Projecto Bacalhau: Dia 11 - O Equipamento

@ Lisboa Bike

Publicado em 3/05/2021 às 14:41

Temas: bikepacking viagem volta a Portugal

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Pronta a rolar

É o décimo primeiro dia da viagem. Fechados numa tenda pouco maior que um sarcófago, o Dentuça e eu observamos a chuva cair no Gerês. Chove continuamente durante toda a manhã. As minhas regras dizem que não se arranca debaixo de chuva e gosto ainda menos de arrumar uma tenda molhada. A determinada altura demos a manhã como perdida e com ela o dia todo. Já não valia apena arrancar. E continuava a chover.


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    O acampamento base


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Mudar o dropout sem tirar o cabo do desviador


Concentrei-me no que podia fazer. Procurei um lugar abrigado no parque, e fui tratar do desviador traseiro. A queda do dia anterior provavelmente teria empurrado o desviador e o dropout estaria torto. Uma coisa que acontece. Por isso mesmo, tinha comigo um dropout extra, foi questão de trocar e afinar. Ficou muito melhor, mas a indexação mais tarde veio a dar problemas e só resolvi isso já na estrada.  

Aproveitemos esta pausa na viagem para falar do que tenho comigo para permitir fazer estes quilómetros com algum conforto. Falemos então do equipamento.

A Bicicleta

A minha bicicleta é uma TRIBAN RC 520 GRAVEL de 2019. Este modelo é uma versão gravelizada daquilo que no fundo é uma bicicleta de estrada de endurance (A Triban 520 standard). Trata-se pontanto de uma bicicleta de estrada com uma posição confortável, apta para grandes distâncias. Tem travões de disco e o quadro aceita pneus até 36mm, oficialmente, e 40mm não oficialmente.


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Uma das alterações feitas à Triban


As diferenças para o modelo mais convencional são a pintura especial, o guiador mais largo e com flare, 46cm no meu caso, e os pneus largos Hutchinson Overide, de 35mm. A estas diferenças tenho de acrescentar as que eu próprio levei a cabo. A Saber: 

  • A pedaleira Shimano 34-50 pareceu-me demasiado para uma bicicleta carregada, e alterei para uma Miche 30-46 ligeiramente mais leve e bem mais simpática nas subidas. 
  • Pelas mesmas razões, a cassete 11-32 de origem foi trocada por uma Shimano 105 de tamanho 11-34, o maior tamanho que o desviador aceita (a acreditar na Shimano, mas ninguém acredita).
  • Os pneus foram os mesmos recomendados pela marca, mas montados Tubeless.
  • O guiador foi trocado por um FSA de 44cm, também de gravel, por uma questão de tamanho, mas também por preferência ergonómica.
  • O espigão do selim, e o avanço foram trocados por questões de bike fit, e também estética e peso.
  • Os pedais são uns SPD da Shimano, os PD-M540.
  • As rodas de origem, por fim, foram trocadas por umas DT Swiss, uns cubos 240 montados em simples aros R470 da mesma marca, um conjunto robusto e suficientemente leve.

Tudo somado, a bicicleta pesava cerca de 10,25Kg. Para descer deste peso, era preciso gastar bastante dinheiro. Para mim o peso era suficiente, e as escolhas davam garantias de fiabilidade, que era o mais importante. 

Os Sacos

Para transportar tudo o que era necessário, optei por um set-up convencional de bikepacking, saco de guiador, bolsa de quadro, bolsa de selim e mais uma bolsa pequena de tubo superior.  Tinha também dois feedbags no guiador, para água e comida. Abaixo ficam as capacidades e os conteúdos.


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Saco de Guiados da Topeak


Saco de Guiador. É um modelo de 8 Litros, e servia para transportar a tenda de 1 pessoa da Decathlon, de 1.6Kg, mais o colchão de campismo insuflável. A arrumação tem a ver com o formato da tenda, mas também ajuda na distribuição de peso.


