O (I)Mobilidade está de volta. Após um longo período sem escrever, por aqui apenas, volto para fazer uma limpeza na casa, retirar umas teias de aranha que espalharam-se pelos cantos e deixar por cá mais um pouco do que vejo, leio e ouço, ou oiço, como queiram.
Tenho pedalado constantemente, quase que diariamente (em julho foram mais de 650 km). Como moro próximo de onde trabalho (ou estudo, depende da interpretação do que é um doutoramento) vou e volto sempre a pé, então não tenho pedalado como "commuting". Para sair para mais longe, como estamos(estávamos) em dupla, utilizo outro par de rodas, meu segundo veículo.
Mas vamos ao que conseguiu quebrar a, minha, inércia e trouxe-me aqui. Tenho lido bastante, escrito um pouco menos, e, quando escrevo, é num formato “mais sério”. Até mesmo aborrecido mas que mostra, a mim ao menos, a importância de ser comprreendido por quem lê o que escrevemos. Como não sabemos quem irá ler, temos que pressupor e ter consideração por todo tipo de leitor. Portanto nossa escrita deve ser clara e cuidadosa. Revelar o que queremos, ou devemos, contar.
– PARA. Volta ao assunto!
Bem, o asunto é o seguinte: li na lista da Massa Crítica – (no facebook - Portugal), uma referência a esta notícia (
http://www.menosumcarro.pt/2012/07/20/conheca-as-10-dicas-para-pedalar-em-seguranca-na-cidade/) que está no site Menos um Carro (
menosumcarro.pt). Este site é;
"Um projecto que se traduz num Movimento a favor de uma mobilidade mais sustentável. O objectivo consiste em convidar cada pessoa a repensar a necessidade de utilização de viatura particular na cidade, dadas as alternativas e argumentos assentes na sustentabilidade. Cada um deverá desejar ser Menos Um Carro! Porque é um Ser mais consciente. Mais cívico. A ideia nasce na CARRIS, empresa de transporte colectivo de passageiros que serve a Grande Lisboa, e intui uma sinergia de esforços, …”
Embora promovido por empresas de transportes públicos (Carris e Metropolitano de Lisboa) tem um canal de notícias muito mais amplo em questões de mobilidade. O que é louvável. O problema é que quando a notícia não tem a assinatura de quem escreveu, o que mostra ao leitor o responsável primeiro pelo que lá está, voltamos nossa atenção àquele que dá o espaço para a notícia.
Eu sei, sou um chato. Se você leu a notícia, muito provavelmente não percebeu nada de grave. Realmente não tem nada muito grave. O problema consiste em não contar, ou escrever, as coisas claramente.
Digo isto porque a partir da primeira frase da notícia, precebe-se duas coisas: a pessoa, ou pessoas, que escreveu (escreveram) não anda (andam) de bicicleta; e a escrita foi descuidada. Cito a primeira frase
"Ao contrário do que se possa pensar, andar de bicicleta na cidade nem sempre é uma tarefa fácil, pois requer alguns cuidados."
Entenderam o que quer dizer esta frase? Afinal é fácil, ou não, andar de bicicleta na cidade? Se partirmos da ideia generalizada de quem não anda, e é fácil identificar esta com o conceito de que é quase impossível andar de bicicleta na cidade, o que está escrito se contradiz. Por outro lado, se quem escreveu andasse mesmo, saberia.
Quem anda de bicicleta pela cidade sabe que é fácil. Requer, pois, alguns cuidados. Tantos quantos andar a pé ou em qualquer outro meio de transporte.
Outra ponto importante quando escrevemos é não modificar, mesmo que pouco, o teor do que foi escrito no original. Se você não cuidar do que escreve pode mudar o entendimento geral sobre o que referenciou em sua escrita. Não que o original deste caso seja perfeito, mas pelo menos foi escrito por quem conhece a realidade de andar de bicicleta na cidade, mesmo que seja uma realidade um pouco diferente da nossa.
Quero deixar claro que minha intenção é a de brincar com os textos, e consequentemente com o entendimento que os leitores podem fazer dele. Louvo todas as atitudes em prol de uma mobilidade centrada nas pessoas, e não nos carros. Fazer com que o ato de “ciclar” seja seguro para todos, principalmente aos próprios ciclistas e aos peões (pedestres) que são os elos mais vulneráveis desta corrente chamada trânsito, deve ser parte da preocupação de todos. Minha, sua, e principalmente dos políticos e autoridades competentes que devem legislar, promulgar leis, fiscalizar o cumprimento e por fim multar e punir aqueles que as infringem.
