A TRIBO DO CALENDÁRIO

Humberto @ simplycommuting.net

Publicado em 20/10/2013 às 22:44

Temas: cycle of sighns chic dream cycles moda

Sair por aí pedalando é ainda uma excentricidade para a grande maioria das pessoas que têm neste rectângulo o, por enquanto, lugar de poiso. Não é à toa que se ouvem barboseiras verdadeiramente admiráveis ou que se continuam a espalhar ciclóvias por Lisboa como quem constrói um cardápio de como aprender fazendo. Hoje não vou […]
 

… E AGORA, ALGO DIFERENTE

Humberto @ simplycommuting.net

Publicado em 18/10/2013 às 20:34

Temas: cycle to know Amesterdão commuting Copenhaga mobilidade urbanismo

Os níveis de debate têm sempre a ver com o estado em que os debatentes se encontram. Por isso é que há sempre, em matérias que digam respeito a tudo o que gira à volta das bicicletas, alguém que está tantos anos, ou mesmo mundos, à frente do nosso dia-a-dia ciclista. Da mesma forma que […]
 

Difícil é Parar

Pedro M. Fonseca @ Pedalar na Cidade

Publicado em 17/10/2013 às 8:47

Temas: bicicleta em lisboa cabelo ciclovia medo

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Mas porque é que esta fotografia não é de uma bicicleta na cidade? Simples: Eu não tiro fotografias (que fiquem esteticamente bem) enquanto em andamento no meio do trânsito. É, digamos... perigoso.


Começar a pedalar nas cidades é fácil. As barreiras a vencer são sobretudo psicológicas e estão relacionadas com hábitos instalados numa sociedade que se habituou a ver no automóvel a resposta mais fácil para ir ao café a 2 km de distância. Qual é então a melhor táctica para começar?


Vencer o medo

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Esta é uma expressão de "medo". Quando me dizem que não andam de bicicleta na cidade porque têm "medo", só aceito se fizerem ao mesmo tempo esta expressão.

Ter medo é natural. Toda a gente tem medo do que nunca fez. Como quando deu o primeiro beijo (pronto, aqui talvez tenha sido só eu), entrou na universidade, começou o seu primeiro emprego ou até quando aprendeu a... andar de bicicleta! Parecia tão difícil não cair, não parecia? "Como é que me aguento só em duas rodas?", pensávamos. Hoje, nem pensamos. Como nos beijos.

Portanto, toca a levantar esse rabo preguiçoso do sofá e a experimentar dar uma inocente pedalada. Talvez descubram que é mais difícil decidir parar do que que decidir começar.


Ir acompanhado

Para quem não está habituado a andar de bicicleta na cidade, ter companhia com alguma experiência é aconselhável. Se não conhecem alguém experiente podem sempre contactar um Bike Buddy da MUBi, se existir um na área de residência, que poderá acompanhar-vos no percurso que pretendem, dando conselhos de segurança e eficiência. Se nenhumas destas hipóteses for possível, que se lixe: se estivermos à espera de companhia para adicionarmos algo de bom à nossa vida, na maioria das vezes, bem que podemos esperar sentados. Mudemo-nos a nós próprios e os outros que nos sigam.

(vou parar agora com frases auto-motivacionais, antes que este blog caia num precipício obscuro de psicologia de mesa-de-cabeceira do qual dificilmente sairá)


Começar de-va-gar

Deve começar-se por pequenos percursos, para ir até ao tal café, esplanada, jardim, comprar o jornal ou um pequeno passeio de fim-de-semana. Ou então aproveitar uma ciclovia perto de casa para dar uma volta. Sem horários a cumprir, sem stress e com tempo.

Há quem faça uma tirada de 10 quilómetros, na primeira tentativa, o que pode ser um erro para quem não pedala há anos e não tem experiência de andar no meio do trânsito automóvel. Um pouco como ter a ideia de começar a correr, depois de anos de ócio, e começar logo pela meia-maratona. Estão a ver o resultado, não estão?

