Projecto Bacalhau: Dia 11 - O Equipamento

@ Lisboa Bike

Publicado em 3/05/2021 às 14:41

Temas: bikepacking viagem volta a Portugal

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Pronta a rolar

É o décimo primeiro dia da viagem. Fechados numa tenda pouco maior que um sarcófago, o Dentuça e eu observamos a chuva cair no Gerês. Chove continuamente durante toda a manhã. As minhas regras dizem que não se arranca debaixo de chuva e gosto ainda menos de arrumar uma tenda molhada. A determinada altura demos a manhã como perdida e com ela o dia todo. Já não valia apena arrancar. E continuava a chover.


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    O acampamento base


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Mudar o dropout sem tirar o cabo do desviador


Concentrei-me no que podia fazer. Procurei um lugar abrigado no parque, e fui tratar do desviador traseiro. A queda do dia anterior provavelmente teria empurrado o desviador e o dropout estaria torto. Uma coisa que acontece. Por isso mesmo, tinha comigo um dropout extra, foi questão de trocar e afinar. Ficou muito melhor, mas a indexação mais tarde veio a dar problemas e só resolvi isso já na estrada.  

Aproveitemos esta pausa na viagem para falar do que tenho comigo para permitir fazer estes quilómetros com algum conforto. Falemos então do equipamento.

A Bicicleta

A minha bicicleta é uma TRIBAN RC 520 GRAVEL de 2019. Este modelo é uma versão gravelizada daquilo que no fundo é uma bicicleta de estrada de endurance (A Triban 520 standard). Trata-se pontanto de uma bicicleta de estrada com uma posição confortável, apta para grandes distâncias. Tem travões de disco e o quadro aceita pneus até 36mm, oficialmente, e 40mm não oficialmente.


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Uma das alterações feitas à Triban


As diferenças para o modelo mais convencional são a pintura especial, o guiador mais largo e com flare, 46cm no meu caso, e os pneus largos Hutchinson Overide, de 35mm. A estas diferenças tenho de acrescentar as que eu próprio levei a cabo. A Saber: 

  • A pedaleira Shimano 34-50 pareceu-me demasiado para uma bicicleta carregada, e alterei para uma Miche 30-46 ligeiramente mais leve e bem mais simpática nas subidas. 
  • Pelas mesmas razões, a cassete 11-32 de origem foi trocada por uma Shimano 105 de tamanho 11-34, o maior tamanho que o desviador aceita (a acreditar na Shimano, mas ninguém acredita).
  • Os pneus foram os mesmos recomendados pela marca, mas montados Tubeless.
  • O guiador foi trocado por um FSA de 44cm, também de gravel, por uma questão de tamanho, mas também por preferência ergonómica.
  • O espigão do selim, e o avanço foram trocados por questões de bike fit, e também estética e peso.
  • Os pedais são uns SPD da Shimano, os PD-M540.
  • As rodas de origem, por fim, foram trocadas por umas DT Swiss, uns cubos 240 montados em simples aros R470 da mesma marca, um conjunto robusto e suficientemente leve.

Tudo somado, a bicicleta pesava cerca de 10,25Kg. Para descer deste peso, era preciso gastar bastante dinheiro. Para mim o peso era suficiente, e as escolhas davam garantias de fiabilidade, que era o mais importante. 

Os Sacos

Para transportar tudo o que era necessário, optei por um set-up convencional de bikepacking, saco de guiador, bolsa de quadro, bolsa de selim e mais uma bolsa pequena de tubo superior.  Tinha também dois feedbags no guiador, para água e comida. Abaixo ficam as capacidades e os conteúdos.


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Saco de Guiados da Topeak


Saco de Guiador. É um modelo de 8 Litros, e servia para transportar a tenda de 1 pessoa da Decathlon, de 1.6Kg, mais o colchão de campismo insuflável. A arrumação tem a ver com o formato da tenda, mas também ajuda na distribuição de peso.


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Esses chinelos já viram muita coisa!


Saco de selim. Modelo de 10 Litros, aqui ia o kit de comida (o fogareiro a álcool, álcool, mais o pote, isqueiro, talheres e mini esponja para lavagem), mais o saco cama ultra leve, e roupa. A roupa para ciclismo que não ia vestida era constituída por jersey, jersey de inverno e impermeável, e manguitos e pernitos. Para uso fora da bicicleta tinha uma t-shirt de desporto ultra leve e uns calções de desporto genéricos. Levava alem disso uma muda de meias e roupa interior, e uma toalha de desporto de secagem  rápida. Amarrados por cima do saco, embora por vezes fossem noutro lado, ficavam uns básicos chinelos de dedo.


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Conteúdo da bolsa de quadro Restrap


Saco do quadro. Modelo de 4.5 Litros. Aqui viajavam a minha mini-bomba, câmaras de ar, as ferramentas, as peças extra, e alguma comida. Havia também um pequeno kit de primeiros socorros, e o necessaire. Os itens de electrónica viviam também aqui, powerbanks (2x5000mAh), tomada USB com várias saídas, rádio MP3, auriculares, cabos. Tinha também um cadeado baratucho, para aqueles momentos em que tinha mesmo que deixar a bicicleta sozinha por uns minutos. Todos os sacos são da Topeak, excepto este do quadro, que é da Restrap.


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Bolsa de quadro Topeak


Bolsa de quadro (tubo superior). Cerca de 0.5 Litros. Aqui estavam barras energéticas e outros itens pequenos, como luzes. Por vezes o powerbank vinha para aqui, para uso em andamento, mas foi coisa que nunca foi necessária, pois o meu GPS aguenta mais de 30h seguidas de navegação.  


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Vista do Cockpit 


Feedbags. Cerca de 0.6 Litros (x2) Nestas úteis bolsas transportava 1 bidão de 600ml e comida. Por exemplo um pacote de frutos secos já aberto. Escolhi levar estas bolsas em parte devido à impossibilidade de transportar mais água no quadro, existem apenas os dois apoios tradicionais e com os sacos apenas conseguia montar bidões relativamente pequenos. Tudo somado transportava 600ml x2 + 750ml, ou seja quase 2 litros de líquidos. 


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A minha capacidade de água para a viagem


O peso de todo este material totalizava 8Kg, o que me deixava razoavelmente satisfeito. No início do projecto tinha decidido que o peso total para a viagem não deveria ultrapassar os 100Kg, para poupar as rodas e manter algum prazer na condução, também nas subidas e fora de estrada. A meta foi atingida, mas eu tive de perder algum peso antes da data da partida!

Dia 11. Entre Ambos os Rios. 0Km.
 