Dito isto, vamos aos textos. Em
vermelho está o texto do “Menos um carro” e em
amarelo o texto (original) do “Eu vou de bike”.
"Para garantir a segurança dos utilizadores de bicicleta na cidade, o blog brasileiro “Eu Vou de Bike” compilou uma lista com 10 dicas preciosas."
"Ao longo das próximas semanas, vamos compilar aqui no Eu Vou de Bike uma série de dicas que já publicamos ao longo de quase dois anos de blog. Nesta segunda, vamos dar algumas dicas de segurança para pedalar nas grandes cidades com mais tranquilidade. Veja as dicas abaixo e deixe suas sugestões nos comentários!"
Perceberam que quem compilou uma lista com 10 dicas foi o "Menos um carro"?
Agora as dicas:
1. Assegure-se que é visto pelos automobilistas. Durante o dia, utilize cores vibrantes como amarelo, vermelho ou laranja na sua bicicleta – é uma forma de ser identificado facilmente. No período nocturno, procure utilizar a cor branca, além das fundamentais iluminações dianteiras e traseiras e dos reflectores obrigatórios.
- A primeira dica ao pedalar no trânsito é ter certeza de estar visível aos motoristas. Durante o dia, utilize cores vibrantes como amarelo, vermelho ou laranja. No período noturno, procure utilizar a cor branca, além das fundamentais iluminações dianteiras e traseiras e dos refletores obrigatórios.
Ser visível é importante, mas cores vibrantes e "na sua bicicleta"?
2. “Pedale defensivamente, mas nunca timidamente”. Adopte uma postura ostensiva, de modo a transmitir segurança aos automobilistas à sua volta.
- Pedale defensivamente, mas nunca timidamente. Você deve sempre ter uma postura ostensiva, de modo a transmitir segurança aos motoristas à sua volta. Com isto, você os ajudará a antecipar as suas intenções de percurso, deixando-os confortáveis em dividir a rua com você.
Está é difícil de perceber. Pedale defensivamente. Muito bom, tanto pedalar, como andar e até mesmo conduzir deve-se fazer defensivamente, ou seja, deve-se antecipar toda acção que possa trazer perigo a si e aos outros. Como é pedalar timidamente? Fiquei em dúvida se é as escondidas... Por fim uma postura ostensiva. Ostensiva? Como um único ciclista pode ser ostensivo? E como ser "ostensivo" pode transmitir segurança aos condutores e motoristas? "Deixando-os confortáveis"... Realmente difícil de compreender. Ficava mais fácil dizer para pedalar defensivamente e seguro dos seus movimentos, não mudar de direcção abruptamente ou sem sinalizar. Enfim...
3. Observe atentamente o comportamento dos automobilistas e procure manter uma distância suficiente para não ser surpreendido com, por exemplo, uma porta que se abre repentinamente.
- Observe sempre o comportamento dos motoristas, inclusive os estacionados, e procure manter uma distância suficiente para não ser surpreendido com uma porta que se abra repentinamente e que possa atingir sua bicicleta.
Não sei se foi uma economia de palavras, ou se quem escreveu o texto (em Portugal) pensa que os automobilistas abrem as portas em andamento.
4. Fique atento aos três principais erros dos automobilistas: virar à esquerda repentinamente quando é seguido por um ciclista; desobedecer aos sinais de trânsito, sendo o mais comum ultrapassar no sinal vermelho; ultrapassar um ciclista para imediatamente virar à direita.
- Você deve ficar atento e evitar os três principais erros dos motoristas, a saber: virar a esquerda na frente a um ciclista que seguirá reto; desobedecer aos sinais de trânsito, sendo o mais comum ultrapassar no farol vermelho; ultrapassar um ciclista para imediatamente fazer uma conversão a direita.