Portanto, numa primeira tentativa, escolham um percurso simples e fácil, com poucas subidas.


Equipamento

Para começar a pedalar na cidade, não é preciso ter um iPhone, uma Schwinn cheia de pinta, nem mesmo um capacete (que só usa quem quer e eu só o usava quando andava de BTT pelo meio de trilhos cheios de pedras, buracos e árvores a 50km/h ou mais - quando era, portanto, um radical).

Esclareço que para além da ideia de protecção, podem optar por usar um capacete com outra intenção:

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(Por que razão o capacete está a proteger apenas a metade posterior da cabeça, deixando a metade frontal a descoberto? Leia abaixo para uma explicação mais que razoável)

Se repararem, ao contrário da maioria das pessoas, esta ciclista urbana não deve gostar de ter o cabelo ao vento e portanto decidiu encafuá-lo protegê-lo dentro de um recipiente a que outros estranhamente chamam capacete. Ou então, faz parte de um processo de penteado moderno, e o capacete recipiente não passa de uma forma (ler fôrma) e quando ela o tirar, vamos ver isto:



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  (eu não julgo ninguém)

Ora aqui está uma razão convincente para passar a usar capacete. Quem não gostaria de ter um cão na cabeça, para protecção? É caso para dizer: "Que bonito cãobelo tu tens!" BÉU, BÉU!!


Circular no passeio

Que as primeiras pedaladas sejam no passeio é tão certo como um ciclista estreante se perder na ciclovia da zona ribeirinha de Lisboa (Cais do Sodré - Belém). Aliás, se a estreia for na ciclovia da zona ribeirinha, parte do percurso é no passeio, portanto faz logo um dois-em-um. Vezes dois. E dois-em-um vezes dois, porque vão descobrir que esta ciclovia não liga com mais ciclovia nenhuma que dê a volta ao ponto de início (ou qualquer outra volta), portanto têm que regressar pelo mesmo caminho em que vieram e perder-se novamente em sentido inverso.


Mas é habitual que pessoas inexperientes comecem por andar nos passeios, com receio dos automóveis na estrada. Eu também já o fiz, em zonas onde o passeio é muito largo e praticamente não há peões, quem sou eu para recriminar? MAS, nunca esquecer que, em todo e  qualquer caso, no passeio o peão é rei e senhor. Circular no passeio de bicicleta é proibido, por mais que certos condutores e até alguns polícias vos encaminhem para lá (sim, sei de várias histórias em que o polícias mandaram ciclistas para o passeio).

Por favor nada de razias, sustos, velocidades elevadas ou confrontações junto de peões. O peão tem SEMPRE prioridade e devemos acautelar SEMPRE a sua segurança. Se houver crianças, prever que são imprevisíveis e antecipar que podem mudar de direcção a qualquer momento. Um dos mandamentos do ciclista deve ser não fazer aos peões no passeio (e na estrada também) o que não querem que os automóveis vos façam na estrada. E a estrada é a via indicada para a bicicleta, enquanto que no passeio ela está em permanente violação da lei. Combinado?

E então, do que é que estão à espera para agarrarem aquela pasteleira/BTT/bicicleta de corrida há tanto tempo parada na arrecadação e irem dar uma volta?

(Eu ia pôr aqui uma fotografia parva com um comentário idiota como os de cima, para acabar o post mas depois decidi não o fazer. Entretanto enganei-me e publiquei mesmo com o início desta frase, pelo que agora fica aqui este apontamento ainda mais idiota.)
 

Pedalar por....gosto

@ MA FYN BACH

Publicado em 26/09/2013 às 12:06

Temas:

Muito bom o último post da bikeyface em linha do que escrevi em 2008, que teve honras de repetição em 2012.

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Pedalar por gosto!