Escola de Bicicleta Online: o pontapé de arranque

Ana Pereira @ Escola de Bicicleta

Publicado em 30/11/2020 às 18:44

Temas: A escola Campanhas de redução de risco rodoviário Código da Estrada Dicas para condutores de automóvel campanhas cursos online educação infográficos segurança rodoviária

Já há muito que queríamos expandir o nosso alcance com as atividades da escola, tínhamos alguns cursos com currículos e guiões alinhavados, mas era sempre trabalho que se arrastava, pois era não urgente, e era o tipo de trabalho que requer uma dedicação consistente e regular ao longo de muitas semanas, o que é difícil de conseguir conciliar com as atividades normais do quotidiano.

A culpa é da covid19

Bom, veio 2020, a pandemia e o primeiro confinamento em Março, que nos deram um chuto no traseiro para tirarmos isto da gaveta e avançarmos de uma vez. Havia – e há – tanta gente a querer começar a usar [mais] a bicicleta no dia-a-dia, seja para transporte ou para lazer e desporto e manter a sua sanidade mental e evitar o carro, que optámos por dedicar os primeiros cursos a essas pessoas e apoiar a transição modal do carro para a bicicleta.

Obrigada, Fundo Ambiental!

Resolvemos candidatar a realização destes 3 primeiros cursos a um apoio do Fundo Ambiental, no âmbito da Estratégia Nacional de Educação Ambiental 2020, para nos dar um balão de oxig€nio para podermos tirar tempo para isto e… woohoo, ganhámos!! 😀

Então, desde Agosto que o projeto “Escola de Bicicleta Online” da Cenas a Pedal, com o apoio do Fundo Ambiental, nos tem absorvido uma parte muito substancial do nosso tempo.

O primeiro curso é sobre “O Código da Estrada e as Bicicletas“, o segundo é sobre “Como Pedalar em Segurança pela Cidade“, e o terceiro é sobre “Como Transportar os 4Cs em Bicicleta: Crianças, Cães, Compras e Outras Cenas“.

Recrutamento de beta testers / fazer cursos à borla!

No âmbito do projeto com o Fundo Ambiental precisamos de ter em muito pouco tempo 100 alunos a fazer os cursos, e avaliar métricas de impacto. Por isso, temos 100 vales de oferta para oferecer à malta, e queremos que estes 100 beta testers sejam o mais diversos possível, homens, mulheres, todas as idades, da cidade, do campo, iniciantes e veteranos da bicicleta, que usam a bicicleta como transporte ou só para lazer ou desporto, que conduzam, além da bicicleta, carro, mota, camião ou autocarro!, ou que não conduzam mais nada, que sejam doutorados ou que tenham ficado pela 4ª classe – queremos uma amostra o mais diversa possível para testar e avaliar a plataforma e os cursos propriamente ditos.

Interessado em ajudar-nos? Escreve para escola@cenasapedal.com e diz-nos “quero ser um beta tester dos vossos cursos!” 🙂

Um infográfico para mudar comportamentos

Entretanto, lembrámo-nos de adaptar alguns dos nossos slides do curso sobre o Código da Estrada e criar um infográfico sobre a principal questão que aflige qualquer pessoa que considera andar de bicicleta: a forma como é ultrapassada por quem vai a conduzir um carro.

A nossa ideia foi criar algo para as pessoas divulgarem facilmente e que ajudasse a mudar a cultura atual, ilustrando a forma correcta (e algumas incorrectas) de se ultrapassar alguém numa bicicleta quando nós vamos de carro, segundo o Código da Estrada (que desde 2013 está muito melhor relativamente a esta questão da ultrapassagem).

Como ultrapassar um ciclista / como ultrapassar uma bicicleta?
#PassaParaAOutraVia

Em cima da bicicleta vai o filho, o irmão, o pai, o marido, o amigo de alguém. Não devemos ser nós a impedi-lo de chegar vivo e bem a casa e aos seus, só porque não concordamos que ele ande de bicicleta “ali”, ou que conduza “daquela forma”.

Vou de carro, à frente há alguém numa bicicleta e quero ultrapassar? Boa, mas só quando for seguro, e depois:

1. Passar para a via do lado (mesmo que consiga dar 1.5 m de distância lateral sem o fazer)

2. Abrandar

3. Dar 1.5 m ou mais de distância lateral, mesmo que já tenha passado para a via ao lado.

Mudo para a via do lado sempre, e totalmente (e não aquela cena de andar no meio da estrada com o rodado esquerdo numa via, e rodado direito noutra via), independentemente da posição da bicicleta na sua via (ao centro ou mais à direita, ou outra), e abrando e dou o tal 1.5 m ou mais.

Mudo para a via do lado sempre, e totalmente (e não aquela cena de andar no meio da estrada com o rodado esquerdo numa via, e rodado direito noutra via), independentemente da posição da bicicleta na sua via (ao centro ou mais à direita, ou outra), e abrando e dou o tal 1.5 m ou mais.

Não quero arriscar tocar na pessoa ou na bicicleta e fazê-la cair, nem quero atropelá-la se ela cair por qualquer razão, daí a distância e o abrandar. As bicicletas oscilam para se manterem equilibradas, e são vulneráveis a quedas por coisas que não nos afectam de carro (vento, buracos, etc).

Todo o condutor conta com toda a largura da sua via para se movimentar e lidar com o que lhe aparece à frente. Ninguém está à espera, nem gosta, de ter outros veículos a passá-lo dentro da sua via, mesmo que só parcialmente, e mesmo quando vai dentro da bolha-carro. E há 7 anos que tal é proibido!

Se isto é uma péssima ideia de se fazer a um carro, é fácil de perceber que é uma ideia asinina quando aplicada a alguém num veículo de duas rodas, e em particular a alguém numa bicicleta…Mas mtas vezes não dá para cumprir isso tudo! Certo. Duas hipóteses: não ultrapassar enquanto não der – vai dar dali a uns segundos, concerteza. Nos raros casos em que não vai dar tão cedo, aguentar, ou *se for seguro* ultrapassar sacrificando algum do espaço, mas na via do lado, e abrandando ainda mais!

Ah, e o que é 1.5 m, mesmo? É o espaço necessário para caber uma pessoa de braços abertos. É o espaço para caber lá um Smart Fortwo. É metade da largura de uma via de trânsito típica. #PassaParaAOutraVia e tens logo a coisa mais ou menos feita na maior parte dos casos.

Somos todos tipos inteligentes e boas pessoas. We can do this! 😊 Partilhas com a tua rede? Vamos ser melhores seres humanos uns para os outros. 😉

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Cicloturismo com Crianças: Vouga e Dão

Gonçalo Peres @ Viagens a Pedal

Publicado em 13/09/2020 às 8:25

Temas: Famílias e crianças Geral cicloturismo crianças férias multimodalidade relatos Verão viagens de bicicleta

Introdução

Na segunda quinzena de Agosto 2020, fiz mais uma aventura em bicicleta com os meus filhos (8 e 12 anos), durante 10 dias. O plano foi explorar a Ecopista do Vouga e a Ecopista do Dão, com vários desvios pelo caminho, para desfrutar de praias fluviais e outros lugares interessantes e apelativos para as crianças.

