can’t miss [234] https://expresso.pt/sociedade

paulofski @ na bicicleta

Publicado em 26/06/2023 às 14:37

Temas: can't miss it 1 carro a menos a gloriosa bicicleta Aveiro à moda antiga bicicleta bike to work ciclismo urbano cicloficina coisas que leio economia da bicicleta meios de transporte mobilidade motivação Murtosa no feminino outras coisas pasteleiras e vintageiras

Alcina nunca conduziu, mas pedala desde “canalha” e não imagina a vida de outra forma: na Murtosa, a bicicleta é a rainha da estrada

Continua a ser o concelho onde mais se pedala. Mulheres são a maioria

Quinta-feira é dia de mercado e as senhoras de mais idade vêm todas logo cedo pela manhã até à vila. Muitas chegam a pedalar e, ainda antes de irem às compras, aproveitam para deixar as bicicletas à porta da cicloficina de José Pedro, que fica logo com o dia arrumado com tantos pedidos. Para se despacharem, têm o hábito de deixarem no cesto da bicicleta o recado com o que precisam: um remendo num pneu, uma câmara de ar ou um jeito nos travões. Algumas pedalam há mais de 50 anos, quer para fazer compras, carregando os sacos no guiador e no cesto, quer para trabalhar ou passear, perpetuando a fama da Murtosa como o concelho onde mais se anda de bicicleta.

[…]

O artigo é exclusivo para assinantes, mas se quiseres espreitá-lo aqui:

https://expresso.pt/sociedade/2023-06-25-Alcina-nunca-conduziu-mas-pedala-desde-canalha-e-nao-imagina-a-vida-de-outra-forma-na-Murtosa-a-bicicleta-e-a-rainha-da-estrada-8cb61ab8#Echobox=1687721899

 

Triban RC520 Gravel - Uma Review

@ Lisboa Bike

Publicado em 18/10/2021 às 23:22

Temas: bikepacking review

A Triban no Gerês 

Comprei a minha Triban quase por impulso, em Novembro de 2019, quando em casa moravam já outras duas bicicletas de estrada. Estes modelos eram algo peculiares: uma Surly Long Haul Trucker, a bicicleta mais confortável em que já rolei, e uma velhinha Raleigh inglesa dos anos oitenta, que eu usava sobretudo para fins utilitários.


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A minha antiga Surly 


O que eu procurava, já há algum tempo, era um modelo que permitisse substituir todas as outras bicicletas (as duas já citadas e uma BTT). A elusiva bicicleta única, que fosse capaz de fazer estrada a sério, viagens de longa distância, com carga, BTT em eventos e passeios, uso utilitário, e tudo o mais que se me ocorresse. E que fizesse tudo isto com alguma competitividade, que me permitisse participar ocasionalmente em eventos. Bem sei que não é pedir pouco, para mais de um modelo "económico". 


A Triban com todos os componentes de origem


A escolha da Triban foi motivada, se for sincero, sobretudo pelo preço aliciante, tendo em conta tudo o que oferecia. Mas pareceu-me na altura uma solução de compromisso, já que eu considerava que a Decathlon tinha sido um pouco preguiçosa e simplesmente mudado o nome e a pintura a um dos seus quadros de estrada. Era apenas uma estratégia para a marca ter um producto que lhe permitisse concorrer no mercado na área então muito na moda, o "Gravel".

Bom, isso não deixa de ser um facto: trata-se de uma bicicleta de estrada, com algumas alterações, mas eu estava enganado. Para mim esta escolha veio a revelar-se extremamente acertada, e embora a bicicleta tenha certamente limitações, é difícil para mim ver alternativas viáveis neste momento. Vamos ver o que está em causa. (Nota: não tenho nenhuma ligação com a Decathlon e estas opiniões são minhas apenas).

Quadro: Para mim carbono estava fora de questão, por causa do uso para viagens longas em autonomia e o uso de bolsas de bikepacking. Os danos por atrito dos sacos ou numa queda são um risco demasiado grande. Aço e Titânio são materiais interessantes e esteticamente mais apelativos, mas mais caros e também pesados. Por isso alumínio acaba por ser uma boa escolha. O peso neste caso é apenas aceitável (os números estão no site). A surpresa veio da geometria. Eu tinha estudado a tabela e sabia que o quadro é exactamente o mesmo da gama de estrada. Portanto trata-se de um quadro "barato" de Endurance, com uma testa alta e uma posição pouco agressiva. Isso é ideal para longas distâncias e muitas horas no selim, e a geometria veio a revelar-se muito adequada para a minha fisionomia, depois de alguns ajustes. Eu não tenho muita flexibilidade natural e a minha postura não é muito agressiva. A bicicleta é muito estável em qualquer circunstância, mas mantém a capacidade de reacção e aceleração de uma bicicleta de estrada, que uma bicicleta de viagem (touring) não tem. E fora de estrada só em BTT mais sério perde a compostura, como seria inevitável. 


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Cassete, corrente e pedaleiro alterados


Grupo: A Triban vinha com um grupo Shimano 105 R7000 quase completo. Apenas a pedaleira era uma Shimano compacta de 11 velocidades, mas sem grupo, um pouco mais pesada que a 105 equivalente. Aqui eu achava que era mais uma das situações em que a Decathlon tinha feito a coisa mal, a cassete 11-32 (não Shimano) era demasiado pequena, e pensava na altura que a bicicleta deveria vir com um pedaleiro sub-compacto e talvez com um grupo GRX. A verdade é que esta mania da super-especialização dos componentes é muitas vezes exagerada. A transmissão não se desfaz se apanhar poeira por ser um grupo de estrada. O desviador Shimano 105 não é muito diferente de um Deore, as correntes e cassetes são aliás idênticas em vários grupos de estrada e BTT da Shimano, pelo que o desempenho fora de estrada não compromete. Já as relações de transmissão são claramente mais pensadas para o asfalto. Para rolar com peso extra e/ou fora de estrada (como sucede em bikepacking), optei por colocar uma pedaleira Miche 46-30 e uma cassete Shimano 105 maior, 11-34. Mesmo assim, eu agora reconheço que para um uso maioritariamente de estrada, a bicicleta vinha com um bom mix de peças. De tal forma que recentemente voltei a usar a cassete de 32 dentes original, para beneficiar de relações mais próximas entre si.    

 

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Os travões facilmente se ressentem com o pó


Travões: Os travões TRP mecânico-hidráulicos permitem casar um grupo totalmente mecânico, mais barato, nestes caso os shifters Shimano 105 R7000, com o modulação e sensações de um travão hidráulico. E a verdade é que funciona. Esteticamente é uma desgraça, mas funciona. Eu travo só com um dedo a maior parte das vezes. E a sensação de controlo é sempre boa. Há que notar contudo que estes travões estão mais à vontade em estrada, basta um pouco de pó para começar a haver vibrações e perdas de potência na travagem, quando em uso em gravilha ou terra. E só depois de uma limpeza cuidadosa é possível voltar a ter uma boa performance. 