 

Hotéis de 6 estrelas

João Bernardino @ Aventuras na cidade e Afins

Publicado em 20/09/2013 às 23:56

Temas: Bicicleta Bicicultura Crianças touring Viajar

Se imaginasse o que era ficar num hotel de 6 estrelas, pensaria talvez num quarto em frente à praia, com uma paisagem fabulosa! De preferência o hotel seria só para nós, um hotel privado, e já agora num local privado também, sem casas ou pessoas à volta. Ok, poderia haver animais (gosto de sentir a natureza por perto), e os ruídos da natureza ouviam-se dentro do quarto de noite, incluindo as ondas da água, as corujas, o vento. Ahh, e claro que queria estacionamento privado para o meu veículo mesmo à porta do quarto.  Para os nossos filhos, imaginaria um hotel com muito espaço, onde pudessem brincar à vontade, por exemplo ter uma varanda do quarto que desse diretamente para fora, e pudessem brincar na rua sem medo que fossem atropeladas ou de outros perigos - como a praia estava mesmo em frente, teríamos só que ter algum cuidado para não irem sozinhos para a água.

Foi mais ou menos um hotel desses que tivemos nos dois locais seguintes onde passámos, primeiro a Barragem do Alvito e depois a Barragem do Alqueva, simplesmente acampando à beira do rio, isoladamente do Mundo.

Como o Alentejo é habitualmente muito quente no Verão, tínhamos planeado pedalar com a alvorada e ao final da tarde. Tivemos sorte porque nesta semana o Alentejo não estava tão quente como isso, e acabámos por pedalar a qualquer hora. Isto facilitou muito a logística, porque começar a pedalar com a alvorada não era nada fácil. Arrumar a bagagem toda, incluindo todos os acessórios dos miúdos, ao mesmo tempo que temos que nos preocupar com o pequeno-almoço deles, pode levar algum tempo. Claro que podíamos ter apurado a técnica, mas as condições climatéricas desta vez não o exigiu.

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Pré-pequeno-almoço do Manuel e Vasco no Varandas do Montado, Alcáçovas

Saímos de Alcáçovas pelas 11 e meia, após um pequeno almoço relaxado no café mais próximo e mais uns mergulhos na piscina. A meio caminho para a Barragem do Alvito havia Viana do Alentejo, onde íamos parar para almoçar, visitar o castelo e passear um pouco. Foram 18 km e não parámos até lá. Àquela hora estava calor e chegámos com sede.

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Em Viana do Alentejo
Almoçámos num restaurante muito barato e bom (Churrasqueira  3 Bicas), onde comemos tanto que a perspetiva de continuar a pedalar de tarde parecia complicada.
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Água, muita água!
Viana do Alentejo é uma vila bonita, com um castelo muito bem tratado e boa informação para turistas. Éramos as únicas pessoas por lá, e o senhor que toma conta daquilo descreveu-nos os principais pontos de interesse e foi abrir a porta da igreja para podermos vê-la. Depois do pequeno passeio a perspetiva de pedalar de barriga muito cheia já não era tão horrível e continuámos rumo à barragem.

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No castelo de Viana do Alentejo
As bicicletas portavam-se bem com toda a bagagem. A minha e a da Filipa são bicicletas de montanha dos anos 90, ainda com algum equipamento original. O quadro destas bicicletas é particularmente bom e continua a ser bastante utilizado. É em aço, muito durável, mais confortável que o alumínio, sem tanta necessidade de amortecedores que pesam e podem ser uma preocupação adicional. Mas obviamente, não se vai tão descansado como com uma bicicleta mais nova e com garantias de qualidade... Sendo que fui eu, não exatamente um profissional, quem instalou a maioria do equipamento de gama não elevada.