Clique na imagem para ver o percurso completo das viagens gravadas no Strava e carregadas para o Alltrails.com

Esta viagem surge no seguimento de outras aventuras no passado, que começaram com pequenas viagens de 2 ou 3 dias (exemplos aqui e aqui) e que serviram para ganhar experiência, testar equipamento, ver o que funciona, o que é preciso e o que está a mais. As minhas viagens a solo, desde 2014, também me permitiram perceber a dinâmica do tráfego rodoviário em determinadas regiões e as infraestruturas existentes para viajar de bicicleta com duas crianças.

Em Agosto de 2017 fizemos uma viagem de 4 dias no centro-oeste, entre Marinha Grande e Óbidos (com amigos). Em Junho de 2018 fizemos uma viagem de 6 dias pela Costa Vicentina, entre Vila do Bispo e Vila Nova de Milfontes (com amigos). Em 2019 fizemos a nossa maior viagem – 13 dias pelo Alto Minho, da qual resultou uma série de vídeos.

Em todas estas viagens utilizamos apenas as bicicletas e transportes públicos (comboio e autocarro) para nos deslocarmos. Nas primeiras viagens cheguei a levar um atrelado para o meu filho mais novo, que na altura apenas pedalava nas partes mais fáceis. As bicicletas foram acompanhando o seu crescimento e o equipamento de campismo foi estabilizando. Hoje em dia é fácil tomar a decisão de rapidamente partir em mais uma viagem. A tecnologia que temos hoje na palma das mãos, com um smartphone, também ajuda a improvisar e readaptar a viagem, diariamente, ao sabor do momento e das vontades. A nossa geografia portuguesa, com curtas distâncias entre pontos de abastecimento e de interesse, grande variedade de atrações (aldeias históricas, praias fluviais, etc.), também tornam Portugal um país com um enorme potencial para este tipo de aventuras. Numa altura em que é importante reduzirmos a nossa pegada ambiental e “desacelerarmos o ritmo”, ao mesmo tempo que as pessoas procuram proximidade com a natureza, sem a estragar, este tipo de viagens fazem cada vez mais sentido e recomendam-se. É fundamental haver um investimento sério, planeado e articulado com a ferrovia, a nível nacional e regional, em ecopistas, ecovias, assim como sinalização e acalmia de tráfego na extensa rede de estradas secundárias com pouco movimento rodoviário motorizado que existem em todo o país, que permitam tirar partido deste enorme potencial turístico sustentável. A Rede Nacional de Cicloturismo também é uma boa referência.

Uma breve descrição desta viagem

Vídeo dos primeiros 3 dias da viagem. Parte 2 e 3 desta viagem também disponíveis no canal.

No dia 20 de Agosto de 2020 apanhámos um comboio InterCidades até Aveiro, e começámos a pedalar em direção a Sernada do Vouga, onde se inicia a Ecopista do Vouga. Também é possível apanhar um comboio regional para fazer este primeiro troço, mas preferimos pedalar. Porque eram apenas 25 kms e já tinha testado umas estradas secundárias com pouco tráfego e porque o material ferroviário que percorre este troço (e que tinha visto parado em Sernada do Vouga há uns meses) é uma antiga, “fumarenta” e ruidosa locomotiva a diesel, com as janelas cobertas de grafitti, onde até a paisagem deve ser difícil de disfrutar…  Por isso, chegados a Aveiro, mesmo a chover ligeiramente, fizėmo-nos à estrada. Tivemos de fazer três paragens para nos abrigar, quando a chuva se tornava mais intensa. Chegámos a Paradela às 20:00 e para grande sorte nossa deixaram-nos pernoitar dentro da antiga estação (deve ser o “karma” dos Warmshowers que acolhi 😉 ).

  • Dia 1: De Aveiro até Sernada do Vouga por estradas secundárias, com chuva
  • Dia 1: Km Zero da Ecopista do Vouga
  • Dia 1: Ecopista do Vouga
  • Dia 1: Ecopista do Vouga
  • Dia 1: Ecopista do Vouga
  • Dia 1: Ecopista do Vouga

[Pode clicar nas fotografias e ver em slideshow]

No segundo dia, já com sol, fomos à Praia Fluvial Quinta do Barco, onde alugámos um kayak e demos uns mergulhos. Ao final do dia ainda regressámos à ecopista e pedalámos uns quilómetros, até encontrarmos um bom local para acampar, debaixo dum telheiro num parque de merendas.

  • Dia 2: Passeio de Kayak no Rio Vouga
  • Dia 2: Praia Fluvial Quinta do Barco
  • Dia 2: Ecopista do Vouga
  • Dia 2: Ecopista do Vouga
  • Dia 2: Pernoita protegida por um telheiro num parque de merendas

No terceiro dia chegámos a S. Pedro do Sul e passámos a tarde no bonito e recente Parque Urbano das Nogueiras. Fomos também conhecer a Praia Fluvial de Pouves e acabámos a dormir na Pousada da Juventude.

  • Dia 3: Pequeno Almoço
  • Dia 3: Parque Urbano das Nogueiras
  • Dia 3: Parque Urbano das Nogueiras
  • Dia 3: Parque Urbano das Nogueiras
  • Dia 3: Tão amigos….
  • Dia 3: Praia Fluvial de Pouves

No quarto dia afastámo-nos novamente da ecopista e subimos 10 kms por tranquilas estradas municipais até ao Poço Azul, perto de Santa Cruz da Trapa. Chegámos ainda cedo e os meninos adoraram o lugar. A certa altura, estava eu junto à água e uma pessoa pergunta-me se é o meu filho que está no “local dos saltos”, a 6 metros de altura da água. Respondo que sim, mas que não acreditava que ele tivesse coragem de se atirar… Estava a falar com um outro rapaz mais velho que já tinha saltado algumas vezes e lhe explicava como fazer. Dois minutos depois o Diego salta, para minha surpresa! O resto da tarde foi passado a saltar das rochas para a água e a explorar a natureza envolvente. Até eu tive de saltar, para não ficar mal na “fotografia”… No final do dia, voltámos às bicicletas e subimos mais um pouco até ao Bioparque de Carvalhais, em pleno Parque Florestal do Pisão, onde acamparíamos as próximas duas noites.

Vídeo do Poço Azul:

  • Dia 4: A caminho do Poço Azul
  • Dia 4: Poço Azul
  • Dia 4: Poço Azul
  • Dia 4: Poço Azul
  • Dia 4: A caminho do Bioparque de Carvalhais

Começámos o quinto dia com uma atividade de Arborismo relativamente exigente. O Filipe conseguiu fazer o percurso, mas com a minha ajuda. Alguns adultos não conseguiram e estavam bastante receosos e atrapalhados! Passámos o resto do dia na piscina com um mega escorrega e uma bonita envolvente florestal de montanha. Fizemos ainda uma caminhada ao final do dia pelos Moinhos do Pisão.