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Esses chinelos já viram muita coisa!


Saco de selim. Modelo de 10 Litros, aqui ia o kit de comida (o fogareiro a álcool, álcool, mais o pote, isqueiro, talheres e mini esponja para lavagem), mais o saco cama ultra leve, e roupa. A roupa para ciclismo que não ia vestida era constituída por jersey, jersey de inverno e impermeável, e manguitos e pernitos. Para uso fora da bicicleta tinha uma t-shirt de desporto ultra leve e uns calções de desporto genéricos. Levava alem disso uma muda de meias e roupa interior, e uma toalha de desporto de secagem  rápida. Amarrados por cima do saco, embora por vezes fossem noutro lado, ficavam uns básicos chinelos de dedo.


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Conteúdo da bolsa de quadro Restrap


Saco do quadro. Modelo de 4.5 Litros. Aqui viajavam a minha mini-bomba, câmaras de ar, as ferramentas, as peças extra, e alguma comida. Havia também um pequeno kit de primeiros socorros, e o necessaire. Os itens de electrónica viviam também aqui, powerbanks (2x5000mAh), tomada USB com várias saídas, rádio MP3, auriculares, cabos. Tinha também um cadeado baratucho, para aqueles momentos em que tinha mesmo que deixar a bicicleta sozinha por uns minutos. Todos os sacos são da Topeak, excepto este do quadro, que é da Restrap.


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Bolsa de quadro Topeak


Bolsa de quadro (tubo superior). Cerca de 0.5 Litros. Aqui estavam barras energéticas e outros itens pequenos, como luzes. Por vezes o powerbank vinha para aqui, para uso em andamento, mas foi coisa que nunca foi necessária, pois o meu GPS aguenta mais de 30h seguidas de navegação.  


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Vista do Cockpit 


Feedbags. Cerca de 0.6 Litros (x2) Nestas úteis bolsas transportava 1 bidão de 600ml e comida. Por exemplo um pacote de frutos secos já aberto. Escolhi levar estas bolsas em parte devido à impossibilidade de transportar mais água no quadro, existem apenas os dois apoios tradicionais e com os sacos apenas conseguia montar bidões relativamente pequenos. Tudo somado transportava 600ml x2 + 750ml, ou seja quase 2 litros de líquidos. 


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A minha capacidade de água para a viagem


O peso de todo este material totalizava 8Kg, o que me deixava razoavelmente satisfeito. No início do projecto tinha decidido que o peso total para a viagem não deveria ultrapassar os 100Kg, para poupar as rodas e manter algum prazer na condução, também nas subidas e fora de estrada. A meta foi atingida, mas eu tive de perder algum peso antes da data da partida!

Dia 11. Entre Ambos os Rios. 0Km.
 

Escola de Bicicleta Online: o pontapé de arranque

Ana Pereira @ Escola de Bicicleta

Publicado em 30/11/2020 às 18:44

Temas: A escola Campanhas de redução de risco rodoviário Código da Estrada Dicas para condutores de automóvel campanhas cursos online educação infográficos segurança rodoviária

Já há muito que queríamos expandir o nosso alcance com as atividades da escola, tínhamos alguns cursos com currículos e guiões alinhavados, mas era sempre trabalho que se arrastava, pois era não urgente, e era o tipo de trabalho que requer uma dedicação consistente e regular ao longo de muitas semanas, o que é difícil de conseguir conciliar com as atividades normais do quotidiano.

A culpa é da covid19

Bom, veio 2020, a pandemia e o primeiro confinamento em Março, que nos deram um chuto no traseiro para tirarmos isto da gaveta e avançarmos de uma vez. Havia – e há – tanta gente a querer começar a usar [mais] a bicicleta no dia-a-dia, seja para transporte ou para lazer e desporto e manter a sua sanidade mental e evitar o carro, que optámos por dedicar os primeiros cursos a essas pessoas e apoiar a transição modal do carro para a bicicleta.