Guiador 44, mais estreito


Periféricos: Não posso falar muito destas coisas, porque foi quase tudo substituído rapidamente. O guiador era demasiado largo, o meu quadro XL vinha com guiador de 46cm, com um desenho de drops com que eu não me identifiquei. Troquei por um simples FSA de gravel, abertura a 12º, de tamanho 44. Apesar de mais pequeno ainda permitia o uso de sacos de bikepaking. O avanço de 120cm foi trocado por um de 80, para afinar a posição na bicicleta. Muitas bicicletas de gravel modernas são desenhadas para avanços curtos, e neste caso a adaptação foi natural. Sim, ao princípio eu também achei que era muito curto, mas fez maravilhas pela postura e pelo controlo da bicicleta. Mudei também o selim, por outro muito semelhante, e o espigão do selim, por estética e peso. 


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No Porto!


Rodas & Pneus: Usei pouco as rodas. Eram robustas e não deram problemas, lembro-me que os cubos pareciam bastante bons para esta gama de preços. Foram trocadas por umas DT Swiss, para perder umas gramas. Os pneus Hutchinson Overide de 35mm são excelentes. Têm uma aderência teimosa e salvaram-me o pelo em mais de uma ocasião. Permitem aventuras fora de estrada que a sua diminuta largura não deixa prever. E em estrada rolam muito bem. Há melhor e mais leve (e mais caro), mas não muito. Quando comprei a bicicleta achei que os pneus eram mais um compromisso, agora acho que são um excelente compromisso! Actualmente monto pneus de 38mm, a marca só recomenda até 36, mas a verdade é que cabem 40mm se fizer falta. Mas penso voltar aos 35mm quando surgir a oportunidade, julgo que é o melhor equilíbrio estrada-gravel e a marca voltou a acertar neste aspecto.   

Dois anos depois, dois Tróia-Sagres, uma volta a Portugal de várias semanas em autonomia, uma viagem a Madrid, o caminho de Fátima, uma subida à serra da Estrela, e muitas aventuras mais pequenas pelo meio depois, a Triban provou que não é só um modelo barato feito à pressa para seduzir os adeptos da "moda" do gravel. Não se deixem enganar pelas soldaduras mais abrutalhadas, nem pela palavra "Decathlon" na testa do quadro, a bicicleta foi bem pensada, o desempenho nunca compromete e tem alma para tudo o que se propuserem fazer com ela. 


Set-up recente, na Serra da Estrela


O facto de custar menos um terço ou metade dos modelos da concorrência também não é propriamente mau. Actualmente há vários modelos e cores disponíveis, baseados no mesmo quadro, que, consta, é fabricado em Portugal (o meu, especificamente, diz "made in France"). É possível também comprar um dos modelos de estrada da gama 520 e depois adaptar a um uso mais polivalente, já que o quadro é idêntico, mudando a pintura e a selecção de componentes.   

Não tenho actualmente nenhuma outra bicicleta, nem sinto falta de nada. Sei que não é solução para toda a gente, o meu uso tem sido muito lúdico e mais estradista, ultimamente. Mas é inegável que esta proposta low-cost permite acceder a um inesgotável mundo de aventuras, cujos limites não serão impostos pela bicicleta.

 

Projecto Caramelos: Dia 4 - Na Autoestrada, a Fugir à Polícia, com um Pneu Furado

@ Lisboa Bike

Publicado em 23/07/2021 às 0:20

Temas: bikepacking viagem

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Caramelos?


Decidido a evitar mais apertões de calor e surpresas tardias na jornada, na manhã do quarto dia levantei o rabo da cama o mais cedo que consegui. Tomei o pequeno almoço, incluído na estadia, tão cedo quanto era permitido e fiz-me à estrada. Desta vez tinha alojamento reservado, e estava decidido a ter um dia diferente. Para minha surpresa consegui mesmo fazer a navegação para fora da zona urbana de Trujillo sem percalços. Normalmente o meu GPS não permite esses luxos, mas naquela manhã tudo corria sobre rodas.


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Rumo a Este, como sempre


É claro que esta bonanza não poderia ser duradoura. Depressa percebi que a altimetria para a jornada era mais desafiante que nos dias anteriores. E o que não mudava contudo, era a temperatura elevada, e as grandes distâncias entre terras, amplos espaços onde não havia nenhuma possibilidade de descanso, refugio do Sol ou reabastecimento. O Deserto Espanhol, como lhe chamam alguns Portugueses de passagem, a caminho de destinos mais populares na Península Ibérica, faz jus ao seu nome.


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Olha, montanhas!


A manhã foi gasta a deambular por estradas de montanha, a ritmos muito lentos, enquanto a temperatura ia aumentado, até ficar intolerável. Continuava a não haver sombras para parar, nem lugares onde obter água ou comida. O desgaste era grande e o moral da expedição ia descendo ao ritmo que desciam também as reservas de líquidos disponíveis a bordo. Começava a ficar claro que, mais uma vez, não ia conseguir arrumar a etapa a tempo de evitar o calor infernal da tarde, no Deserto Espanhol.


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As coisas não são fáceis no deserto


Umas bombas de gasolina foram a minha salvação. Estava a ficar viciado em Aquarius, a coisa mais parecida a uma bebida energética que era possível encontrar em quase todos os postos de abastecimento de combustíveis. Eventualmente a estrada "alisou", depois de uma longa descida, onde cheguei a passar dos 75km/h. Tinha voltado a ficar sem almoço pois não encontrei nada pelo caminho na hora apropriada, estava a ficar frito pelo Sol, mas sabia que já estava perto do destino.


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Sombra! Para a bicicleta...


Eu claramente já estava acusar o desgaste do calor, do esforço e da falta de comida. Foi neste estado que rolei até um cruzamento onde a estrada em que eu estava continuava para Oeste, coisa que não me interessava nada. Eu tinha que virar para Este, no sentido de Talavera de la Reina e Madrid. A minha dormida para a noite era em Oropesa, uma cidade a meio caminho. Rolar no sentido contrário era andar para trás,

Para Este, na direcção certa, a única estrada era a Autovía para Madrid, a A-5. Autovía é o nome dado à rede de autoestradas gratuitas, que ligam Madrid com o resto do país. Eles também têm estradas a que chamam mesmo "autoestradas", mas tecnicamente são a mesma coisa. Logo, não é permitida a circulação de bicicletas em nenhuma destas vias. Mas era para aqui que o GPS insistia que eu deveria ir, e francamente, eu não estava a ver alternativas.


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O dilema



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O percurso que eu fiz


Consultei o Google Maps, que me indicou que eu, de facto, deveria mesmo virar à direita, para Este, para a autoestrada! Não podia ser. E no entanto, fazia sentido e não parecia existir alternativa. De notar que o processo de tomada de decisão decorria junto ao cruzamento, à torreira do Sol, já que como era costume, não havia nem um palmo de sombra em lado nenhum. 