  • Dia 5: Toca a acordar!
  • Dia 5: Arborismo
  • Dia 5: Piscina com escorrega
  • Dia 5: Levadas dos Moinhos do Pisão
  • Dia 5: Rotas pedestres no Parque Florestal do Pisão
  • Dia 5: Parque de Campismo do Bioparque

No sexto dia regressámos a S. Pedro do Sul onde apanhámos novamente a Ecopista do Vouga, sempre a subir suavemente até Viseu. Esta é a parte menos cuidada e mais abandonada da ecopista, principalmente entre Bodiosa e Viseu, com o antigo canal ferroviário a desaparecer por diversas vezes e a termos de circular pela estrada nacional em algumas partes. Chegados a Viseu, fomos deixar as bicicletas e alforges na Pousada da Juventude e fomos dar uma volta pelo centro histórico, onde os meninos se divertiram a subir e saltar os penedos encostados à Sé Catedral de Viseu. Apesar dos 45 kms percorridos nesse dia, maioritariamente a subir, comprova-se que a energia das crianças é muito maior do que julgamos e depende apenas da motivação adequada. A noite ainda se prolongou ao encontrarmos uma autêntica “feira popular” instalada no meio da cidade, uma “versão light” da famosa “Feira de S. Mateus”. Os carrinhos de choque, as camas elásticas e outras diversões fizeram os meninos não querer terminar o dia tão cedo!

  • Dia 6: De regresso a S. Pedro do Sul
  • Dia 6: Ecopista do Vouga em S. Pedro do Sul
  • Dia 6: Rio Vouga
  • Dia 6: Ecopista do Vouga
  • Dia 6: Catedral Sé de Viseu
  • Dia 6: Feira de S. Mateus
  • Dia 6: Parque de Diversões
  • Dia 6: Parque de Diversões
  • Dia 6: Carrinhos de Choque
  • Dia 6: Carrossel

No sétimo dia continuámos a explorar Viseu, com os seus bonitos jardins. Os meninos experimentaram uma hora e meia de patinagem na famosa pista do Palácio de Gelo. Ainda visitámos o Solar dos Peixotos, edifício recuperado e onde está instalada a Junta de Freguesia de Viseu, a convite de um dos vereadores que conhecemos na noite anterior. A Mata de Fontelo também é um lugar a não perder, para estar perto da natureza. Claro que à noite regressámos ao parque de diversões, para gáudio dos meninos!

  • Dia 7: Rua Direita, centro histórico de Viseu
  • Dia 7: Pista de Gelo
  • Dia 7: Mata do Fontelo
  • Dia 7: Mata do Fontelo
  • Dia 7: Mata do Fontelo
  • Dia 7: Pousada da Juventude de Viseu

No oitavo dia pegámos novamente nas bicicletas e começámos a descer a Ecopista do Dão, a parte mais fácil da viagem, com o seu piso de ciclovia e maioritariamente a descer suavemente na direção que levávamos. Antes do almoço já estávamos a fazer o primeiro desvio para a Praia Fluvial de Nandufe, a pouco mais de 1 km da ecopista. Ali ficaram os meninos entretidos nas brincadeiras de saltar das árvores para o rio até ao final da tarde. Por volta das 19:00, pegámos nas bicicletas – ainda remendei um furo a um dos rapazes que morava numa aldeia perto e tinha ido de bicicleta – e fomos diretamente até Tondela, à procura dum lugar para jantar. Encontrámos o Gastrófilo, que tinha exatamente o que todos gostávamos: esparguete à bolonhesa para eles e uma boa salada para mim! Nesse dia pernoitámos perto da antiga estação de Tondela.

  • Dia 8: Ecopista do Dão, Viseu com piso vermelho
  • Dia 8: Antiga Estação com café, restaurante e aluguer de bicicletas
  • Dia 8: Praia Fluvial de Nandufe
  • Dia 8: Restaurante Gastrófilo em Tondela
  • Dia 8: Mais uma pernoita por aí…

No nono dia da viagem, continuámos a descer a Ecopista do Dão, mas por poucos kms, pois havia mais uma praia fluvial para explorar. Ferreirós do Dão ficava apenas a 4 kms da ecopista, mas havia duas passagens de rios para transpor – Rio Dinha e Rio Asnes, ambos a desaguar no Dão – o que implicava algum sobe e desce. Mas valeu bem a pena. A praia fluvial é muito bonita, com uma ponte romana bem conservada e uma represa a proporcionarem um belo enquadramento paisagístico, muita área disponível, pouca gente, sombras, águas profundas para nadar à vontade e algumas rochas para os meninos se divertirem a saltar. Pelo lado negativo, o café de apoio estava fechado, bem como as casas de banho. Mas havia água potável e na vila, a 700 metros da praia o “Cantinho da Valéria” (padaria, pastelaria, pizzaria e mini-mercado) servia de abastecimento. Ali passámos o resto do dia e pernoitámos.

  • Dia 9: Ecopista do Dão, concelho de Tondela, com piso verde
  • Dia 9: Ferreirós do Dão
  • Dia 9: Praia Fluvial de Ferreirós do Dão
  • Dia 9: Praia Fluvial de Ferreirós do Dão
  • Dia 9: Pernoita na praia

No décimo e último dia da viagem ainda ali continuámos até às 17h, altura em que nos fizémos novamente às duas subidas íngremes que nos separavam da Ecopista do Dão. Percorremos tranquilamente os últimos 15 kms da ecopista, que entretanto mudava da côr verde para azul, até à estação de Santa Comba Dão, onde iríamos apanhar um comboio InterCidades de regresso a Lisboa.

  • Dia 10: Praia Fluvial de Ferreirós do Dão
  • Dia 10: Pequenas Rotas a explorar
  • Dia 10: Praia Fluvial de Ferreirós do Dão
  • Dia 10: Praia Fluvial de Ferreirós do Dão
  • Dia 10: Junção do Rio Asnes com o Rio Dão
  • Dia 10: Praia Fluvial de Ferreirós do Dão
  • Dia 10: Ecopista do Dão em verde
  • Dia 10: Ecopista do Dão em azul
  • Dia 10: Estação de Comboios de Santa Comba Dão

