Aviso: Post compriiiido, com imensas fotografias. (Clicar nas fotos para mais pormenor e melhor navegação entre elas)
No plano de conquista a pedais da Bélgica, Antuérpia, a capital da Flandres e 2ª grande cidade da Bélgica, não podia faltar. Ainda por cima, distando apenas meia centena de km de Bruxelas.
Desta vez com a companhia do Tiago, amigo de longa data, que acabou por embarcar nestas aventuras, de trabalhar em Bruxelas, de usar a bicicleta no dia a dia (uma estreia e um caso e sucesso) e também de "viajar" de bicicleta, num passeio de fim de semana.
Mais uma vez com dormida (e comida) graciosamente cedida pelo Steven, um membro dos Warmshowers, deu para ir no sábado e regressar no Domingo.
O plano de viagem, não haver plano. A rota foi sendo definida à medida que íamos andando, sendo o primeiro milestone chegar ao canal [de água] que seguia de Bruxelas para Antuérpia, embora a ideia não fosse acompanhar o canal até lá, mas ir passando por vários pontos de interesse, como cidades e vilas, etc.
Partida pelas 10h de Sábado. 1ª paragem a 300m de casa, num supermercado, para compras de última hora...
As "burras" carregadas com comida para a viagem, roupas e kit de ferramentas.
Uma holandesa com 3v, um alforge traseiro de 15 litros e uma bolsa de guiador.
Uma estradeira, com dois alforges Ortlieb, um de 20 e outro de 10 litros.
Ao longo de uma avenidazorra, circulámos quase sempre por ciclovia em cima do passeio (sim, também as há, mas menos mal desenhadas, com transições suaves e cruzamentos bem marcados no pavimento - repare-se que a ciclo-faixa é puxada para a esquerda no cruzamento, para diminuir o risco de o automobilista não ver o ciclista).
Uma família de 5, numa deslocação urbana.
Rapidamente estávamos no canal, e ao longo dele seguimos até Vilvoorde, uma vila 12km a norte de Bruxelas. Pelo caminho, algumas pontes, um delas, uma espectacular ponte metálica levadiça com a particularidade de o tabuleiro levantar integralmente, mantendo-se na horizontal.
Vilvoorde, uma pequena vila belga típica, com a bela igreja, uma série de ruas pedonais, bastante gente nas ruas, mercados, etc. Depois de a atravessarmos pelo seu centro, voltámos à estrada "principal" que nos levaria até à cidade seguinte, a cerca de 14km.
Nessa estrada seguimos quase sempre por ciclovias segregadas, já com um cheirinho a Flandres, pois a estrada começava a ser mais dos carros e menos das bicicletas, algo que
je n'aime pas...
Et voilá, em pouco tempo estávamos em Mechelen, uma agradável cidade, com um tamanho considerável, mas com o encanto de uma vila, com canais de água, ruas pedonais com imenso comércio e uma monumental igreja com um torre brutal. Vimos mais gente na rua numa hora do que num fim de semana inteiro em Lisboa. Para aqueles portugueses que querem dinamizar o comércio e só falam no estacionamento para os clientes, está aqui um belo exemplo... do contrário.
Depois de passear pelo centro, no meio de milhares de pessoas, muitas das quais de bicicleta, sem ver qualquer carro (mas vimos um autocarro passar calmamente, sem causar stress, pelo meio de uma multidão numa rua pedonal), acabámos por abancar para comer num pequeno jardim ao lado da Eglise Notre-Dame-au-delà-de-la-Dyle, a tal da torre magnífica, que se pode observar nas fotos em baixo.
Já com um intenso "sabor" a Flandres, continuámos viagem, desta vez voltando a procurar o tal canal que ligava Bruxelas a Antuérpia, que nos tinha guiado na saída de Bruxelas.