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Bicicleta carregadinha (o material aguentaria?)
Tinha delineado um percurso junto à barragem para irmos ver o local e, se gostássemos, acampar ali. Fiquei espantado quando, mais uma vez, o caminho estava bloqueado por um portão. Era propriedade privada, apesar de os mapas online o indicarem como um percurso possível. Depois da má experiência na Ribeira de S. Brissos, senti-me definitivamente revoltado por não se poder aceder livremente a um local interessante como é a Barragem do Alvito. Olhei melhor para a placa no muro ao lado do portão e vi que além do texto "Propriedade privada - entrada reservada a veículos com autorização do proprietário", havia um número de telefone escrito a caneta. Telefonei decidido a entrar. Atendeu uma senhora, que perguntou se íamos pernoitar ali, ao que respondi que estávamos a pensar nisso, e indicou-nos que poderíamos entrar por outro portão mais adiante. Interessante, esta forma informal de se poder visitar as coisas. Ficamos agradecidos aos proprietários, que deixam pessoas usufruir daquele local.

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A telefonar ao proprietário pedindo autorização para entrar (Barragem do Alvito)
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Já dentro da propriedade
O caminho de terra levou-nos pelo meio de um olival até outra cancela que apenas dizia "Feche" e depois finalmente à barragem. A Barragem do Alvito aparece como um oasis e projeta a beleza do Alentejo com a mistura do azul com o amarelo torrado do terreno e o verde escuro das oliveiras e azinheiras. Ao contrário de outras barragens (como no Alqueva, Zêzere ou Douro), o terreno é suficientemente plano para se conseguir ver o horizonte além das margens da água, dando essa impressão de oásis.

O caminho para o local em que tinha imaginado pernoitar estava invadido de vacas numa passagem junto à água. A Filipa, que tem medo de bichos em geral, recusou-se a atravessar a manada. Tentei ponderar se seria seguro fazê-lo, e tendo em conta que nunca tinha ouvido falar numa vaca a fazer mal a uma pessoa - exceto um caso na Índia que correu Mundo - achei que sim, mas a Filipa foi inflexível e ficámos por ali. O local tinha um aspeto paradisiaco e era adequado para montar tenda. Decidimos ficar.

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Lá ao fundo, as vacas a "tapar" o caminho. "Nem pensar passar por ali!" dizia a Filipa

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A sondar o terreno para o banho. As ervas não faziam mal
O Manuel e o Vasco foram direitinhos para a água. Eu tive que ir buscar a bagagem às bicicletas, que estavam relativamente longe porque havia uma vegetação com picos no chão e não quis arriscar ter furos (este "hotel" ainda não era dos com estacionamento privativo ao lado do quarto).

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Bicicleta afastada dos picos
Montámos a tenda enquanto os miúdos brincavam por ali. Corriam e arranjavam brincadeiras com paus e pedras que apanhavam ou outros objetos do campismo. A sensação de liberdade era tremenda. Depois de um banho no rio fizemos o jantar e comemos. Como vínhamos de bicicleta, tivemos que poupar o mais possível na tralha, e os apetrechos para acampar estavam reduzidos ao mínimo, sem cadeiras, sem mesas, apenas um fogareiro pequeno... Mas demo-nos bem. Basta um prato e talheres para cada um, e tá feito. Até tem a vantagem de não sujar toalha e mesa, e acreditem que o Vasco trata de o fazer em qualquer local onde coma. A simplicidade tem vantagens.

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A jantar

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Preparados para dormir, a Lua ao fundo sobre a Barragem do Alvito
Já não acampávamos desde o Verão passado e não sabíamos como eles iam passar a noite. Correu sempre bem, talvez por gostarem de dormir no mesmo espaço que nós, o que normalmente não acontece. O Manuel adora acampar e nunca teve problemas em dormir em tendas. O Vasco, exausto, aninhava-se no seu canto. Quanto ao conforto, tínhamos comprado daqueles colchões individuais que se enchem por si próprios e que pesam e ocupam suficientemente pouco espaço, que cumpriram a sua missão.