Obrigada, Fundo Ambiental!

Resolvemos candidatar a realização destes 3 primeiros cursos a um apoio do Fundo Ambiental, no âmbito da Estratégia Nacional de Educação Ambiental 2020, para nos dar um balão de oxig€nio para podermos tirar tempo para isto e… woohoo, ganhámos!! 😀

Então, desde Agosto que o projeto “Escola de Bicicleta Online” da Cenas a Pedal, com o apoio do Fundo Ambiental, nos tem absorvido uma parte muito substancial do nosso tempo.

O primeiro curso é sobre “O Código da Estrada e as Bicicletas“, o segundo é sobre “Como Pedalar em Segurança pela Cidade“, e o terceiro é sobre “Como Transportar os 4Cs em Bicicleta: Crianças, Cães, Compras e Outras Cenas“.

Recrutamento de beta testers / fazer cursos à borla!

No âmbito do projeto com o Fundo Ambiental precisamos de ter em muito pouco tempo 100 alunos a fazer os cursos, e avaliar métricas de impacto. Por isso, temos 100 vales de oferta para oferecer à malta, e queremos que estes 100 beta testers sejam o mais diversos possível, homens, mulheres, todas as idades, da cidade, do campo, iniciantes e veteranos da bicicleta, que usam a bicicleta como transporte ou só para lazer ou desporto, que conduzam, além da bicicleta, carro, mota, camião ou autocarro!, ou que não conduzam mais nada, que sejam doutorados ou que tenham ficado pela 4ª classe – queremos uma amostra o mais diversa possível para testar e avaliar a plataforma e os cursos propriamente ditos.

Interessado em ajudar-nos? Escreve para escola@cenasapedal.com e diz-nos “quero ser um beta tester dos vossos cursos!” 🙂

Um infográfico para mudar comportamentos

Entretanto, lembrámo-nos de adaptar alguns dos nossos slides do curso sobre o Código da Estrada e criar um infográfico sobre a principal questão que aflige qualquer pessoa que considera andar de bicicleta: a forma como é ultrapassada por quem vai a conduzir um carro.

A nossa ideia foi criar algo para as pessoas divulgarem facilmente e que ajudasse a mudar a cultura atual, ilustrando a forma correcta (e algumas incorrectas) de se ultrapassar alguém numa bicicleta quando nós vamos de carro, segundo o Código da Estrada (que desde 2013 está muito melhor relativamente a esta questão da ultrapassagem).

Como ultrapassar um ciclista / como ultrapassar uma bicicleta?
#PassaParaAOutraVia

Em cima da bicicleta vai o filho, o irmão, o pai, o marido, o amigo de alguém. Não devemos ser nós a impedi-lo de chegar vivo e bem a casa e aos seus, só porque não concordamos que ele ande de bicicleta “ali”, ou que conduza “daquela forma”.

Vou de carro, à frente há alguém numa bicicleta e quero ultrapassar? Boa, mas só quando for seguro, e depois:

1. Passar para a via do lado (mesmo que consiga dar 1.5 m de distância lateral sem o fazer)

2. Abrandar

3. Dar 1.5 m ou mais de distância lateral, mesmo que já tenha passado para a via ao lado.

Mudo para a via do lado sempre, e totalmente (e não aquela cena de andar no meio da estrada com o rodado esquerdo numa via, e rodado direito noutra via), independentemente da posição da bicicleta na sua via (ao centro ou mais à direita, ou outra), e abrando e dou o tal 1.5 m ou mais.

Mudo para a via do lado sempre, e totalmente (e não aquela cena de andar no meio da estrada com o rodado esquerdo numa via, e rodado direito noutra via), independentemente da posição da bicicleta na sua via (ao centro ou mais à direita, ou outra), e abrando e dou o tal 1.5 m ou mais.

