".
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A Triban com todos os componentes de origem |
A escolha da Triban foi motivada, se for sincero, sobretudo pelo preço aliciante, tendo em conta tudo o que oferecia. Mas pareceu-me na altura uma solução de compromisso, já que eu considerava que a Decathlon tinha sido um pouco preguiçosa e simplesmente mudado o nome e a pintura a um dos seus quadros de estrada. Era apenas uma estratégia para a marca ter um producto que lhe permitisse concorrer no mercado na área então muito na moda, o "Gravel".
Bom, isso não deixa de ser um facto: trata-se de uma bicicleta de estrada, com algumas alterações, mas eu estava enganado. Para mim esta escolha veio a revelar-se extremamente acertada, e embora a bicicleta tenha certamente limitações, é difícil para mim ver alternativas viáveis neste momento. Vamos ver o que está em causa. (Nota: não tenho nenhuma ligação com a Decathlon e estas opiniões são minhas apenas).
Quadro: Para mim carbono estava fora de questão, por causa do uso para viagens longas em autonomia e o uso de bolsas de bikepacking. Os danos por atrito dos sacos ou numa queda são um risco demasiado grande. Aço e Titânio são materiais interessantes e esteticamente mais apelativos, mas mais caros e também pesados. Por isso alumínio acaba por ser uma boa escolha. O peso neste caso é apenas aceitável (os números estão no site). A surpresa veio da geometria. Eu tinha estudado a tabela e sabia que o quadro é exactamente o mesmo da gama de estrada. Portanto trata-se de um quadro "barato" de Endurance, com uma testa alta e uma posição pouco agressiva. Isso é ideal para longas distâncias e muitas horas no selim, e a geometria veio a revelar-se muito adequada para a minha fisionomia, depois de alguns ajustes. Eu não tenho muita flexibilidade natural e a minha postura não é muito agressiva. A bicicleta é muito estável em qualquer circunstância, mas mantém a capacidade de reacção e aceleração de uma bicicleta de estrada, que uma bicicleta de viagem (touring) não tem. E fora de estrada só em BTT mais sério perde a compostura, como seria inevitável.
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Cassete, corrente e pedaleiro alterados |
Grupo: A Triban vinha com um grupo Shimano 105 R7000 quase completo. Apenas a pedaleira era uma Shimano compacta de 11 velocidades, mas sem grupo, um pouco mais pesada que a 105 equivalente. Aqui eu achava que era mais uma das situações em que a Decathlon tinha feito a coisa mal, a cassete 11-32 (não Shimano) era demasiado pequena, e pensava na altura que a bicicleta deveria vir com um pedaleiro sub-compacto e talvez com um grupo GRX. A verdade é que esta mania da super-especialização dos componentes é muitas vezes exagerada. A transmissão não se desfaz se apanhar poeira por ser um grupo de estrada. O desviador Shimano 105 não é muito diferente de um Deore, as correntes e cassetes são aliás idênticas em vários grupos de estrada e BTT da Shimano, pelo que o desempenho fora de estrada não compromete. Já as relações de transmissão são claramente mais pensadas para o asfalto. Para rolar com peso extra e/ou fora de estrada (como sucede em bikepacking), optei por colocar uma pedaleira Miche 46-30 e uma cassete Shimano 105 maior, 11-34. Mesmo assim, eu agora reconheço que para um uso maioritariamente de estrada, a bicicleta vinha com um bom mix de peças. De tal forma que recentemente voltei a usar a cassete de 32 dentes original, para beneficiar de relações mais próximas entre si.
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Os travões facilmente se ressentem com o pó |
Travões: Os travões TRP mecânico-hidráulicos permitem casar um grupo totalmente mecânico, mais barato, nestes caso os shifters Shimano 105 R7000, com o modulação e sensações de um travão hidráulico. E a verdade é que funciona. Esteticamente é uma desgraça, mas funciona. Eu travo só com um dedo a maior parte das vezes. E a sensação de controlo é sempre boa. Há que notar contudo que estes travões estão mais à vontade em estrada, basta um pouco de pó para começar a haver vibrações e perdas de potência na travagem, quando em uso em gravilha ou terra. E só depois de uma limpeza cuidadosa é possível voltar a ter uma boa performance.