Era tarde. Apesar de eu ter começado cedo, o dia já ia longo. Pressionado pelo calor, tive um momento "fuck it", e abalei a toda a velocidade para a Autovía. Tudo o que eu sabia era que sombra, água e descanso ficavam mais perto naquela direcção. Mesmo que esses luxos fossem obtidos numa esquadra da polícia, sempre era uma melhoria em relação à minha situação actual. A minha análise risco-benefício não era assim tão má.

Na autoestrada fui recebido por um ensurdecedor coro de buzinadelas. Ninguém abrandou nem nada do género, mas imensos automobilistas buzinaram para me avisar do meu "erro". Eu ignorei tudo e todos e rolava na berma a velocidades próximas dos 40km/h. Àquela velocidade depressa estaria debaixo de um belo duche gelado no hotel que tinha reservado e poderia esquecer aquele incidente. 


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A Autovía à esquerda


Mas claro, não poderia ser tão fácil. Estava a ensaiar mentalmente o que diria aos policias quando chegassem, coisas como "custava assim tanto plantarem umas árvores para dar sombra?" ou "quem é que foi o palhaço que desenhou a vossa rede de estradas?" quando o som inconfundível de um furo me chegou aos ouvidos. A rolar a toda a velocidade na berma, tinha passado por cima de alguma porcaria e o pneu traseiro começou a perder ar de forma audível. O líquido anti-furos não estava a funcionar e em pouco tempo estava a rodar encima do aro.

Abrandei o suficiente para não dar cabo da roda traseira, mas não parei. Não me pareceu boa ideia parar na AE... Depois reparei que havia uma área de serviço não muito longe e arrastei a bicicleta ferida até lá, instalando-me rapidamente num cantinho onde não estorvava ninguém. Debaixo do olhar curioso de camionistas, desmontei o que pude da bicicleta carregada e removi a roda traseira. 

Não tinha ar. O tubeless estava frito e ia ter que colocar uma câmera de ar, mas resolvi tentar pelo menos voltar a encher de ar e ver se a coisa aguentava. Mas por mais que tentasse, parecia que a minha bomba de ar também não estava operacional. E agora eu sentia que estava a perder rapidamente o controlo da situação. Olhei para cima e questionei "Não tens mais nada para mim agora?" 

E nesse momento, um carro patrulha da Guardia Civil entrou na área de serviço.


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O caminho para "casa"


Os agentes olharam para mim, e foram à sua vida. E isso deixou-me a pensar. Normalmente em Espanha não há a balda que se vive em terras lusas, se eles me ignoraram era porque deveria haver uma forma legítima de chegar ali, que justificasse a minha presença na área de serviço. Coloquei a câmera de ar no pneu de trás, montei tudo de volta o melhor que pude e fui dar mais uma olhada no Google Maps.
 
Só nessa altura é que eu percebi. Paralela à Autovía, ao longo de vários quilómetros, seguia uma pista de gravilha, onde era permitida a circulação de veículos. Tinha sinais de trânsito e tudo. Essa pista passava por trás da área de serviço e justificava a minha presença no local. E a de eventuais tractores e maquinaria agrícola. O piso de gravilha era mauzito, um bocado no limite para os meus pneus finos, já para não falar para o meu nível de desgaste naquele momento. Mas era uma alternativa à AE!


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Vista à chegada a Oropesa


E foi assim que, depois de reparar a minha mini-bomba e enchido por fim o pneu traseiro, fiz os últimos 30km a rolar em verdadeiro gravel. De vez em quando tinha umas atrevessadelas mais cabeludas, já que a tracção com pneus estreitos e lisos não era a melhor. Mas era suficiente. E por aquelas alturas, suficiente ia ter que chegar.

 
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Já fiquei em sítios piores



Dia 4. Trujillo-Oropesa. 128km. (Estrada/AE) 
 

Projecto Caramelos: Dia 7 - Até às Montanhas

@ Lisboa Bike

Publicado em 23/07/2021 às 0:07

Temas: bikepacking viagem

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Dois ursos e uma bicicleta


Ao Norte da capital Espanhola fica um lugar de mistério e imponência. Os Madrileños, como todos os citadinos de uma grande e competitiva urbe, adoram escapadas de fim de semana, para destinos mais serenos nos arredores. Alguns destes possíveis destinos ficam na Serra de Guadarrama, uma solene cadeia montanhosa a Norte da capital, com picos que ultrapassam os 2000m.

Tinha decidido que o meu destino final para esta viagem seria uma destas aldeias incrustadas no sopé da serra, um curioso misto de vila alpina e subúrbio urbano, já que fica a apenas 50km da capital. Uns amigos tinham-me prometido uns dias de alojamento com direito a relaxamento total, na tranquilidade das montanhas. E isso parecia-me o final perfeito para esta pequena viagem.

Dada a proximidade, tinha planeado gastar a maior parte do dia em Madrid e seguir para Norte só no final da tarde. Assim, tratei de organizar a logística do meu regresso, planeado para uns dias mais tarde, e patear a cidade. 

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Puerta del Sol



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Calle Preciados



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E uma estátua de corvos em Lisboa?



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A velha Madrid



Mais importante, tinha um almoço (tardio, como todos em Espanha) combinado com uma amiga, que é a única pessoa que conheço que mora efectivamente na capital do reino. Passámos horas à conversa numa simpática esplanada. Acho que perdi um pouco a noção do tempo, até que um sopro de vento fez voar alguns itens de cima da mesa. Olhei para o céu, e fui surpreendido por umas nuvens sinistras que se avizinhavam, no que até ao momento tinha sido um impecável céu limpo.

Passava das 18 horas, e eu considerei aquela a minha deixa para me pôr a caminho. A travessia da capital teria sido facilitada se o meu pneu traseiro não estivesse vazio. Não compreendi como tinha furado entretanto, mas acabei por deduzir que a válvula da câmera de ar que tinha instalado uns dias atrás não estava a vedar bem. Bombei um pouco de ar, junto ao Bernabéu, e segui caminho. Tinha alguma pressa, já que agora era evidente que uma tempestade se aproximava, dirigindo-se, tal como eu, para Norte.    


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O céu limpo deu lugar a nuvens sinistras


Encontrei com alguma facilidade a ciclovia que segue para Norte, um percurso que em outras ocasiões tinha visto da estrada e que sabia me poderia levar até muito perto do destino. Este é o habitat natural dos ciclistas de estrada da zona, e foi sem surpresa que me cruzei com muitos deles. Seguiam todos na direcção contrária, apressados por se abrigarem da tormenta que todos sabíamos próxima. 


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Para Norte!


Embora o pôr do sol estivesse previsto para dali a mais de duas horas, o céu escureceu de forma assinalável, à medida que a frente de tempestade se aproximava. Os outros ciclistas começaram a escassear na ciclovia, até desaparecerem por completo. Agora estava só eu, rumando a Norte, numa corrida contra a tempestade. Eu desconfiava que quando aquela massa de ar colidisse com as montanhas à nossa frente, o resultado não seria muito agradável para mim. 



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Percebem?