Acordar naquele local foi esplendoroso. A paisagem matinal era linda e, isolados do mundo, parecia que estávamos numa terra distante paradisíaca. Só para nós.  Sim, gostamos muito de pessoas mas, vivendo na cidade, por vezes sabe bem o isolamento. As vacas outra vez por perto faziam-nos companhia.

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Primeira visão do dia

Desmontámos as coisas e montei a bagagem. Partimos rumo ao Alqueva.


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Wadjda - De bicicleta, rumo à liberdade.

Pedro M. Fonseca @ Pedalar na Cidade

Publicado em 16/09/2013 às 12:58

Temas: Bicycle Film Festival Lisboa Wadja

A bicicleta facilmente representa o progresso, a mudança e a liberdade.

Esperemos que este filme estreie em breve em Portugal, senão lá teremos que aguardar pela próxima edição lisboeta do Bicycle Film Festival, cuja edição 2013 terminou este Domingo.




A sinopse do filme, via Público.


 

De partida: a felicidade, a incerteza, e O Efeito

João Bernardino @ Aventuras na cidade e Afins

Publicado em 29/08/2013 às 12:21

Temas: Bicicleta Bicicultura Crianças Viajar

Quando começámos a pedalar em Casa Branca, o dia estava quase no fim. Não tínhamos conseguido organizar a carga toda a tempo do comboio das 9 e 50. Na verdade, só conseguimos terminar de organizar as coisas, para tirar umas fotografias da partida, 5 minutos antes de termos sair de casa para ir apanhar o comboio das 16 e 50. Somos desorganizados e normalmente atrasamos-nos para tudo! O ano passado só partimos para férias um dia depois do previsto... Desta vez até tinha feito com antecedência um plano de ação detalhado da logística preparatória, mas uma semana de trabalho complicada e um casamento no dia anterior fizeram com que a preparação não tivesse sido suficiente.

Há também a logística de meter e tirar bicicletas, atrelado, e bagagem, no comboio. Sendo um Inter-Cidades, só permite levar as bicicletas "desmontadas e acondicionadas". Tinha planeado detalhadamente todas as operações. Conseguia meter as duas bicicletas dentro de um saco, mas além das rodas era preciso tirar pedais, selins e pára-lamas. No total, entre transportar e (des)montar bagagem e bicicletas, demorei uma hora em cada extremo da viagem. Como a Filipa tinha que ficar com os miúdos, sobrava também para mim a tarefa de os pôr/tirar tudo do comboio, o que numa estação não terminal (Casa Branca) se antevia um problema. Felizmente os passageiros e o revisor esperararam pacientemente, mas não se pode dizer o mesmo das minhas costas!
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As costas doridas fizeram-me lembrar os primeiros tempos a andar em bicicleta pela cidade. Há dificuldades! O corpo queixa-se. Há coisas que fazemos e pensamos, "nahh eu não estou pra isto." Mas que depois, se formos persistentes, se tornam fáceis... Prova superada!

Andar de comboio é bom. Em família habituada a viajar de carro, é especial. Os miúdos vão à vontade. Saltam pelos bancos, olham pela janela, caminham ao longo do corredor, e de carruagem em carruagem. Conversamos à mesa. Claro que dá mais trabalho, eles andam à solta! Mas a viagem marca. Se a andar de bicicleta se "viaja", a andar de comboio brinca-se e convive-se.

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Dizia que começámos a pedalar apenas às 19.15. Os primeiros minutos foram de êxtase misturado com preocupação. Havia algumas incertezas: incerteza sobre se o equipamento se ia portar bem nos primeiros minutos de andamento. Incerteza sobre se a aventura ia correr pelo melhor. Incerteza sobre onde dormir nessa noite... Apesar das preocupações, conseguimos gozar o momento. "yeeaahhh!!! estamos a começar a nossa grande viagem!!!", consegui libertar.