Guiador 44, mais estreito |
Periféricos: Não posso falar muito destas coisas, porque foi quase tudo substituído rapidamente. O guiador era demasiado largo, o meu quadro XL vinha com guiador de 46cm, com um desenho de drops com que eu não me identifiquei. Troquei por um simples FSA de gravel, abertura a 12º, de tamanho 44. Apesar de mais pequeno ainda permitia o uso de sacos de bikepaking. O avanço de 120cm foi trocado por um de 80, para afinar a posição na bicicleta. Muitas bicicletas de gravel modernas são desenhadas para avanços curtos, e neste caso a adaptação foi natural. Sim, ao princípio eu também achei que era muito curto, mas fez maravilhas pela postura e pelo controlo da bicicleta. Mudei também o selim, por outro muito semelhante, e o espigão do selim, por estética e peso.
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No Porto! |
Rodas & Pneus: Usei pouco as rodas. Eram robustas e não deram problemas, lembro-me que os cubos pareciam bastante bons para esta gama de preços. Foram trocadas por umas DT Swiss, para perder umas gramas. Os pneus Hutchinson Overide de 35mm são excelentes. Têm uma aderência teimosa e salvaram-me o pelo em mais de uma ocasião. Permitem aventuras fora de estrada que a sua diminuta largura não deixa prever. E em estrada rolam muito bem. Há melhor e mais leve (e mais caro), mas não muito. Quando comprei a bicicleta achei que os pneus eram mais um compromisso, agora acho que são um excelente compromisso! Actualmente monto pneus de 38mm, a marca só recomenda até 36, mas a verdade é que cabem 40mm se fizer falta. Mas penso voltar aos 35mm quando surgir a oportunidade, julgo que é o melhor equilíbrio estrada-gravel e a marca voltou a acertar neste aspecto.
Dois anos depois, dois Tróia-Sagres, uma volta a Portugal de várias semanas em autonomia, uma viagem a Madrid, o caminho de Fátima, uma subida à serra da Estrela, e muitas aventuras mais pequenas pelo meio depois, a Triban provou que não é só um modelo barato feito à pressa para seduzir os adeptos da "moda" do gravel. Não se deixem enganar pelas soldaduras mais abrutalhadas, nem pela palavra "Decathlon" na testa do quadro, a bicicleta foi bem pensada, o desempenho nunca compromete e tem alma para tudo o que se propuserem fazer com ela.
Set-up recente, na Serra da Estrela |
O facto de custar menos um terço ou metade dos modelos da concorrência também não é propriamente mau. Actualmente há vários modelos e cores disponíveis, baseados no mesmo quadro, que, consta, é fabricado em Portugal (o meu, especificamente, diz "made in France"). É possível também comprar um dos modelos de estrada da gama 520 e depois adaptar a um uso mais polivalente, já que o quadro é idêntico, mudando a pintura e a selecção de componentes.
Não tenho actualmente nenhuma outra bicicleta, nem sinto falta de nada. Sei que não é solução para toda a gente, o meu uso tem sido muito lúdico e mais estradista, ultimamente. Mas é inegável que esta proposta low-cost permite acceder a um inesgotável mundo de aventuras, cujos limites não serão impostos pela bicicleta.
Publicado em 23/07/2021 às 0:20
Temas: bikepacking viagem
Caramelos? |
Decidido a evitar mais apertões de calor e surpresas tardias na jornada, na manhã do quarto dia levantei o rabo da cama o mais cedo que consegui. Tomei o pequeno almoço, incluído na estadia, tão cedo quanto era permitido e fiz-me à estrada. Desta vez tinha alojamento reservado, e estava decidido a ter um dia diferente. Para minha surpresa consegui mesmo fazer a navegação para fora da zona urbana de Trujillo sem percalços. Normalmente o meu GPS não permite esses luxos, mas naquela manhã tudo corria sobre rodas.
Rumo a Este, como sempre |
É claro que esta bonanza não poderia ser duradoura. Depressa percebi que a altimetria para a jornada era mais desafiante que nos dias anteriores. E o que não mudava contudo, era a temperatura elevada, e as grandes distâncias entre terras, amplos espaços onde não havia nenhuma possibilidade de descanso, refugio do Sol ou reabastecimento. O Deserto Espanhol, como lhe chamam alguns Portugueses de passagem, a caminho de destinos mais populares na Península Ibérica, faz jus ao seu nome.
Olha, montanhas! |
A manhã foi gasta a deambular por estradas de montanha, a ritmos muito lentos, enquanto a temperatura ia aumentado, até ficar intolerável. Continuava a não haver sombras para parar, nem lugares onde obter água ou comida. O desgaste era grande e o moral da expedição ia descendo ao ritmo que desciam também as reservas de líquidos disponíveis a bordo. Começava a ficar claro que, mais uma vez, não ia conseguir arrumar a etapa a tempo de evitar o calor infernal da tarde, no Deserto Espanhol.