Infelizmente, a ecopista continua a terminar (ou começar) numa pequena subida bastante inclinada, de apenas uns 30 metros, mas com terra e pedras rolantes e no final um degrau com cerca 30 centímetros de altura de acesso à plataforma da estação, o que tornam a tarefa de empurrar uma bicicleta carregada com alforges um desafio complicado, para não falar dum atrelado. Não sei se é mais fácil subir ou descer. Não se compreende que passados tantos anos (a primeira vez que aqui passei foi em 2014) estes últimos poucos metros que fazem a ligação à estação de comboio continuem abandonados e esquecidos, sem qualquer intervenção, a contrastar com os restantes 48 kms da ecopista (descontando os inúmeros obstáculos de madeira ou metal em cada pequena intersecção). Imaginem a Auto-Estrada Lisboa-Porto acabar num caminho de terra, onde apenas passa um carro de cada vez, com uma subida de 30% de inclinação e cheia de pedras e ainda um degrau no fim com 30 cms de altura… São estas “sabotagens” e obstáculos que continuamos a ver em ecopistas, ecovias e infraestruturas que servem para turismo ou deslocações diárias em bicicleta. Claro que não as deixamos de fazer e são uma experiência altamente positiva para pessoas determinadas, flexíveis e com espírito de aventura, mas lembrem-se da analogia da “auto-estrada” que acabei de descrever 😉

Dia 10: Os últimos ou primeiros 30 metros da Ecopista do Dão são inexplicáveis…

 

Era inaceitável mesmo que ela tivesse passado com o vermelho

Ana Pereira @ Cenas a Pedal

Publicado em 16/07/2020 às 0:42

Temas: Causas Indústria e Consumidor Infraestruturas e urbanismo Notícias Políticas Segurança políticas públicas segurança rodoviária urbanismo

A Ana tinha 16 anos e morreu na semana passada.

Morreu atropelada numa passadeira de peões. Caminhava com uma bicicleta pela mão (a bicicleta, aqui, é pouco relevante), viu o sinal verde e avançou, confiando na infraestrutura e nas regras de trânsito e na responsabilidade dos condutores de automóvel.

O “Manuel” (vamos chamar-lhe assim, visto ninguém ter divulgado o seu nome) tem 19 anos e matou a Ana na semana passada. Conduzia um automóvel, não terá visto ou viu mas não respeitou o sinal vermelho, e atropelou a Ana, apesar da visibilidade para o passeio e para a passadeira ser perfeita. Atropelou-a a uma velocidade tal que lhe causou a morte uns dias depois. 

Três dias depois de Ana Oliveira, 16 anos, ter sido atropelada mortalmente nesta mesma passadeira por um motorista que terá passado o vermelho, nada mudou.@FMedina_PCML: o que é que a @CamaraLisboa vai fazer quanto ao constante desrespeito dos motoristas pelos semáforos? pic.twitter.com/S12N1z6ghs

— Capitão Bina (@CapitaoBina) July 13, 2020

A Ana morreu, não está cá para lamentar ter perdido a vida, ter perdido a oportunidade de viver a sua vida, de fazer as coisas que sonhava fazer. Mas estão cá os seus pais, os seus familiares, os seus amigos, que terão que continuar a viver com o choque, a dor da perda e a revolta por uma morte violenta e principalmente, perfeitamente evitável. 

Por que achamos aceitável matar um filho ou uma filha a alguém?

Por que achamos aceitável matar um pai ou uma mãe a alguém?

É que fazemo-lo anualmente, matamos cerca de 600 filhos e/ou pais de outras pessoas. E ferimos gravemente milhares de outros. E nada fazemos para impedir eficazmente isto, ano após ano.

O “Manuel” vai ter que viver sabendo que matou uma pessoa. O que vai isso fazer à sua vida? À sua saúde mental, à sua relação consigo próprio e com os outros? 

Claro que o normal é querermos linchar o “Manuel”. Ele infringiu duas regras, aparentemente. Cometeu um erro e em consequência alguém morreu.

Sim, o “Manuel” deveria ser punido exemplarmente. Mas não basta ser só ele. Têm que ser todos os “Manuéis”, e principalmente, todos os “Manuéis” que vão cometendo estas infrações sem matar nem atropelar ninguém. Antes que atropelem e matem alguém…

Mas o “Manuel” é também uma vítima deste ambiente tóxico que estimula e permite comportamentos perigosos na condução de veículos automóveis. Todos nós, quando conduzimos automóveis, caímos, uns mais, outros menos, nos mesmos erros – excesso de velocidade, manobras perigosas, distrações – simplesmente a maior parte de nós tem a sorte de não acabar matando alguém. O “Manuel” somos nós todos, só que num dia “de azar”.

Sim, temos que ter melhores leis, mas temos depois que ter melhor fiscalização (muito melhor, que somos uma anedota a este nível), e também temos que ter um melhor sistema judicial, um que não deixe prescrever as coimas, um que em julgamento não desculpabilize quem cometa infrações graves, perigosas, e crimes rodoviários.

E sim, precisamos de melhor formação ao tirar a Carta de Condução, e de ações de reciclagem e revalidação regulares ao longo da vida.

E sim, precisamos que os media e toda a gente pare de noticiar estas colisões e estes atropelamentos desta forma:

  • usando a palavra acidente, em vez de colisão ou sinistro – não são acidentes, e isto perpetua  ideia de que não temos poder para os evitar, e temos!
  • fraseando as coisas para fazer parecer que são os carros que matam, que estes já são autónomos (ex.: «Carro ‘voou’ para dentro da BP em aparatoso acidente.», «O carro despistou-se numa curva», «o carro não viu», «o carro não parou», etc, etc. Os carros ainda não têm vontade própria, são conduzidos por pessoas e são as ações destas que, tipicamente, geram colisões. Temos que parar de as desculpabilizar com as palavras.
  • focando-se exclusivamente na vítima, as imagens são do local, ou do veículo, ou do corpo da vítima (principal), reforçando novamente a sensação de impotência e de vulnerabilidade, e o medo de morrer de quem já mais morre – o foco deve ir primeiro para quem mata e quem fere, queremos disseminar o perfil do agressor, só assim podemos, a nível de políticas públicas, perceber onde e como intervir. As notícias não devem servir para disseminar junto das potenciais vítimas o medo de morrer, devem servir principalmente para disseminar junto dos potenciais agressores o medo de matar (e depois também o medo de ser efetivamente punido por fazê-lo!).
  • apontando apenas alegadas falhas de vítimas e de agressores, deixando de lado as falhas das entidades públicas no desenho do ambiente envolvente.

E sim, precisamos de deixar de permitir a publicidade a automóveis associada a comportamentos perigosos, como a velocidade ou a agressividade.

Mas o principal, aquilo que salva vidas, aquilo que previne eficazmente histórias trágicas como a da Ana e a do “Manuel”, é organizar o ambiente urbano e o ambiente rodoviário, e os próprios veículos, de forma a que erros normais, erros naturais, erros observáveis sistematicamente, não acabem com alguém morto ou gravemente ferido.

O “Manuel” cometeu vários erros de condução, e infringiu várias leis, aparentemente, e por isso a culpa da morte da Ana é dele. E podemos, naturalmente, porque somos apenas humanos, dirigir para ele todo o nosso ódio, a nossa revolta, a nossa angústia, por ter roubado a Ana aos seus, e a si própria. E nós sabemos que a Ana poderia ser qualquer um de nós, e qualquer um dos nossos. Mas fazê-lo é injusto, e inútil. Devemos dirigir a nossa raiva para ações que efetivamente levem a mudanças estruturais que previnam coisas destas de acontecer.