Não quero arriscar tocar na pessoa ou na bicicleta e fazê-la cair, nem quero atropelá-la se ela cair por qualquer razão, daí a distância e o abrandar. As bicicletas oscilam para se manterem equilibradas, e são vulneráveis a quedas por coisas que não nos afectam de carro (vento, buracos, etc).

Todo o condutor conta com toda a largura da sua via para se movimentar e lidar com o que lhe aparece à frente. Ninguém está à espera, nem gosta, de ter outros veículos a passá-lo dentro da sua via, mesmo que só parcialmente, e mesmo quando vai dentro da bolha-carro. E há 7 anos que tal é proibido!

Se isto é uma péssima ideia de se fazer a um carro, é fácil de perceber que é uma ideia asinina quando aplicada a alguém num veículo de duas rodas, e em particular a alguém numa bicicleta…Mas mtas vezes não dá para cumprir isso tudo! Certo. Duas hipóteses: não ultrapassar enquanto não der – vai dar dali a uns segundos, concerteza. Nos raros casos em que não vai dar tão cedo, aguentar, ou *se for seguro* ultrapassar sacrificando algum do espaço, mas na via do lado, e abrandando ainda mais!

Ah, e o que é 1.5 m, mesmo? É o espaço necessário para caber uma pessoa de braços abertos. É o espaço para caber lá um Smart Fortwo. É metade da largura de uma via de trânsito típica. #PassaParaAOutraVia e tens logo a coisa mais ou menos feita na maior parte dos casos.

Somos todos tipos inteligentes e boas pessoas. We can do this! 😊 Partilhas com a tua rede? Vamos ser melhores seres humanos uns para os outros. 😉

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Cicloturismo com Crianças: Vouga e Dão

Gonçalo Peres @ Viagens a Pedal

Publicado em 13/09/2020 às 8:25

Temas: Famílias e crianças Geral cicloturismo crianças férias multimodalidade relatos Verão viagens de bicicleta

Férias em bicicleta com os meus filhos (8 e 12), a explorar a Ecopista do Vouga e Ecopista do Dão, com vários desvios pelo caminho, para desfrutar de praias fluviais e outros lugares interessantes e apelativos para as crianças.
 

Thank you, John Forester

Ana Pereira @ Escola de Bicicleta

Publicado em 24/04/2020 às 0:07

Temas: Acidentologia Aprender e ensinar Pessoas ativistas pessoas

Foi em 2007 que comecei a interessar-me pela questão do Código da Estrada e as bicicletas e pela questão da formação em condução de bicicleta (e de carro, face a bicicletas!). Muita pesquisa fiz eu nesses primeiros anos, principalmente, era tudo novo. Em 2007, no ano em que publiquei as FAQ do Código da Estrada, li o Effective Cycling. Em 2008 o Bicycle Transportation. Ambos escritos pelo John Forester, uma figura incontornável do cicloativismo e que cunhou o termo “vehicular cycling” e o mantra “Cyclists fare best when they act and are treated as drivers of vehicles.

Estes livros, em particular o segundo, e o trabalho do John Forester (e de vários outros que lhe seguiram ou que foram seus contemporâneos), mudaram a minha vida.

Aprendi a conduzir uma bicicleta em qualquer contexto, de forma confiante e segura, e deixei de sentir limites ao que podia fazer de bicicleta, aonde podia ir ou deveria ir, por onde poderia circular, e qual era “o meu lugar” na via pública, no espaço público. Em 2008 comecei a formar outras pessoas para atingirem o mesmo resultado.

Comecei a ganhar uma noção mais clara da inferiorização que as nossas sociedades carrocêntricas fazem de quem não se encontra dentro de um carro, e de como essa inferiorização é perpetuada através de políticas públicas, urbanismo, legislação, regulamentação, formação de condutores, cultura das forças policiais e judiciais.

Percebi também que a promoção da bicicleta era muitas vezes uma causa cega, e era feita de forma a tornar a bicicleta aparentemente mais atrativa para mais pessoas, mas sacrificando a sua segurança e a sua conveniência, em nome da captação de mais utilizadores, que frequentemente não surgiam, e quando surgiam não vinham do carro para a bicicleta, que era a única forma de se estar a resolver algum problema.