As coisas não são fáceis no deserto |
Umas bombas de gasolina foram a minha salvação. Estava a ficar viciado em Aquarius, a coisa mais parecida a uma bebida energética que era possível encontrar em quase todos os postos de abastecimento de combustíveis. Eventualmente a estrada "alisou", depois de uma longa descida, onde cheguei a passar dos 75km/h. Tinha voltado a ficar sem almoço pois não encontrei nada pelo caminho na hora apropriada, estava a ficar frito pelo Sol, mas sabia que já estava perto do destino.
Sombra! Para a bicicleta... |
Eu claramente já estava acusar o desgaste do calor, do esforço e da falta de comida. Foi neste estado que rolei até um cruzamento onde a estrada em que eu estava continuava para Oeste, coisa que não me interessava nada. Eu tinha que virar para Este, no sentido de Talavera de la Reina e Madrid. A minha dormida para a noite era em Oropesa, uma cidade a meio caminho. Rolar no sentido contrário era andar para trás,
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O dilema |
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O percurso que eu fiz |
O caminho para "casa" |
Vista à chegada a Oropesa |
Publicado em 23/07/2021 às 0:07
Temas: bikepacking viagem
Dois ursos e uma bicicleta |
Puerta del Sol |
Calle Preciados |
E uma estátua de corvos em Lisboa? |
A velha Madrid |
O céu limpo deu lugar a nuvens sinistras |
Para Norte! |
Percebem? |
A coisa promete! |
Na paragem do BUS |
Dia 7. Madrid-Manzanares el Real. 49km. (Estrada/Ciclovia)
Publicado em 19/07/2021 às 1:10
Temas: bikepacking viagem
Caramelos? |
Na berma da via rápida em obras |
Rumo a Madrid! |
Ciclovias de luxo |
Madrid?? |
Hum... |
Sim, é uma lixeira numa estrada abandonada |
Madrid! |
Vista de quarto |
Bicicleta no quarto #4 |
Publicado em 18/07/2021 às 20:49
Temas: bikepacking viagem
What? Nunca comeram feijoada na cama? |
Não chego a articular a minha resposta, que antevejo ser hilariante e charmosa, pois há um crescente som irritante que monopoliza a minha atenção. Não percebo de onde vem, mas parece conhecido... Instintivamente, silencio o alarme do telemóvel e levo alguns segundos a reconhecer o que me rodeia. São seis da manhã e ainda está escuro lá fora. Acendo a luz e levanto-me a custo da cama. Esforço-me por recordar que estou numa casa rural em Oropesa, uma pequena terra da província de Toledo, bem no meio do Grande Deserto Espanhol.
Arrasto-me para o WC, mas as pernas pesam-me como dois marcos dos descobrimentos, e tenho o equilíbrio de um marujo bêbado recém regressado da carreira da India. Tenho muita sede, embora me lembre de me ter hidratado bem a noite anterior. Lavo os dentes e constato que, de alguma forma, tenho a boca cheia de sangue seco. A próxima etapa da minha higiene matinal não é mais animadora: pelo quarto dia consecutivo, a minha urina é da cor de Earl Grey. Saio da casa de banho a murmurar alguma coisa sobre "isso não deve ser bom". Ao lado da janela aberta, repousa o Dentuça. O seu olhar parece questionar: "O que é que estamos a fazer?"
#3 Bicicleta cá dentro |
Habitual reabastecimento num posto de combustível |
Sombras e bancos! Foi a única vez que vi tal coisa! |
Mais um dia no deserto |
Publicado em 15/07/2021 às 23:34
Temas: bikepacking viagem
Trujillo! |
Rolando no Grande Deserto Espanhol |
A Autovía A-58 |
A paisagem rumo a La Aldea del Obispo |
Hora do Almoço |
Trujillo! |
As gentes de Trujillo... |
Bicicleta no quarto #2 |
Dia 3. Aliseda-Trujillo. 127km. (Estrada)
Publicado em 15/07/2021 às 13:41
Temas: bikepacking viagem
Caramelos? |
Gostava de dizer que acordei rejuvenescido depois de uma boa noite de sono, mas no mundo real, as coisas nem sempre funcionam assim. Sendo certo que tive direito a umas oito horas de descanso, a verdade é que acordei a sentir-me letárgico, completamente sem energia. Parecia claro que o corpo ainda acusava o esforço do dia anterior.
A vastidão do Alentejo |
Tudo preparado. Tudo menos eu! |
Sim, esta é a fronteira! |
A estrada para Aliseda |
Bicicleta no quarto #1 |
Camas separadas! |
Dia 2. Esperança-Aliseda. 69km. (Estrada)