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Naquela noite, como nas outras, não tínhamos reservado dormida. Íamos preparados para, em último caso, acampar onde fosse preciso. Não o iríamos fazer levemente - nunca tínhamos acampado selvagem com os miúdos, e nunca o tínhamos feito antes sem ter o local estudado. Era um último recurso, mas dava uma certa tranquilidade de, se tudo corresse mal, termos uma tenda para dormir e comida para comer.

A primeira possibilidade nessa noite era ficarmos em Alcáçovas, a 13 quilómtetros. Na minha cabeça havia uma segunda possibilidade, na verdade uma vontade, que era ficarmos numa ribeira (Ribeira de S. Brissos) com que nos íamos cruzar ao fim de 7 quilómetros. Quando passámos por ela, era ainda mais bonita do que parecia na vista do Google Maps. Assim confirmei a minha vontade de ficar, e o Manuel já só falava em ir tomar banho. Tinha a ideia prévia de experimentarmos fazer bivaque logo no primeiro dia, para termos essa experiência num local que eu já tinha estudado, e ficarmos com uma melhor noção sobre se estávamos dispostos a repetir a experiência no resto da viagem. A Filipa estava bastante mais renitente, compreensivelmente!

O assunto ficou resolvido por fatores externos. O tipo de aproveitamento do solo em grande parte do Alentejo determina que os seus grandes terrenos sejam vedados em toda a extensão. Podemos andar quilómetros e quilómetros com uma vedação em ambos os lados da estrada. Ao contrário do que eu esperava, aquela ponte sobre a Ribeira S. Brissos também lá tinha a vedação nos quatro pontos de passagem possíveis.

Seguimos para Alcáçovas. Não faltava muito para anoitecer e não tínhamos local para ficar. Eu tinha encontrado na net o contato de um local para dormir, de orçamento acima do que queríamos gastar, mas que decidimos ainda assim usar para não termos que chegar tarde e sem sabermos onde passar a noite.

Há cinco anos, no extremo Oriente da Turquia, numa povoação remota junto ao Monte Ararat, tivemos uma daquelas experiências que normalmente só se vêm em filmes. Ao entrar na aldeia apareceu-nos uma dezena de crianças para nos ver, sorrir, e correr atrás de nós - porque éramos estrangeiros, ou porque vínhamos num automóvel, talvez as duas coisas, não sabemos bem. Esse momento marcou-nos particularmente nessa viagem. É daquelas coisas que já não é possível experienciar aqui em Portugal há várias décadas... exceto se se andar a viajar em bicicleta com um atrelado e crianças pequenas!

Alcáçovas foi a primeira povoação por onde passámos na nossa viagem, e o impacte da nossa presença foi evidente. Um senhor aplaudia à porta de uma loja. Mais à frente outros comentavam à nossa passagem, "Vão dois!" Quando finalmente perguntámos a alguém na rua onde era a localização do nosso local para dormir, sentimos definitivamente O Efeito!... Rodeados por todos os lados de senhoras de idade, tentávamos explicar-lhes as maravilhas daquele modo de viajar. No dia seguinte, a dona do empreendimento em que ficámos, a quem não chegámos a ver, telefonou-nos de propósito para nos dizer que se tinha cruzado connosco na estrada no dia anterior (ia a caminho de Lisboa), que tinha ficado muito feliz por termos dormido no seu empreendimento, e que podíamos usar a piscina o resto do dia todo (Varandas do Montado, recomenda-se!). Alcáçovas é uma vila muito bonita e interessante, mas acabou por ser O Efeito que mais nos marcou na passagem por ali.

Em vez do campismo selvagem, calhou-nos um fantástico duplex com piscina e vista para os montes do Alentejo!!   "Estamos a habituar-nos muito mal para o resto da viagem", comentei com ironia à Filipa. Ele respondeu que não, e veio a verificar-se que tinha razão...

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A chegada!