Depois de umas voltinhas, lá encontrámos o dito, mas agora com imensa companhia de ciclistas, já que os "belgas-holandeses" são muito mais adeptos deste meio de transporte, vá se lá saber porquê...
Até Boom, vila de nome engraçado, e nosso próximo destino, acompanhámos o canal, com alguns km na roda de três BTTistas, inclusive.
Rede ciclável da Flandres, com todos os cruzamentos entre troços numerados. Para planear uma viagem, basta registar o números dos pontos onde se pretende passar e depois... seguir as indicações.
Em Boom, fizemos uma breve paragem técnica - beber uma - e logo depois seguimos viagem, desta vez por uma via que atravessava várias pequenas localidades, já nos arredores de Antuérpia. Depois de uma paragem para comer, no meio de um parque de lazer, seguimos, pelos "passeios cicláveis" ao estilo holandês....
Uma vez em Antuérpia, combinámos o local de encontro com o nosso anfitrião que veio ter connosco (de Beveren, a 40' de bicicleta). Depois de uma voltinha pelo centro, (super - mesmo - cheio de gente, mais uma vez, com as ruas pedonais, com comércio, como receita de sucesso), aguardámos pelo Steven, que logo nos convidou para ir beber umas com uns outros amigos estrangeiros que estavam de visita à cidade.
Steven, o nosso anfitrião, levando-nos para um bar onde os seus amigos nos esperavam.
Depois de umas cervejas e gins, ainda aproveitámos para subir ao topo do museu MAS, num edíficio, uma espectacular torre, forrada de pedras vermelhas e com grandes paredes de vidro ondulado, que
simboliza a moderna Antuérpia. A vantagem de ser recebido por um local é precisamente esta, sobretudo quando não há muito tempo para visitar calmamente a cidade - vamos logo aos pontos chave.
Localizado numa pequena doca interior, a partir da qual Napoleão Bonaparte começou a expansão até ao tamanho actual, um dos maiores portos comercial do mundo e o 2º maior da Europa (depois de Roterdão).
A torre do museu tem 10 andares e à medida que íamos subindo, íamos assistindo à exposição (sobre desporto, na altura) e a cada vez mais extensas vistas sobre a cidade e o seu porto.
O porto original de Antuérpia era só isto.
Os cicloturistas, já com 60km na pernas...
Tudo o que a vista alcança, para este lado, faz parte do porto de Antuérpia.
Depois desta bela visita, ainda estava reservada outra surpresa de engenharia. Este canal, que se viu nestas fotos ficava entre Antuérpia e o nosso destino, Beveren, e para o atravessar iríamos passar por baixo dele, um túnel 33m abaixo da superfície, construído há mais de 100 anos com recurso a técnicas complexas tais como recorrer a nitrogénio para congelar a terra encharcada para rasgar o túnel. Outra atracção nesta obra são as escadas rolantes de madeira que se preservam até hoje, sempre o uso de materiais da época, para manter a obra intacta.
O edifício que tem a entrada para o túnel.
As famosas escadas rolantes. Até os degraus são construídos com peças em madeira.
Vista para baixo.
Vista para cima.
Dentro do túnel, bem fresquinho no verão e menos frio no inverno.
Com 155m de comprimento é espaçoso suficiente para o tráfego pedonal e de ciclistas.
Depois de subir num mega elevador na outra margem chegámos a um bairro habitacional, com alguma reintegração social, segundo o nosso cicerone. Nada que se notasse, para nós, portugueses, pois o ar da zona era muito normal.
Passados um par de quilómetros o Steven perguntou-nos se queríamos ir pela via principal ou por "dentro", num caminho menos urbano. Obviamente escolhemos a 2ª hipótese e valeu totalmente a pena, já que fizemos um visita ao mundo rural belga, ali, apenas a 6 ou 7km do centro da 2ª maior cidade belga.