É que a culpa é dele também, mas não é só dele. É dos arquitectos das nossas cidades, é dos arquitectos destes ambientes em que para agir de forma prudente temos que ser mais informados que o normal, termos mais empatia do que o normal, termos maior sentido de responsabilidade do que o normal, estarmos mais despertos do que o normal, estarmos menos cansados do que o normal, estarmos mais atentos e concentrados do que o normal. Quando devia ser o contrário, devíamos circular em ambientes em que o piloto automático é prudente, e em que para fazermos asneiras temos que as fazer consciente e deliberadamente.

E se tivesse sido a Ana a passar o sinal vermelho? O “Manuel” passaria a ser visto como uma pobre vítima, para sempre traumatizada, e a Ana passaria a ser vista como infeliz merecedora da sua má sorte. Uma morte trágica, mas causada pelo seu próprio comportamento.

Esta dicotomia do culpado / não culpado é infeliz. Esta dicotomia é o que nos leva precocemente 600 pessoas todos os anos, e o que nos deixa uns milhares estropiados. Preocupamo-nos em definir quem tem a culpa em caso de colisão, em vez de garantir que essa colisão nunca chega a ocorrer, com culpa ou sem culpa seja de quem for.

Sabemos que 90 % das colisões envolvem erro humano. E sabemos que destas, 90 % envolvem velocidades altas, desadequadas. Não é óbvio que temos que desenhar o nosso ambiente urbano e o nosso ambiente rodoviário, para que, quando os erros acontecem, que acontecerão, invariavelmente, seja de quem for, tal não resulte na morte ou grave ferimento de ninguém? E que isso passa, principalmente, por condicionar física e psicologicamente a velocidade de circulação dos veículos automóveis conduzidos por esses mesmos humanos?

Se baixarmos – por desenho – a velocidade máxima de circulação dos automóveis em meio urbano (e em povoações), de 50 Km/h (teóricos, porque a maior parte dos condutores circula a mais que isso) para 30 Km/h efetivos, garantimos que haverão muito menos colisões, e que as que houver terão 9 em cada 10 pessoas a sobreviver, em vez de apenas 1 em cada 10.

Até quando vamos aceitar manter as nossas crianças e os nossos velhos tristemente reféns em espaços fechados, impedidos de estar e de circular na cidade de forma autónoma, para que nós possamos circular pela cidade a velocidades incompatíveis com a vida, só porque sim?

Quantas pessoas achamos aceitável que morram ou que fiquem estropiadas para que nós possamos exceder os 30 Km/h no meio das cidades ao volante de um objeto de 1 ou 2 toneladas? E quantas destas pessoas podem ser das “nossas”? Aceitamos que nos possam, a qualquer momento, matar um filho, para que possamos todos, coletivamente, conduzir de forma perigosa, e por motivos fúteis?

Por que é que matámos uma filha aos pais da Ana? O que é que vamos fazer para que mais nenhum pai nem nenhuma mãe perca um filho desta forma estúpida? Para que mais ninguém fique sem um irmão, ou sem um pai ou uma mãe desta forma violenta e evitável?…

Hoje, às 19h, estaremos na vigília.

Mas não confundir uma vigília destas com ação. Se queremos mudança temos que fazer lobby junto do governo, junto do parlamento, junto dos partidos, junto da ANSR, junto de n outras entidades públicas. E temos que fazer pressão também junto de entidades privadas, como as escolas de condução, os media, as empresas de transportes coletivos, as empresas de logística, etc, etc. Tornarmo-nos sócios e apoiar o trabalho de associações como a MUBi, e um pouco de #ativismodesofá, mandar mails, mandar cartas, escrever “cartas do leitor” para jornais, intervir em programas de rádio e de TV, etc. 

Temos que mudar o paradigma para ele depois nos mudar a nós.

O conteúdo Era inaceitável mesmo que ela tivesse passado com o vermelho aparece primeiro em Cenas a Pedal.

 

Thank you, John Forester

Ana Pereira @ Escola de Bicicleta

Publicado em 24/04/2020 às 0:07

Temas: Acidentologia Aprender e ensinar Pessoas ativistas pessoas

Foi em 2007 que comecei a interessar-me pela questão do Código da Estrada e as bicicletas e pela questão da formação em condução de bicicleta (e de carro, face a bicicletas!). Muita pesquisa fiz eu nesses primeiros anos, principalmente, era tudo novo. Em 2007, no ano em que publiquei as FAQ do Código da Estrada, li o Effective Cycling. Em 2008 o Bicycle Transportation. Ambos escritos pelo John Forester, uma figura incontornável do cicloativismo e que cunhou o termo “vehicular cycling” e o mantra “Cyclists fare best when they act and are treated as drivers of vehicles.

Estes livros, em particular o segundo, e o trabalho do John Forester (e de vários outros que lhe seguiram ou que foram seus contemporâneos), mudaram a minha vida.

Aprendi a conduzir uma bicicleta em qualquer contexto, de forma confiante e segura, e deixei de sentir limites ao que podia fazer de bicicleta, aonde podia ir ou deveria ir, por onde poderia circular, e qual era “o meu lugar” na via pública, no espaço público. Em 2008 comecei a formar outras pessoas para atingirem o mesmo resultado.

Comecei a ganhar uma noção mais clara da inferiorização que as nossas sociedades carrocêntricas fazem de quem não se encontra dentro de um carro, e de como essa inferiorização é perpetuada através de políticas públicas, urbanismo, legislação, regulamentação, formação de condutores, cultura das forças policiais e judiciais.

Percebi também que a promoção da bicicleta era muitas vezes uma causa cega, e era feita de forma a tornar a bicicleta aparentemente mais atrativa para mais pessoas, mas sacrificando a sua segurança e a sua conveniência, em nome da captação de mais utilizadores, que frequentemente não surgiam, e quando surgiam não vinham do carro para a bicicleta, que era a única forma de se estar a resolver algum problema.

O John Forester fez de mim uma condutora de bicicleta muito diferente. E fez-me também uma ativista muito diferente.

Uma figura polémica até ao fim, e bastante desprezada por muitos ativistas das últimas décadas, o John Forester não era uma pessoa agradável de trato, pelo menos no âmbito dos temas da bicicleta. Mas isso é irrelevante. Foi o trabalho dele em defesa do direito dos utilizadores de bicicleta ao uso das estradas (numa época em que este esteve em risco de ser revogado, o que teria condenado o futuro da bicicleta como meio de transporte, desporto e lazer – em Portugal não estivémos também assim tão longe), e na área da educação dos condutores para que esse uso seja o mais seguro possível (além de prático e eficiente), que lhe deram o estatuto que tem.