Serão estes os principais erros dos automobilistas? Mas vamos lá. O primeiro. A versão brasileira deveria ter acrescentado que o ciclista vem em sentido contrário, só assim faz sentido já que é normal o ciclista estar à direita e atrás do carro e não à esquerda e a ultrapassar o carro (a menos que o carro tenha enconstado à direita para virar à esquerda, confuso mas acontece). Já a versão portuguesa omitiu o "seguirá reto" e ficou ainda mais difícil de entender. Se o carro está a frente do ciclista e vira à esquerda o que tem o ciclista, que está atrás do carro, com isso? Será que apanhará um susto? O segundo. "
Desobedecer os sinais de trânsito", no Brasil pode ser
"o mais comum" ultrapassar o sinal vermelho, mas por cá este erro não é comum, sendo mesmo raro nos cruzamentos, mas nunca se sabe ... O último erro mencionado é clássico e comum à maior parte dos condutores, haja visto o que aconteceu em
Londres (com a devida troca de lados) . Neste caso, só mesmo pedalando defensivamente e com muita atenção aos automobilistas.
5. Esteja atento a todos os sinais sonoros. Por isso, evite pedalar com os fones no ouvido, principalmente se existir muito trânsito.
- Seus ouvidos devem ser utilizados como um verdadeiro “detector de perigo”. Para isto, evite pedalar com fones de ouvido, principalmente se o tráfego estiver intenso.
Gostei mais da versão portuguesa. Se for pedalar com auscultadores (fones de ouvido), tenha o volume baixo, que permita escutar, além da música, o som do trânsito.
6. Dê a conhecer aos automobilistas as suas intenções. Use o braço esquerdo (com o dedo apontando para baixo) para indicar que vai virar à esquerda.
- Sempre que você sinaliza suas intenções, você ganha a confiança dos motoristas. Use o braço esquerdo (com o dedo apontando para baixo) para virar a esquerda. A palma da mão voltada para baixo significa que você vai frear.
Confesso minha ignorância, braço esquerdo com o dedo apontado para baixo indica que vou virar à esquerda? Palma da mão virada para baixo, vou travar? Concordo com a versão portuguesa que diz
"dê a conhecer as suas intenções" é realmente mais seguro para si, já não sei se ganho
"a confiança dos motoristas" com isso.
7. Durante a viagem de bicicleta não pegue, com a mão direita, numa garrafa de água . Pois, se precisar de parar de repente, só poderá fazê-lo com a mão esquerda, travando apenas a roda dianteira e aumentando as possibilidades de sofrer uma queda.
- Uma dica aparentemente “boba” mas que acontece com uma grande frequência: jamais pegue a garrafinha de água com a mão direita. Desta forma, se precisar frear de repente, o ciclista o fará com a mão esquerda, freando apenas a roda dianteira, aumentando as chances de uma queda.
Esqueceram-se das bicicletas sem travão (fixas) e das bicicletas com os travões trocados. Mas é sempre bom tomar cuidado com o travão da roda dianteira, principalmente se o piso estiver escorregadio.
8. Se o trânsito estiver parado, siga em frente, mas com cuidado.
- Se o trânsito estiver parado, vá em frente com cuidado.
Parado como? Esta dica está mais para "ande sempre com cuidado" e pronto.
9. Se preferir ir a pé, coloque a bicicleta junto a si.
- E se estiver melhor para ir a pé, pare a bicicleta e vá a pé, conduzindo a bike junto a você.
Não sei onde colocaria a bicicleta quando a levo pela mão. Realmente...
10. Procure não circular perto de um autocarro ou camião.
- Procure não trafegar junto a ônibus ou caminhões.
Faltou uma condição muito importante nesta dica. "Procure não circular NO PONTO CEGO de um autocarro ou camião". Se está a pedalar no trânsito, tanto os camiões quanto os autocarros fazem parte dele, sendo muitas vezes mais seguro estar perto de um autocarro da Carriz do que de muitos taxis cá por Lisboa.
Estas dicas que seguem foram "esquecidas" na versão portuguesa.
- Não dispute espaço, evite ficar inesperadamente entre veículos e procure pedalar sempre onde possa ser visto.
JAMAIS:
- pedale na contra-mão;
- fique entre ônibus ou, pior, caminhões;
- pedale muito próximo do meio fio;
- brigue, xingue ou entre em discussões no trânsito.
CUIDADO:
- com pedestres em geral;
- quando o trânsito começa a se movimentar;
- com motociclistas apressados.
A minha conclusão é a de que fiquei chato, muito chato, com este negócio de escrever. Ainda mais quando não tem fotos. Talvez seja a idade …