João Bernardino @ Aventuras na cidade e Afins

Publicado em 25/08/2013 às 0:11

Temas: Bicicleta Bicicultura Crianças Viajar

Era Verão de 2005, numa encosta bastante inclinada de uma montanha de Andorra, e o Zé Carlos, com uns sapatos de vela calçados, atirava-se às pernas da Filipa para evitar que ela continuasse a escorregar pela encosta abaixo. Encontrávamos-nos a acampar 500 metros de altitude abaixo, e a seguir ao almoço tínhamos decidido experimentar subir ao pico da mesma montanha. Estávamos de tal forma impreparados e inconscientes em relação ao desafio, que a Filipa nem se lembrou de mudar de sapatos. Mais acima, perante as dificuldades, o Zé trocou de sapatos com ela para a ajudar. Não conseguimos chegar ao topo. Aliás, por pouco não tivemos que passar a noite lá em cima, porque era quase de noite e tínhamos perdido o trilho de onde tínhamos partido. Por sorte, encontrámos outro trilho que nos levou, já pela noite dentro, à estrada que ia dar ao nosso parque de campismo.

Mais ou menos 8 anos depois, estava o Zé Carlos na varanda de casa dele em Faro a bater palmas e a assobiar! Éramos nós a chegar da nossa "grande" viagem em bicicleta, entre Casa Branca e Faro, com os nossos dois filhos pequenos. A finalização da viagem em casa do Zé tinha algo de simbólico. Foi juntamente com ele que, depois da subida atabalhoada àquela montanha, comecei a sonhar realizar grandes aventuras de exploração da natureza. Sonhos irrealizados para mim, mas entretanto realizados por ele... A mais recente tinha sido há 2 meses no Evereste. Quando me contou acerca desta, como de outras histórias, lá me queixava eu que ter filhos era espetacular mas que me impedia de fazer certas coisas, como fazer viagens mais aventurosas.

"Invejo-vos, quero fazer o mesmo!" Disse o Zé quando lhe contei ao telefone os nossos planos. Viajar de bicicleta em Portugal com crianças é muito pouco comum, o que lhe atribuía uma certa sensação de pioneirismo (e uma incerteza um pouco desconfortável), mas ter um homem de aventuras a dizer que nos invejava dava-lhe um sabor especial...

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Poucos minutos antes de chegarmos a casa do Zé e da Tânia, pela primeira e única vez na nossa viagem de 315 quilómetros cruzámo-nos com outros cicloturistas! Acenámo-nos mutuamente, tão entusiasmados com a presença de outros cicloturistas como contidos no aceno. Era um casal um pouco mais jovem que nós. Pelo equipamento que traziam, deviam ser também principiantes. Poderíamos ter sido nós poucos anos antes, se a bicicleta tivesse vindo ao nosso encontro mais cedo. Imaginei que, ao cruzarem-se connosco ali, isso tivesse ajudado a tirar-lhes aquela ideia de que depois de se ter filhos acabam-se os outros prazeres, e se tivessem decidido nessa noite a ir em frente!

O facto de, em pleno início de Agosto, apenas nos termos cruzado com os primeiros ciclistas viajantes ao fim de 3 centenas de quilómetros, indica que os caminhos por onde andámos são pouco comuns entre cicloturistas. Uma escolha de percurso realizada por critérios pouco convencionais levou-nos efetivamente a locais que não são dos mais trilhados. Em diversos caminhos, paralelos à fronteira com Espanha, andávamos muitos quilómetros sem ver vivalma, numa sensação de fim do Mundo.