O John Forester fez de mim uma condutora de bicicleta muito diferente. E fez-me também uma ativista muito diferente.

Uma figura polémica até ao fim, e bastante desprezada por muitos ativistas das últimas décadas, o John Forester não era uma pessoa agradável de trato, pelo menos no âmbito dos temas da bicicleta. Mas isso é irrelevante. Foi o trabalho dele em defesa do direito dos utilizadores de bicicleta ao uso das estradas (numa época em que este esteve em risco de ser revogado, o que teria condenado o futuro da bicicleta como meio de transporte, desporto e lazer – em Portugal não estivémos também assim tão longe), e na área da educação dos condutores para que esse uso seja o mais seguro possível (além de prático e eficiente), que lhe deram o estatuto que tem.

Como é óbvio, não concordo com tudo o que o Forester defendia, e sei que o trato abrasivo que tinha só contribuiu para criar anti-corpos nas outras pessoas (nomeadamente nas que não concordavam com ele). É uma figura polémica, muito por ignorância e/ou por desonestidade intelectual, ou pelo menos alguma soberba, sempre me pareceu, dos seus críticos na análise dos factos e dos seus argumentos, e na contextualização das suas ações (os EUA dos anos 70 não eram a Holanda dos anos 70, e muito menos a Europa dos anos 2000 e 2010’s. Os argumentos clássicos são “o “vehicular cycling” falhou como estratégia de promoção do uso da bicicleta”, e o “se a segregação das bicicletas é assim tão má, porque é que na Holanda anda tanta gente de bicicleta?”.

Ora, o “vehicular cycling” não é propriamente uma estratégia de promoção do uso da bicicleta, é um modelo educacional para salvaguardar a integridade física de quem usa a bicicleta em cidades onde há carros, e muitos, e/ou a andar muito depressa (que são todas as cidades do mundo, praticamente), e garantir a competitividade da bicicleta como meio de transporte, em termos de tempos de deslocação. Claro que se dermos às pessoas uma ferramenta que lhes dá mais segurança e maior eficiência a usar um modo de transporte, é mais provável que elas o adotem, mas isso é um efeito colateral – o objetivo é melhorar a vida a quem já o adotou ou já quer mesmo adotá-lo. Como analogia, não é por tirarmos a Carta de Condução que vamos querer andar de carro, tiramos a Carta de Condução porque já queremos andar de carro, e queremos andar de carro porque a rede de estradas é imensa, razoavelmente segura e confortável, direta, temos estacionamento fácil e gratuito ou quase em todo o lado, o crédito à compra é fácil, nascemos numa cultura em que toda a gente anda de carro ou quer fazê-lo, e onde o carro é uma forma de expressão de status sócio-económico – e vivemos numa cultura onde esta ostentação é tolerada, e porque o carro é uma bolha física e psicologicamente confortável. Além disso, o nosso (des)ordenamento do território e políticas públicas de urbanismo e mobilidade sofríveis, faz com que o carro seja grosseiramente mais rápido e/ou confortável do que qualquer outra forma de deslocação, principalmente fora dos maiores centros urbanos.

Na Holanda, e noutros países, não é a segregação das bicicletas que justifica os números de utilizadores. É a segregação dos carros – na forma de ruas sem saída para carros, menos espaço alocado ao carro, pouca oferta de estacionamento para carros, cara e “fora de mão”, impostos altos na compra de carros, maior fiscalização dos comportamentos anti-sociais (estacionamento abusivo, excesso de velocidade, etc), acalmia de tráfego, cultura mais avessa à ostentação de status sócio-económico por via de bens materiais, etc, além da cultura universal da bicicleta como um meio de transporte, e a excelente articulação com uma boa rede de comboios (e outros modos). E mesmo assim, a quota modal do carro não é muito diferente da nossa, a bicicleta compete principalmente com o andar a pé e com o transporte público – a segregação dos veículos por modo, além da normal segregação por destino, torna todo o sistema mais ineficiente, nomeadamente com as medidas necessárias à mitigação do risco acrescido criado pela segregação (nomeadamente os semáforos).