Como é óbvio, não concordo com tudo o que o Forester defendia, e sei que o trato abrasivo que tinha só contribuiu para criar anti-corpos nas outras pessoas (nomeadamente nas que não concordavam com ele). É uma figura polémica, muito por ignorância e/ou por desonestidade intelectual, ou pelo menos alguma soberba, sempre me pareceu, dos seus críticos na análise dos factos e dos seus argumentos, e na contextualização das suas ações (os EUA dos anos 70 não eram a Holanda dos anos 70, e muito menos a Europa dos anos 2000 e 2010’s. Os argumentos clássicos são “o “vehicular cycling” falhou como estratégia de promoção do uso da bicicleta”, e o “se a segregação das bicicletas é assim tão má, porque é que na Holanda anda tanta gente de bicicleta?”.

Ora, o “vehicular cycling” não é propriamente uma estratégia de promoção do uso da bicicleta, é um modelo educacional para salvaguardar a integridade física de quem usa a bicicleta em cidades onde há carros, e muitos, e/ou a andar muito depressa (que são todas as cidades do mundo, praticamente), e garantir a competitividade da bicicleta como meio de transporte, em termos de tempos de deslocação. Claro que se dermos às pessoas uma ferramenta que lhes dá mais segurança e maior eficiência a usar um modo de transporte, é mais provável que elas o adotem, mas isso é um efeito colateral – o objetivo é melhorar a vida a quem já o adotou ou já quer mesmo adotá-lo. Como analogia, não é por tirarmos a Carta de Condução que vamos querer andar de carro, tiramos a Carta de Condução porque já queremos andar de carro, e queremos andar de carro porque a rede de estradas é imensa, razoavelmente segura e confortável, direta, temos estacionamento fácil e gratuito ou quase em todo o lado, o crédito à compra é fácil, nascemos numa cultura em que toda a gente anda de carro ou quer fazê-lo, e onde o carro é uma forma de expressão de status sócio-económico – e vivemos numa cultura onde esta ostentação é tolerada, e porque o carro é uma bolha física e psicologicamente confortável. Além disso, o nosso (des)ordenamento do território e políticas públicas de urbanismo e mobilidade sofríveis, faz com que o carro seja grosseiramente mais rápido e/ou confortável do que qualquer outra forma de deslocação, principalmente fora dos maiores centros urbanos.

Na Holanda, e noutros países, não é a segregação das bicicletas que justifica os números de utilizadores. É a segregação dos carros – na forma de ruas sem saída para carros, menos espaço alocado ao carro, pouca oferta de estacionamento para carros, cara e “fora de mão”, impostos altos na compra de carros, maior fiscalização dos comportamentos anti-sociais (estacionamento abusivo, excesso de velocidade, etc), acalmia de tráfego, cultura mais avessa à ostentação de status sócio-económico por via de bens materiais, etc, além da cultura universal da bicicleta como um meio de transporte, e a excelente articulação com uma boa rede de comboios (e outros modos). E mesmo assim, a quota modal do carro não é muito diferente da nossa, a bicicleta compete principalmente com o andar a pé e com o transporte público – a segregação dos veículos por modo, além da normal segregação por destino, torna todo o sistema mais ineficiente, nomeadamente com as medidas necessárias à mitigação do risco acrescido criado pela segregação (nomeadamente os semáforos).

Uma pessoa versada nos princípios tornados famosos pelo Forester, anda de bicicleta de forma segura e eficiente em qualquer lado, em qualquer infraestrutura, em Lisboa, em Londres, em Copenhaga, em Amesterdão, ou na China. Pessoas experientes a andar de bicicleta em sítios como a Holanda ou mesmo como Sevilha, só andam de bicicleta na Holanda, ou em Sevilha (e muitas vezes sofrendo colisões causadas pela segregação), chegam a cidades bastante pacíficas (all things considered) como Lisboa dos últimos 10 anos e encostam a bicicleta, porque não sabem partilhar as estradas em segurança com os carros em sítios onde as bicicletas rareiam.

Mas este post não é para entrar em argumentações nem em revisões da história da bicicleta e do cicloativismo (been there, done that, já não tenho tempo nem paciência). Este post é para lembrar, e agradecer publicamente, o trabalho de imenso valor de uma pessoa que o mundo perdeu recentemente, e a quem eu e muitos outros utilizadores de bicicleta têm uma eterna dívida de gratidão. Thank you, John Forester!

John Forester – Foto: Peter Flax

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Pelos olhos dos outros...

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 8/02/2020 às 18:26

Temas:

Apesar de a nossa capital ser grande e ter muitas pessoas, amiúde vejo nos meus caminhos caras conhecidas e gente amiga... os que como eu rolam ou nos cruzamos e acenamos ou apenas um mero cumprimento, ou às vezes acompanhamos por algumas centenas de metros em amena cavaqueira.

Como agora atravesso a cidade quase de uma ponta à outra (cada viagem são cerca de 19kms e picos, ida e volta são quase 40kms/dia) vejo muitas vezes a rolar o LCarvalho, o EduardoS, o MiguelC, o MiguelB, o RLeiria e o JLeiria, o PedroG e a Maria, o ArturL, RuiA, o HugoM e o HerculanoR, o RuiR, o JoãoB, e ex colegas de trabalho como o PauloS, ManuelC e a VerónicaF e tantos tantos outros...

Há dias um desses mega licrados de bicicleta (como eu tb sou às vezes quando vou dar umas voltas na estradeira) começa a chamar-me quando vinha na ciclovia a caminho de casa, e eu não estava a ver quem era... os anos passam! Era um ex-colega de liceu que até está na minha rede do facebook e reconheceu a Gestrudes. Foi um bom reencontro!

Outra vez passei ali noutra ciclovia e passavam muitos peões e há um que grita "Woowww, tu, heeiii..." e não liguei pois pensava que não era para mim. Mas depois gritou o meu nome... Era um grande amigo da altura da faculdade!! Também reconheceu a Gestrudes! :)

Mas desde que tenho a Gestrudes, que é vistosa, muito mais gente amiga que anda de carro ou de transportes também me vê...

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Um deles goza comigo "Hoje vi outra vez o autocarro azul a passar por mim!" ou então...

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Mas dos mais hilariantes foi este audio que recebi e ouvi só quando cheguei a casa, num dia que o trânsito estava caótico e as filas de carros eram intermináveis e recordo ter ouvido uma buzinadela no sentido contrário ao meu, mas eu ia "depressa" (a 20 kms/h praí) e não vi que era.

Clicar para ouvir: "Ca ganda vergonha pá!"

O que eu me ri com isto... ! :)

 

Mais conforto na Tern GSD : espigão de selim com amortecedor

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 19/01/2020 às 22:15

Temas:

Uma das desvantagens da Tern GSD, uma das poucas, é a falta de qualquer tipo de suspensão/amortecimento.