E não foi. O trovejar começou distante, mas em pouco tempo os raios caiam à minha volta, sem refugio à vista. O céu escureceu ainda mais, até ficar practicamente de noite, e uma chuva ligeira começou a cair, obrigando-me a parar para colocar o impermeável, a primeira vez que o usei na viagem. Era capaz de jurar que até o Dentuça estava intimidado, sobretudo quando a ciclovia acabou e tivemos que nos fazer à estrada.   


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A coisa promete!


E foi neste troço, de estrada estreita, sem berma e com bastante trânsito, que os céus finalmente se abriram e um dilúvio impiedoso assolou o sopé da serra, retirando ainda mais visibilidade e obrigando-me a cuidados redobrados. Apesar de duas boas luzes na traseira, levei com algumas razias preocupantes. De notar que os automobilistas espanhóis costumam respeitar os ciclistas muito mais que os portugueses (respeito é um conceito estranho em Portugal), mas por norma conduzem, na minha opinião, tecnicamente pior. Ou seja, têm um pior domínio do veículo e são mais facilmente surpreendidos por imprevistos.

Naquela estrada senti-me verdadeiramente em perigo, mas não havia muitas alternativas a continuar. Até que surgiu uma muito rara paragem de autocarro, com abrigo, que eu imediatamente adoptei como refugio. Foi um achado providencial, pois o dilúvio já me tinha ensopado até aos ossos, e a estrada estava mesmo perigosa, com a visibilidade extremamente reduzida.


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Na paragem do BUS


Uns minutos depois, as coisas acalmaram e eu regressei à estrada, que me havia de levar à magia da montanha em Manzanares el Real. Esperava-me um belo jantar entre amigos e uns dias de merecido descanso do guerreiro. 



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Dia 7. Madrid-Manzanares el Real. 49km. (Estrada/Ciclovia) 

 

Projecto Caramelos: Dia 6 - O Assalto à Capital

@ Lisboa Bike

Publicado em 19/07/2021 às 1:10

Temas: bikepacking viagem

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Caramelos?


O ar quente que me recebe à saída do hotel, pelas nove da manhã do sexto dia de viagem, já não surpreende. Tomei atempadamente o pequeno almoço e tenho memorizada a navegação que devo fazer para sair de Torrijos e regressar ao track de GPS que me há de levar à capital do Reino das Espanhas. A esperada distância de apenas 86km dá-me alguma tranquilidade para lidar com eventuais imprevistos.


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Não tendes nada com menos faixas?


Eu sei que para um ciclista de estrada que se leve a sério (e não faltam ciclistas de estrada que se levam muito a sério), 86km podem ser os kms de aquecimento para se juntar ao grupo numa manhã de Domingo. Para um ciclista utilitário, habituado a conciliar trajectos urbanos com os transportes públicos, pode parecer uma distância impossível. Cada um tem a sua bitola. Eu sei que sou capaz de distâncias de 200km, mas isso será normalmente num evento de um único dia, e em condições favoráveis. O calor e as distâncias entre paragens a que o Grande Deserto Espanhol obriga, reduzem claramente o meu desempenho. 

Seja como for, tenho todo o dia para chegar à Puerta del Sol, em Madrid, o destino para hoje. O meu GPS primitivo, esse traidor inveterado, vai cumprindo a sua função até chegarmos aos arredores da capital. O entramado de zonas industriais, centros comerciais, parques empresárias e vias rápidas dos arrabaldes de Madrid apresenta as primeiras dificuldades de navegação. O GPS parece insistir em enfiar-me numa das inúmeras "M", as vias rápidas radiais por onde flui boa parte do trânsito da capital espanhola.
    

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Madrileños, no seu habitat natural


Depois dos eventos do dia 4, estou especialmente atento e resistente à possibilidade de me voltar a enfiar numa via reservada a paquidermes metálicos. Mas o GPS tenta que eu o faça, uma e outra vez, até que volta mesmo a acontecer. Sigo numa estrada que de repente se transforma em acesso para uma "M" qualquer. Sem possibilidade de voltar para trás, lá estou eu a ser de novo recebido por um coro de buzinadelas. Felizmente a estrada estava em obras e a velocidade era reduzida. Saio assim que posso, e dou por mim em mais um parque industrial. 


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Na berma da via rápida em obras


Nesta altura já tinha passado mais uma vez da hora do almoço, o calor apertava e a minha frustração subia. Optei por desistir de vez do GPS e passei a usar o telemóvel. Pedi ao Google Maps um trajecto em bicicleta de onde estava para o centro de Madrid, e ele forneceu-me um percurso... inesperado. Para usar o telemóvel tinha que estar sempre a parar, pois ele seguia no bolso da jersey, mas eu estava disposto a isso para garantir a fiabilidade na navegação.
 

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Rumo a Madrid!


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Ciclovias de luxo 

De início esta nova metodologia parecia uma grande ideia. O percurso levou-me por parques e ciclovias que eu de outra forma nunca teria encontrado. O ritmo era lento, devido às paragens constantes e à natureza do percurso. Em certa altura quase perdia a carteira, com todos os meus cartões e documentos, de tanto andar a mexer no bolso para consultar o telemóvel. Mas foi só um susto e recuperei tudo em poucos minutos. Mais para a frente o percurso começou a ficar mais... exótico. 


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Há de haver uma cidade por aqui algures


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Madrid??


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Hum...


Começava a duvidar das ideias do Google Maps. Atravessei descampados, zonas de armazéns abarracados e outras zonas muito duvidosas. Fiz um pouco de BTT puro e duro, e circulei numa estrada fechada que estava aparentemente transformada numa lixeira a céu aberto. Passei em zonas que pareciam ter sido cenário recente de algum botellón épico, com o lixo e garrafas de centenas ou milhares de pessoas. Em todo este percurso não vi nenhum outro ser humano, o que por mim estava ótimo, mas levantava dúvidas sobre a esperada aproximação a uma das maiores zonas metropolitanas da Europa. 



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Sim, é uma lixeira numa estrada abandonada


Mas não havia motivos para preocupações. Eventualmente os trilhos transformaram-se em percursos dentro de jardins e parques, e depois em avenidas urbanas, que eu comecei a reconhecer. Estava em Madrid! A cidade nunca foi muito cycle-friendly e tem do trânsito mais agressivo que conheço, mas era excelente a sensação de estar a rolar em terreno conhecido. Lentamente, mas com confiança redobrada, fiz o meu caminho até ao hotel, junto à Puerta del Sol

Parecia surreal estar num ambiente tão cosmopolita, depois de tanto tempo passado no deserto. As ruas e avenidas estavam cheias de turistas, as esplanadas e bares a abarrotar de gente que parecia falar todas as línguas. Guardei o turismo e as fotos para o dia seguinte, pois teria tempo de desfrutar da cidade. Agora o que eu precisava era de uma cerveja, para celebrar os mais de 700km da ligação Lisboa-Madrid, percorridos em seis dias.


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Madrid!


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Vista de quarto


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Bicicleta no quarto #4

Dia 6. Torrijos-Madrid. 90km. (Estrada/Ciclovia) 
 

Projecto Caramelos: Dia 5 - Daquilo De Que São Feitos Os Sonhos

@ Lisboa Bike

Publicado em 18/07/2021 às 20:49

Temas: bikepacking viagem

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What? Nunca comeram feijoada na cama?