(Continuo maravilhado como um país com um terço da área de Portugal, mas com mais uns milhares de habitantes - tem 11 milhões - consegue ter as cidades imediatamente rodeadas de campo e não de subúrbios... Não serão eles os excepcionais, mas sim, nós os sub-desenvolvidos, claro)
E assim chegámos ao nosso destino, a casa do Steven em Beveren, situado 10km a oeste de Antuérpia. Depois de um belo banho e um óptimo jantar ainda apanhámos boleia de carro de volta para a cidade para uma visita nocturna (o Steven trabalhava no turno da noite e não nos pode fazer a visita guiada nocturna :P).
Depois de esplanármos um bocado (ficar horas nas esplanadas é desporto nacional) e de darmos uma volta a pé pelo centro, sem descobrir a movida local, acabámos por regressar de taxi pelas 3h da manhã...
No dia seguinte, depois de um magnífico pequeno almoço, rumámos a Antuérpia para ver mais um pouco da cidade e depois seguimos para sul, em direcção a Bruxelas, desta vez directos a Mechelen, mas sempre, sempre por estradas super secundárias. A ideia era não repetir o caminho e foi um belo passeio.
Ficam as fotos e comentários.
Saída de Beveren...
A entrada para o túnel.
Antuérpia vista no outro lado do canal.
"Ciclo-pose" entre escadas rolantes.
A câmara municipal e a estátua alusiva à cena que deu origem ao nome da cidade, Antwerpen - a mão arremessada. Sucintamente, a lenda reza assim... havia um gigante que cobrava a quem navegasse num rio que passa ao longo da cidade (aquele que agora tem um túnel). Quem se recusasse a pagar ficava sem mãos, pois o gigante cortava-as e atirava-as para o rio. Até que um dia, um jovem romano de nome Brabo enfrentou o gigante. Depois de matar o gigante, cortou-lhe a enorme mão e atirou-a ao rio. Essa mão apareceu na margem do rio onde agora é Antuérpia.
Estes cavalos ainda se avistam muito, por cá.
Eram cavalos de trabalho pesado, os motores de antigamente.
A estação de comboios de Antuérpia. Um monumento brutal.
Um vislumbre do interior. Não há câmara que capte a grandeza deste hall.
Lateral da estação de comboios.
Uma das "praias" de Antuérpia.
Família a pedais (aqui são considerados normais) :).
Casal nas bicicletas de uso partilhado.
Bairro upper class que atravessámos.
Upper class, mas com telhado de colmo...
Uma ciclovia que nos permitiu atravessar um campo enorme.
Mais uma vila (e a respectiva igreja) para trás...
Segregação à holandesa.
De volta às ciclovias laterais ao canal (as que usámos na ida).
Um café junto ao canal com "algumas" bicicletas. :)
Ponte para ciclistas e peões.
Com um joelho a começar a chatear, transformei o Tiago em domestique, e assim galgámos Km em grande ritmo, com o meu joelho a aguentar sem estragar.
De volta a Mechelen, a vila surpresa da viagem.
Palavras para quê...
(abancámos na esplanada da esquerda)
Mais uma Hoegaarden...
Mais um casalinho....
E saímos pelas portas da cidade!
Um dos muitos exemplos de medidas de acalmia de tráfego (os dois sentidos sobrepõem-se um estrangulamento)
Uma ciclovia que tinha avistado da estrada, na ida e que não perdemos, no regresso.
Duas palavras para isto: Bru tal.
Última paragem para a última bucha, em Vilvoorde.
A cidade de Bruxelas aparece no horizonte.
Corrida com o Tram. Deu empate.
Chegada à rotunda de Montgomery, uma espécie de rotunda do Marquês de Lisboa, mas com muito menos carros.
Foto finish 1.
Foto finish 2.
Fim. Foi um post longo, com muitas fotos, mas é impossível comprimir ou deixar mais fotos de lado, de tanto que há para contar e mostrar .... Espero que gostem. Já tenho mais viagem para contar. Em breve, em breve.