Apesar dos seus pneus largos que absorvem muito das vibrações, qualquer pequeno buraco ou desnível levam a um desconforto quer nos braços pela vibração do guiador quer do espigão do selim que propaga esses choques para a espinha dorsal.

Se fosse tudo ciclovia ou se fosse tudo alcatrão lisinho não tinha problemas, mas os nossos pisos não são assim tão confortáveis.

Podemos reduzir esse desconforto pelo nível de ar nos pneus, que vão desde os 2 aos 4,5 bars. Mas pneus mais vazios rolam mais lento em qualquer piso e mais cheios apesar de acelerar a viagem ficam mais duros e recebem mais das vibrações que se propagam pelo quadro e pelo ciclista.

"Inflate to the upper limit for a faster ride. And to the lower limit for a smoother ride."
https://www.ternbicycles.com/support/techtips/pump-it

Assim que andei a indagar e um dos meus parceiros destas aventuras do uso da bicicleta, o António P, já me tinha falado de uma solução que arranjou para a bicicleta dele.

Um espigão de selim com suspensão! 
Que coisa moderna...

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Com uma opinião tão positiva e depois de ver alguns videos e outras opiniões em blogs e site, resolvi comprar a ver se ajudava nestes meus quase 40 kms diários.

Decidido então mandei vir aqui deste site:
https://www.bike-discount.de/en/search?q=suntour+seatpost

Montar é extremamente simples, bastou tirar o espigão original e substituir pelo novo, ajustar a inclinação e voilá! (só tive de pedir a chave dinamométrica ao meu vizinho Paulo que é um engenhocas e tem essas cenas todas... provavelmente não era preciso mas não queria estar a estragar)


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Até vem com uma capinha para proteger, mas é mais para quem usa no BTT e cenas sem guarda-lamas.

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Apesar de funcionar os suportes do selim ficam mesmo colados à "cabeça da suspensão" do novo espigão, e parece-me que vai acontecer o que este moço reporta neste outro blog Tour On A Bike e não Touro Na Bike :)
https://www.touronabike.com/sr-suntour-sp12-ncx-suspension-seat-post-review/

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Estou desconfiado que vai desgastar dado o contato com os suportes do selim, por estarem tão perto ao fazer o amortecimento parece-me que vai roçar bastante. Se fizerem zoom à imagem la´mais em cima verão que já está a desgastar :( A ver se ajusto ao máximo que possa para tentar não roçar tanto.


Ver aqui estes videos de como isto funciona:

https://www.youtube.com/watch?v=_R2hFZqdiws

https://www.youtube.com/watch?v=G3kB4z8vAyc

Para já a experiência tem sido muito positiva! Obviamente que as vibrações no guiador continuam a sentir-se mas na coluna há uma melhoria significativa.

Com o tempo darei uma opinião mais fundamentada, mas até ver parece-me um excelente upgrade! O primeiro que fiz na Gestrudes - exceptuando o descanso central que foi uma peça oferta da marca a substituir a de origem que admitiram não ser de boa qualidade, pelo feedback dos seus clientes e pelo uso do modelo que tem apenas dois anos e pouco no mercado.

Mas dizia... até ver foi uma excelente decisão e compra!
As minhas costas e o eu do futuro agradecem estes cuidados com a saúde :)
 

A Gestrudes é a eBike do Ano

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 15/01/2020 às 9:51

Temas:

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«The Tern GSD is our cargo e-bike of the year, and also our overall winner. We’ve tested the GSD in two builds over the last two years, and one abiding feeling remains: this is the most useful and practical bike you’re ever likely to own.

The GSD is built around a long-tail frame and 20-inch wheels. The long-tail design means there’s masses of room at the back – enough for a weekly shop or two passengers – while the small wheels mean that the overall footprint of the bike is no bigger than a standard city bike. Even better than that, the GSD flips up on its end and the saddle and handlebars fold down, so it takes up barely any space at all. The ride position is highly adjustable, so anyone in the family can use it with just a few quick tweaks.

It’s easy and fun to ride – there’s no learning curve like you get with a box bike – and it’s a rare day you come across a situation or a load that the GSD won’t take in its stride. With loads of different options for carrying cargo, children and grown-ups, you can configure it exactly how you need it and it can grow with you as your family grows. 

It’s a genuine car replacement, and perfect for city living. The more expensive S00 build we tested this year is great if you’re looking for a heavy-duty workhorse, but the S10 is enough bike for nearly any situation and a grand cheaper, so that’s still our favourite one and the only bike so far to have got a full five stars.

Why it wins: It’s the most useful and practical bike you’ll ever own. Every home should have one!»

https://ebiketips.road.cc/content/news/ebiketips-e-bike-of-the-year-awards-201920-2259


Vale o que vale pois cada um avalia as coisas conforme as suas necessidades, mas fico feliz por saber que a minha escolha foi a escolha certa, aos olhos de outros que têm outros fatores em consideração e comparando com outras eBikes.

Continuo mega satisfeito com a aquisição! So far, so good!

 

A minha ex anda por aí...

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 7/01/2020 às 23:01

Temas:

Esta semana um amigo das lides do uso da bicicleta mandou-me umas fotos da minha antiga bicicleta pedalec, a Romana.

Como estão lembrados dei a Romana à troca quando comprei a Gestrudes, e não estou nada arrependido... o Miguel da BeElectric já me tinha dito que já tinha vendido a Romana a um moço algures de Lisboa.

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O dono atual até manteve o spoke card do Sexta de Bicicleta! Nível :)

...confesso que bateu uma nostalgia ao ver as fotos da minha ex-companheira.

O importante é que vai fazer feliz mais um sortudo que se desloca na cidade de modo ativo, sem poluir, sem fazer ruído e potenciando uma convivência melhor com os demais habitantes da cidade.

E para a Romana não vai nada, nada, nada? Ip, ip, urááiii!
Quem viva?! Viva a Romana!!
 

A publicidade que nos mata, sem sabermos...

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 7/01/2020 às 22:50

Temas:

Hoje apanhei um apressado que me apitou e gesticulou pq queria que eu saísse da frente para o senhor acelerar no meio da cidade para chegar primeiro ao próximo semáforo vermelho.

Devia querer que eu me esfumasse ou que eu saltasse como o Kit do Mikel Knight por cima dos carros parados na fila para virar á direita ao invés de ocupar a fila de trânsito que fluia no sentido que eu pretendia.

Esta cultura é algo enraizado e que vai demorar anos, gerações, a mudar. 

E que vejo eu a caminho do trabalho? Publicidade de uma marca automóvel a fazer alusões subtis à velocidade, à competição, aos rallies e corridas diárias...

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Mas não há quem tenha noção e acabe com este tipo de publicidade?

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Publicado originalmente no grupo de Facebook de Ciclismo Urbano onde podem ler alguns comentários interessantes, e outros nem tanto...
https://www.facebook.com/groups/ciclismourbanonoporto/permalink/2642951465759201/

 
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