O Sol vai baixo e as sombras alargam-se pelas concorridas ruas do centro da capital espanhola. A bicicleta rola sem esforço pelo empedrado polido, o som da roda livre ecoando docemente nas paredes das casas centenárias. Desvio-me dos transeuntes com movimentos fluídos e elegantes, mantendo um ritmo suave mas constante. Sei, sinto, que estou a chegar. "Calle Victoria" leio numa placa na esquina de uma rua pedonal. Apropriado. Cá estamos. Entro na rua, a escassos metros da Puerta del Sol, o ponto mais central da capital do reino. Percorro os últimos metros entre esplanadas e um mar de turistas. A luz é simplesmente perfeita e de algum lado escuta-se o início de "In your eyes" de Peter Gabriel. É então que a vejo. Os cabelos cor de cobre resplandecem no contra-luz do final de tarde. O colorido vestido de verão destacando a sua silhueta na rua apinhada. Os nossos olhares cruzam-se, atraídos por alguma força invisível. "Estás atrasado", diz ela, esforçando-se por esboçar o seu melhor ar reprovador, mas não contendo o sorriso. 


Não chego a articular a minha resposta, que antevejo ser hilariante e charmosa, pois há um crescente som irritante que monopoliza a minha atenção. Não percebo de onde vem, mas parece conhecido... Instintivamente, silencio o alarme do telemóvel e levo alguns segundos a reconhecer o que me rodeia. São seis da manhã e ainda está escuro lá fora. Acendo a luz e levanto-me a custo da cama. Esforço-me por recordar que estou numa casa rural em Oropesa, uma pequena terra da província de Toledo, bem no meio do Grande Deserto Espanhol. 


Arrasto-me para o WC, mas as pernas pesam-me como dois marcos dos descobrimentos, e tenho o equilíbrio de um marujo bêbado recém regressado da carreira da India.  Tenho muita sede, embora me lembre de me ter hidratado bem a noite anterior. Lavo os dentes e constato que, de alguma forma, tenho a boca cheia de sangue seco. A próxima etapa da minha higiene matinal não é mais animadora: pelo quarto dia consecutivo, a minha urina é da cor de Earl Grey. Saio da casa de banho a murmurar alguma coisa sobre "isso não deve ser bom". Ao lado da janela aberta, repousa o Dentuça. O seu olhar parece questionar: "O que é que estamos a fazer?"



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#3 Bicicleta cá dentro


Não tenho resposta. Por isso limito-me a prosseguir mecanicamente com as arrumações. Tomo o pequeno almoço que tinha preparado e saio para a rua pelas sete da manhã. A esperada brisa refrescante não se materializa. Mesmo a esta hora, o dia está abafado. Nada posso fazer quanto a isso, mas posso acelerar o ritmo enquanto o Sol não me queima as pestanas. 


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Habitual reabastecimento num posto de combustível


Sigo meio macambúzio pela estrada fora. Aos poucos os músculos começam a responder melhor e consigo manter um ritmo confortável. Pela hora do almoço rolamos pela cidade de Torrijos, feia como poucas. Metade dos estabelecimentos comerciais estão encerrados, entaipados. E não é coisa recente, nem efeitos do COVID, alguns dos graffiti que "decoram" estes estabelecimentos têm décadas. Há edifícios de habituação no mesmo estado. E isto no centro, nos arredores o panorama ainda é mais deprimente. Mas o calor aperta e eu não quero outro dia a terminar tarde, comigo a transformar-me numa papa, rodeada de uma poça de suor. 



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Sombras e bancos! Foi a única vez que vi tal coisa!



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Mais um dia no deserto



Faço uma reserva pelo telemóvel para um hotel, convenientemente situado ao lado de um armazém, uma bomba de gasolina (da Galp!) e uma lavagem automática, e minutos depois estou na recepção. É um alívio sair do Sol da tarde! Descanso um pouco antes de voltar a sair, já trajando à civil, para conhecer a zona. Há um interessante stand de carros clássicos, exibindo um Clio Williams e vários Mercedes dos anos setenta, apetitosos, tudo rodeado por um matagal descontrolado, que parece saído de um filme pós-apocalíptico. E um supermercado para grossistas onde comprei uns petiscos a baixo preço, aparentemente safando-me da questão de não ser comerciante, não estar registado e não ter um NIF espanhol, por ser um turista parvo, o que suponho seja justo.

Refugiado no meu quarto de hotel climatizado, comendo várias excelentes iguarias, como uma feijoada, de lata, fria, pondero a cordura das minhas últimas decisões. Apesar de tudo estou vivo, estou inteiro, e pelo menos agora sei porque o Deserto Espanhol não parece ser grande coisa de destino turístico, e menos ainda para ciclistas. Amanhã, salvo algum imprevisto, estarei em Madrid. O GPS diz que serão apenas 86km de caminho, o que pode correr mal?

Dia 5. Oropesa-Torrijos. 107km. (Estrada) 
 

Projecto Caramelos: Dia 3 - Um Gajo Vai Ter Que Se Chatear

@ Lisboa Bike

Publicado em 15/07/2021 às 23:34

Temas: bikepacking viagem

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Trujillo!


A manhã não começou muito cedo para mim. Eram já nove horas quando pus as rodas na estrada nacional 251, rumo a Cáceres. Para mais, não tinha tomado o pequeno almoço. Havia um restaurante no hotel onde tinha dormido, mas a comida gordurosa do jantar na noite anterior e a sensação de ter sido enganado com a conta, não me davam vontade de lá regressar.  Assim, fui rolando, até à vila de Malpartida de Cáceres

Aqui consegui um pequeno almoço decente. E tive a companhia de um colorido local, um sexagenário de chapéu de couro e pele curtida pelo Sol, que assim que percebeu que eu era um ciclista, fez questão de me contar a sua epopeia de viagem de bicicleta, de regresso dos Picos de Europa à Extremadura, depois de ter sido defraudado do seu salário. Sem comida e sem dinheiro, nos nos anos setenta, ele lá conseguiu fazer o seu caminho até casa. Mais engraçado eram os comentários do empregado, que parecia ter bastante confiança com o velhote, que tudo indicava ser um cliente muito regular, pois interrompia o relato com frequência, para levantar dúvidas sobre a veracidade dos factos: "Trabajar? Pero si tu nunca hás trabajado un día en la vida?!"


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Rolando no Grande Deserto Espanhol


Não muito depois estava em Cáceres, e atravessei de uma lado a outro esta bonita capital provincial. Aqui dei conta do estranho habito dos espanhóis para usar máscara facial mesmo quando correm ou andam de bicicleta. O facto de eu não fazer o mesmo levantava alguns olhares desconfiados, mas eu continuei a só usar a máscara quando desmontava, já que fazia alguma questão, pelo menos de momento, de continuar a respirar. 