Naturalmente que, se ver cicloturistas por aqueles lados já deve ser algo digno de registo, tornávamos-nos definitivamente o centro das atenções quando os curiosos espreitavam para dentro do nosso Croozer e viam lá dentro o Manuel e o Vasco! Um conjunto de velhotas à nossa volta (acontecimento repetido): "Nunca tinha visto uma coisa dessas. Que amores que eles vão!" "Ah eu vi uma coisa dessas no outro dia na televisão, era um senhor que levava os filhos à escola" (Seria certamente o Gonçalo Peres! Pela quantidade de gente que nos falou da reportagem, ela fez chegar a bicicleta em família a casa das pessoas!) "Mas vão com isso assim daqui ao Algarve??!" Aqui notava-se uma certa dúvida sobre a nossa lucidez... "Vai-se bem, não fazemos demasiados quilómetros por dia, as dificuldades existem mas ultrapassam-se. Os miúdos gostam!" Elas, com a voz emocionada: "Vão com Deus. Muitas felicidades para vocês!!" E lá seguíamos, eu e a Filipa com o conforto no coração que isto dá, o Manuel aliviado das atenções excessivas, e o Vasco a tentar processar tudo isto.

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Pneus para Bicicleta Antiga TURINO 500

LOBO @ OS CLÁSSICOS DO LOBO

Publicado em 19/08/2013 às 10:50

Temas: Acessórios Antigos para Bicicleta Bicicletas Bicicletas Antigas Bicicultura Pneus Turino 500

Quando menos se espera...as coisas aparecem. É pena que às vezes seja na altura errada!
Estes pneus TURINO 500 para roda 20 eram usados nas bicicletas do tipo chopper da Stelber e Iverson nos anos 70 (corrijam-me se estiver enganado).
São raros! Quando tinha a Iverson, bem que andei atrás de um par mas sem sucesso porque são mesmo muito raros. Já após ter vendido a Iverson, na última Automobília de Aveiro, aparece lá um par completamente NOS. Sem traços de uso nem do tempo, fantásticos. São de medidas diferentes, o da frente é 20x.1.75 e o de trás é 20x2.125 tal como era utilizado na época.
Já estou a imaginá-los na Vilar Bacana.
 
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Em Lisboa como em Berlim e Estocolmo

Pedro M. Fonseca @ Pedalar na Cidade

Publicado em 16/08/2013 às 20:54

Temas: bicicleta em lisboa Kathrine Bakke

Uma rapariga ciclista, habituada aos ares de Estocolmo e Berlim, chega a Lisboa e esquece rapidamente a bicicleta, porque, comparavelmente, é uma cidade impossível de percorrer à força de pedais.

Certo?

Ups!:

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Daqui

Não conheço a Kathrine Bakke, mas ela parece conhecer Lisboa muito bem. E para a Kathrine, do aeroporto a casa, o meio de transporte é a bicicleta.

Ah, mas nessas cidades não faz tanto calor como em Lisboa!

Vejamos:
A fotografia foi tirada há duas semanas, já com o Verão a decorrer e no que parece ser o fim do trajecto, Kathrine sorri e cumprimenta-nos com um sinal de vitória. Não parece estafada, nem a suar com a roupa colada ao corpo (para infelicidade da ratio sexy deste post) ou com a língua de fora. Terá um sistema de refrigeração pessoal e portátil avançado? Será uma rapariga fria como a terra de onde provém, imune a qualquer subida de temperatura? Vinha a mascar pastilhas de Listerine? Para o Ciclo-céptico lisboeta tudo será possível, menos que a rapariga tenha chegado ao centro da cidade de bicicleta, vinda do aeroporto sem esforço de maior.

Esta norueguesa escreveu ainda um artigo sobre Lisboa, onde a podemos ver numa fotografia com uma bicicleta de montanha, ups, é de corrida!, normalmente mais usada em competição cidades com poucos declives. Não para Lisboa, é óbvio.

Portanto, todos admitirão que é possível usar a bicicleta em Berlim ou Estocolmo, porque lá é que é fácil, com temperatura amena e estradas planas e sossegadas. Um natural de um desses países, aqui, desistiria às primeiras pedaladas.

De certeza absoluta.

Vá Kathrine, deixa lá a bicicleta, não vez que aqui não dá?


 
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