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A Autovía A-58

Continuei pela estrada nacional, que por momentos seguia paralela à Autovía A-58, pelo que o trânsito era inexistente. Depois virei para Norte, rolando por estradas mais remotas, já que a Nacional não seguia para os meus lados. Este giro forçado levou-me até La Aldea del Obispo, onde entrei pela hora do almoço. O Sol ia alto, o calor apertava e eu continuava sem grandes energias.



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A paisagem rumo a La Aldea del Obispo


Ao atravessar a aldeia, encontrei por acaso um alojamento de turismo rural,  aparentemente especializado em observação de pássaros. Estavam vazios e a simpática senhora que me atendeu teria todo o gosto em alojar-me por aquela noite. Achei que precisava de descansar e um dia mais curto era mesmo o que estava à procura. Tendo em conta as distâncias entre terras, o calor abrasador e a dificuldade em encontrar comida e água entre cidades, a ideia de tomar refúgio naquela vila simpática agradava-me imenso. 

Mas não estava nas cartas. Os sorrisos desapareceram quando tentei pagar o alojamento com cartão de crédito. Não era possível. Aliás, não aceitavam pagamento de nenhuma forma que não fosse em dinheiro vivo. Eu não costumo andar com muito dinheiro, e perguntei onde era a caixa automática mais próxima. Não havia. Na próxima terra, talvez. A 30km. 


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Hora do Almoço


Consultei a internet e verifiquei que existia alojamento abundante na próxima terra, Torrecillas de la Tiesa. Tinha pena de não ficar naquela Casa Rural, mas pronto, seriam só mais 30km, segundo a senhora. E era de facto mais ou menos isso. Mas em Torrecillas todo o alojamento estava tomado de assalto por um enorme exército de trabalhadores de um gigantesca central de energia solar em construção nas redondezas. Não havia vagas em lado nenhum. 

A hora de almoço tinha chegado e passado, o dia ia longo e eu ainda não tinha alojamento. O Google mostrava que não havia alternativas de nenhum tipo na zona, a não ser a cidade de Trujillo, que ficava fora de caminho. Liguei para a casa rural de La Aldea del Obispo, depois de ter levantado dinheiro na única caixa automática da zona, mas não tive muita sorte. A senhora informou-me que já tinha saído, que morava longe e portanto já não voltava. Tinha aquele tom de voz de "temos pena". 


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Trujillo!


Rabujento, esfomeado, a ser literalmente queimado pelo Sol da tarde, fui obrigado a andar para trás, para chegar à cidade histórica de Trujillo, onde tinha reservado alojamento pelo telemóvel. Mais uma vez, pelo caminho não se encontrava nenhum sítio onde se pudesse parar, nenhuma sombra, nenhum estabelecimento para comprar bebidas, nada. Só o escaldante deserto espanhol. Eu juro que vi mesmo arbustos secos a rolar na estrada deserta, e abutres a sobrevoar-me, para completar o panorama do Oeste selvagem.
 
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As gentes de Trujillo...


O que vale é que Trujilho, a terra natal de vários Conquistadores Espanhóis, é muito bonita. A cidade parecia deserta, mas eu estava a costumar-me ao facto dos espanhóis evitarem andar na rua entre as 10 e as 19 horas, para não terem que lidar com o Sol absolutamente escaldante destas paragens. Dei umas voltas e fui ao supermercado comprar comida a devorar no hotel, bem como abastecimentos para o dia seguinte.   


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Bicicleta no quarto #2


Dia 3. Aliseda-Trujillo. 127km. (Estrada) 

 

Projecto Caramelos: Dia 2 - Para lá da Fronteira

@ Lisboa Bike

Publicado em 15/07/2021 às 13:41

Temas: bikepacking viagem

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Caramelos?


Gostava de dizer que acordei rejuvenescido depois de uma boa noite de sono, mas no mundo real, as coisas nem sempre funcionam assim. Sendo certo que tive direito a umas oito horas de descanso, a verdade é que acordei a sentir-me letárgico, completamente sem energia. Parecia claro que o corpo ainda acusava o esforço do dia anterior


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A vastidão do Alentejo


A manhã foi muito bem passada, fiquei a conhecer todos os pontos de interesse da zona, que incluem  pinturas rupestres e uma fronteira muito original, à qual voltaremos em breve. Foi engraçado o contraste do passeio com amigos, (incluído o latifundiário conhecedor da zona), versus o tempo passado em modo bikepacker, em que raramente tenho companhia nem a oportunidade de ficar a conhecer tão bem uma zona, mesmo que lá durma. 

São obviamente dois modos de viagem bem diferentes, o passeio com amigos, e a aventura na bicicleta, em solitário. Sou grande apreciador de ambos, e naquela manhã quente, as minhas preferências por boa companhia e o uso de carro para as deslocações maiores eram evidentes. Fui ficando e depois do almoço ainda lá estava, à conversa. Fiz o meu melhor por disfarçar os meus anémicos níveis de energia e o fraco entusiasmo pelos quilómetros que estavam para vir, mas chegou a altura em que a partida era inevitável.  


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Tudo preparado. Tudo menos eu!


Foi com algum esforço disfarçado que me despedi dos amigos e montei na bicicleta, agora cerca de oito quilos mais pesada, devidamente apetrechada com o conjunto completo dos meus sacos, que incluíam material de campismo. Mas pouco depois, o entusiasmo familiar de me encontrar em estrada aberta, em autonomia completa, veio ao de cima. As dúvidas e hesitações ficavam para trás, arranjaria forma de manter as pernas em movimento. Havia uma fronteira para passar, e depois disso, o mundo era a minha ostra.


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Sim, esta é a fronteira!


Cerca de 5km depois estava na "ponte internacional mais pequena do mundo", e cruzava a fronteira no Marco, entrando na Extremadura Espanhola. Parece ridículo afirmar que imediatamente se nota a diferença, mas essa é a realidade. Duas coisas depressa se tornam evidentes do outro lado da linha imaginária inventada pelos nossos antepassados: o ordenamento do território e a civilidade dos condutores. Parece que em Espanha se leva muito mais a sério a obrigatoriedade de garantir uma distância mínima lateral de segurança ao ultrapassar um velocípede, mesmo no fim do mundo que é esta zona fronteiriça. Em ambos os países essa distância são 1,5 metros, mas por vezes acho que em Portugal ninguém o sabe.

Quanto ao ordenamento do território, em Espanha, como na maior parte da Europa civilizada, não se pode construir em qualquer lado, nem de qualquer maneira, como acontece em Portugal. Por isso, saindo das vilas, não se encontra absolutamente nada senão campo. Não há casas dispersas nesta zona. Não há cafés da beira de estrada, não há barracões, não há oficinas, nem roulotes, nem pessoas a vender coisas na berma da estrada... nada.   



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A estrada para Aliseda


Após os primeiros momentos iniciais de apreço pelo arrumadinhos que são os espanhóis, aos poucos um problema começava a tomar forma, e seria uma questão com implicações duradouras. É que quando eu digo que não havia nada, para além do tapete de asfalto, é que não havia mesmo nada. Nada! Não se encontravam parques de merenda, não havia abrigos de paragem de autocarro, não havia bombas de gasolina, nem quaisquer zonas com árvores ou qualquer tipo de sombra, em lado nenhum. Só o asfalto e uma planície infinita de campo, sempre atrás de uma cerca de arame farpado. 

A única alternativa era continuar a pedalar até à próxima terra. Tendo arrancado apenas pelas 16:00h, era assumido que o dia na estrada seria de poucos quilómetros, e assim fiquei-me pela pequena cidade de Aliseda. Esperava que tendo feito apenas cerca de 70km, o meu corpo não tivesse problemas em recuperar para as etapas maiores, debaixo do Sol escaldante do grande deserto espanhol, que se avizinhavam.


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Bicicleta no quarto #1


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Camas separadas!


Dia 2
. Esperança-Aliseda. 69km. (Estrada)

 

Projecto Caramelos: Dia 1 - O Homem da Marreta

@ Lisboa Bike

Publicado em 13/07/2021 às 23:54

Temas: bikepacking viagem

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Caramelos?


As coisas começaram de forma bem inocente, como quase sempre acontece. Tinha feito planos para acompanhar um amigo na sua deslocação de bicicleta ao seu lar ancestral do Alentejo. Éramos 3 ao todo, em bicicletas de estrada, e o plano era fazer a distância, cerca de 200 redondos quilómetros, num só dia. Por responsabilidades e coisas da vida, o meu amigo acabou por fazer a viagem de carro, em data inadequada para os restantes, mas eu estava decidido a ir de qualquer forma. 

E depois, já que ali estava, imaginei que seria fantástico aproveitar a proximidade à fronteira para dar um "saltinho" a Madrid e visitar mais uns amigos por lá. Afinal, no mapa eram apenas mais 400Km a solo, depois de ultrapassado o obstáculo do primeiro dia. Tinha planeado uma semana na estrada ao todo, e cerca de 700 quilómetros de caminho. Preparei o equipamento do costume, de onde apenas havia a destacar uns pneus ligeiramente mais estreitos e mais lisos, uns GravelKing de 32mm, montados como sempre Tubeless.

 

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"Isso é tudo muito giro, mas aqui há AC!"

Para a longa primeira etapa, sendo que teria companhia, e carro de apoio, iria mais leve, sem os meus sacos, para mais facilmente fazer as tais cerca de duas centenas de quilómetros a um ritmo decente. No carro seguia também o Dentuça, talvez achando que já me aturaria o suficiente na semana que estava para vir. Ou talvez preferindo a companhia das "babes", como ele diria. Conhecendo quem lá estava, não sei se ele se safou com o estilo abusado do costume. Aliás, até hoje não sei bem como lhe foi o dia, a verdade é que ninguém está a falar. 


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A caminho do Montijo


Arrancando de casa num Sábado de manhã, a horas pouco recomendáveis, e apanhando o barco das 08:00 para o Montijo, tudo corria sobre rodas, não fosse o habitual comportamento cavernícola de muitos automobilistas da margem Sul, que parecem ter recentemente perdido a namorada para um ciclista. Ou talvez um ciclista lhes tenha roubado o bilhete vencedor do Euromilhões. Não sei. Não consigo explicar de outra maneira o nível de agressividade e ignorância de alguns condutores da zona. Alguns faziam mesmo questão de abrandar, num coro de buzinadelas, para nos "informarem" de que não podíamos circular a par ou que estávamos obrigados a rolar na "ciclovia" de 25m, cheia de carros e lixo, que o cacique local tinha construído com o apoio técnico de um fulano que, certa vez, viu uma bicicleta.


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Mais de 100Km, e ainda há sorrisos


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Almoço!

O ritmo era sempre alto, pelo menos para mim, mas eu rolava protegido na roda do meu amigo João, onde passei aliás 99% do dia. O percurso era bem a Norte da Nacional 4, onde eu tenho alguma experiência, e que por isso mesmo decidimos evitar, passando por Mora, onde nos cruzamos com inúmeras motos. Era o Lés-a-Lés deste ano! Na paragem para almoço, em Pavia, mais de 100Km feitos, tudo ia bem. E aquela bifana soube divinamente. O pior ainda estava para vir.


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Sem sacos de bikepacking é mais fácil!


O calor apertava, não havia sombra nem forma de nos esquivarmos ao aperto constante do Sol. Mas tínhamos água e os quilómetros iam passando. A paisagem ia desfilando a um ritmo muito razoável de 26km/h desde o Montijo. Nem a altimetria nem o trânsito chateavam: rolávamos quase sempre em plano, e poucos carros se viam. Apenas tínhamos que lidar com as temperaturas e manter o ritmo. Apenas.



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Suponho que é nesta altura que tenho de vos apresentar, a alguns de vós pelo menos, à figura lendária do Homem da Marreta. Sim, o Homem da Marreta. Trata-se de uma personagem mitológica, tipo um Yeti da estrada nacional, ou um Big Foot das subidas de dois dígitos de inclinação. Não há provas da sua existência, mas não falta quem tenha sentido a sua presença. O Homem da Marreta é um retro-grouch, um ciclista old-school (e mais outros anglicismos que agora não consigo, assim de repente, invocar), um tipo tão duro como um marinheiro do Pequod e com o nível de empatia do Soup Nazi.

O Homem da Marreta espera pacientemente, atrás de uma moita ou a seguir a uma curva apertada, por aqueles ciclistas incautos, que não são rijos o suficiente, que não acautelaram a hidratação, não comeram como deviam, ou simplesmente se aventuraram mais longe do que a sua forma física permitia. E naquele dia, foi o meu caso. Por volta do Km 170, deixei de conseguir ir na roda do João. Tudo ficou penoso e lento e complicado. Não tinha posição na bicicleta, todas as posturas eram incómodas, o meu pé direito inchou e parecia que não cabia no sapato, o meu traseiro perecia que estava sobre umas brasas quentes. 


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Acho que me voltei a esquecer do protector solar...


Tudo o que podia fazer era arrastar-me, a velocidades ridículas. E arrastei-me mesmo até ao fim, que para o caso era num monte junto à aldeia de Esperança, a um punhado de quilómetros da fronteira espanhola. Dei por mim deitado no banco de trás do carro de apoio, pois estar de pé era demasiado cansativo, enquanto se discutiam pormenores do jantar que viria a seguir. Eu pensava era em como ia conseguir fazer, já sem sem apoio, os quilómetros que tinha pela frente. Parecia que a minha boca tinha andado a passar cheques que o meu corpinho ia ter sérias dificuldades em pagar. 


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Fim de dia no Alentejo


Dia 1. Isaltinistão-Esperança. 201km. (Estrada) 

 

Ecopista do Dão : Bicicleta + Comboio

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 12/07/2021 às 10:18

Temas: comboio cp dão ecopista viseu

Andava com esta ideia fisgada há que tempos de pegar em mim e numa das bicicletas e fazer a Ecopista do Dão ali na antiga linha férrea entre Santa Comba Dão e Viseu... e surgiu uma oportunidade de uma escapadinha de fds com o meu primo N, que é como um irmão mais velho, e com quem não tenho passado tempo a não ser em esporádicas visitas. O meu bro V também devia ter vindo, mas "prontos", não deu!

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ver info:

-  Ecopista do Dão no site da IP

https://ecopistadodao.pt/

- ver videos no youtube da Ecopista do Dão

Lancei o desafio que foi aceite e começámos a planear com entusiasmo a viagem, com tempo e controlando as evoluções da pandemia e demais restrições neste Verão de 2021.

A ideia era simples, ir no Sábado de manhã de comboio, fazer a Ecopista do Dão de Santa Comba Dão até Viseu, devagar devagarinho que afinal são apenas quase 50kms, de entre as 10h15 a meio da tarde, ficar alojados em Viseu de Sábado para Domingo, jantando lá, dormir, acordar, almoço e rolar de volta devagar devagarinho de Viseu para Santa Comba Dão, para apanhar o comboio de volta.

Eu já tinha ideia de ir de casa apanhar o comboio de bicicleta algures numa estação de Lisboa, para evitar ter de levar o carro, mas o meu primo pelas indisponibilidades ou até ausência de alternativas lá teve de ir de casa de carro até ao comboio em Santarém. Daí seguimos juntos.

Comprámos antecipadamente e com desconto as viagens no site da CP, para garantir o lugar da bicicleta, pois apesar de ser gratuito (que pessoalmente discordo, deveria ser pago mas com muitos mais lugares e de forma a garantir que houvesse oferta e não ficasse ao sabor dos humores dos revisores - no caso dos Regionais e Inter Regionais onde não há possibilidade de compra prévia)... dizia eu, apesar de ser gratuito tem de ser reservado. Nos Inter-Cidades existe um limite de duas bicicletas por carruagem. O que é manifestamente pouco.

Ver info no site da CP.pt

Para ter a garantia do transporte das bicicletas optámos pelos Inter-Cidades, sai de Lisboa às 7h39 e chega a Santa Comba Dão pelas 10h12 de Sábado. A vinda seria Domingo pelas 19h37 chegando a Lisboa pelas 22h22. Há outros comboios, os Inter-Regionais, mas garantia de transporte de bicicleta não há :(

Fiz um pouco mal as contas no Sábado, e demorei quase uma hora de bicicleta de minha casa à Estação do Oriente, pelo que cheguei com o coração a bater forte, e ainda por cima com uma chuvinha molha-tolos irritante. Mas cheguei a tempo, 3 minutos antes, e lá apanhei o comboio a caminho de Santa Comba, apanhando o primo pelo caminho em Santarém!

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Chegados à estação de Santa Comba Dão, que não é mesmo em Santa Comba mas nos arrebaldes, não existe nenhuma tabuleta que indique a Ecopista, mas sabendo de antemão e até seguindo outros ciclistas já conhecedores no momento, é indo para o final da plataforma seguindo o sentido do comboio, para norte.

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Uma das coisas que aconselho é levarem comidinha, pois não encontrei muita informação sobre cafés ou restaurantes pelo caminho. A não ser que queiram fazer desvios da Ecopista é melhor levarem farnel.

Os melhores spot para comer no curso da ecopista são em Farmilhão e Figueiró, ambos na zona norte. 

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A nossa ideia era mesmo ir a conversar, desfrutar, passear, devagar, na natureza, pelo que não tinhamos pressas e horas para cumprir, levámos alguma comida e bebida para estarmos sem necessidade de desvios ou acelerar para os cafés e outros locais de comezaima no caminho mas mais para lá de meio da Ecopista.

O que já tinha visto noutros blogs e videos e fóruns é o mau acesso da plataforma da estação de comboio à Ecopista. Muito mauzito mesmo. Já podiam ter resolvido isto... Uma pessoa com cadeira de rodas esquece, um carrinho de bebé é preciso fazer ginástica... enfim, mau! Ainda são uns 200 a 300 metros disto, terra batida com calhaus soltos e gravinha. Baah! 

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Depois de entrar, é rolar! A pendente/inclinação é a subir no sentido Viseu mas quase nem se nota... aliás, nós só notámos à vinda, pois as bicicletas rolavam embaladas com a parca inclinação que não sentimos no dia anterior. Impressionante... não custa nada. 

A Ecopista atravessa 3 concelhos, e cada qual tem a sua cor pintada no pavimento: Azul para Santa Comba Dão, Verde para Tondela e Vermelho para Viseu.

As cores estão desbotadas, sendo que onde tem as cores vivas são os trechos que tiveram manutenção mais recente, mas toda a Ecopista é de piso liso e rolante, não tem troços de terra batida - exceto onde as águas pluviais trazem as areias dos montes que os eucaliptos destroem as terras (enfim).

Tem pontes, tem túneis, tem retas (pequenas), tem cercas, tem vistas largas, tem passagem aberta na pedra, tem árvores com belas sombras, tem partes sem sombras, tem casas e terreólas, tem partes sem viválma, tem rebanhos de cabras, tem aves de rapina - não vimos cães, só ouvimos ao longe.

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Pernoitámos em Viseu, na Albergaria Hotel José Alberto, mais ou menos no centro, mas de distância a pé ao centro, onde jantámos e deambulámos (pelo Rossio, Parque da Cidade, mercado, zona da Sé).

Tinhamos previamente validado que podiamos ter espaço para guardar as bicicletas e tudo correu bem!

Simpatia do staff, localização e preço/qualidade muito bom.

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Com os COVIDs as unidades hoteleiras tiveram de se adaptar e assim não há buffets para ninguém, escolhes do cardápio e de manhã entregam o pedido. Mas o pequeno-almoço estava bom e simpaticamente indicaram que podiamos repetir o que quisêssemos. 

No dia seguinte era para almoçarmos em Viseu, mas com os planos furados, resolvemos ir andando devagar devagarinho, agora no sentido descendente... e claramente apesar da nossa surpresa a pendente é mesmo muito a descer, mas no dia anterior nem notámos que subíamos tal a suavidade que foi - afinal era a linha do comboio, há muitos muitos anos.

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O regresso foi mais rápido, será por irmos embalados a descer para sul seguindo o curso da água?! e rapidamente sem querermos chegámos a Santa Comba Dão onde esperámos pelo IC rumo a Sul e lá fomos de volta a casa com o coração cheio pela companhia um do outro e do passeio pela natureza de forma suave e sustentável. HAPPY DAYS!


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Dicas:

- Vão de comboio se puderem, ou até de autocarro; Comprem bilhetes para reservar o transporte de bicicleta, não arrisquem, pode correr menos bem;

- Façam em um fim-de-semana, ida no sábado e volta no domingo, devagar e sem pressas, sozinhos, com amigos ou família;

- Levem comida e água, não há lá muitos locais para refeições pelo caminho; os que há são já mais para meio em diante na parte de Tondela e de Viseu;

- Primavera ou Outono é capaz de ser melhor, nós apanhámos um dia de Verão muito ameno, mas com calor deve ser chato de fazer;

- Have fun! Ride bikes!

 
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