Uma pessoa versada nos princípios tornados famosos pelo Forester, anda de bicicleta de forma segura e eficiente em qualquer lado, em qualquer infraestrutura, em Lisboa, em Londres, em Copenhaga, em Amesterdão, ou na China. Pessoas experientes a andar de bicicleta em sítios como a Holanda ou mesmo como Sevilha, só andam de bicicleta na Holanda, ou em Sevilha (e muitas vezes sofrendo colisões causadas pela segregação), chegam a cidades bastante pacíficas (all things considered) como Lisboa dos últimos 10 anos e encostam a bicicleta, porque não sabem partilhar as estradas em segurança com os carros em sítios onde as bicicletas rareiam.

Mas este post não é para entrar em argumentações nem em revisões da história da bicicleta e do cicloativismo (been there, done that, já não tenho tempo nem paciência). Este post é para lembrar, e agradecer publicamente, o trabalho de imenso valor de uma pessoa que o mundo perdeu recentemente, e a quem eu e muitos outros utilizadores de bicicleta têm uma eterna dívida de gratidão. Thank you, John Forester!

John Forester – Foto: Peter Flax

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Pelos olhos dos outros...

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 8/02/2020 às 18:26

Temas:

Apesar de a nossa capital ser grande e ter muitas pessoas, amiúde vejo nos meus caminhos caras conhecidas e gente amiga... os que como eu rolam ou nos cruzamos e acenamos ou apenas um mero cumprimento, ou às vezes acompanhamos por algumas centenas de metros em amena cavaqueira.

Como agora atravesso a cidade quase de uma ponta à outra (cada viagem são cerca de 19kms e picos, ida e volta são quase 40kms/dia) vejo muitas vezes a rolar o LCarvalho, o EduardoS, o MiguelC, o MiguelB, o RLeiria e o JLeiria, o PedroG e a Maria, o ArturL, RuiA, o HugoM e o HerculanoR, o RuiR, o JoãoB, e ex colegas de trabalho como o PauloS, ManuelC e a VerónicaF e tantos tantos outros...

Há dias um desses mega licrados de bicicleta (como eu tb sou às vezes quando vou dar umas voltas na estradeira) começa a chamar-me quando vinha na ciclovia a caminho de casa, e eu não estava a ver quem era... os anos passam! Era um ex-colega de liceu que até está na minha rede do facebook e reconheceu a Gestrudes. Foi um bom reencontro!

Outra vez passei ali noutra ciclovia e passavam muitos peões e há um que grita "Woowww, tu, heeiii..." e não liguei pois pensava que não era para mim. Mas depois gritou o meu nome... Era um grande amigo da altura da faculdade!! Também reconheceu a Gestrudes! :)

Mas desde que tenho a Gestrudes, que é vistosa, muito mais gente amiga que anda de carro ou de transportes também me vê...

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Um deles goza comigo "Hoje vi outra vez o autocarro azul a passar por mim!" ou então...

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Mas dos mais hilariantes foi este audio que recebi e ouvi só quando cheguei a casa, num dia que o trânsito estava caótico e as filas de carros eram intermináveis e recordo ter ouvido uma buzinadela no sentido contrário ao meu, mas eu ia "depressa" (a 20 kms/h praí) e não vi que era.

Clicar para ouvir: "Ca ganda vergonha pá!"

O que eu me ri com isto... ! :)

 

Mais conforto na Tern GSD : espigão de selim com amortecedor

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 19/01/2020 às 22:15

Temas:

Uma das desvantagens da Tern GSD, uma das poucas, é a falta de qualquer tipo de suspensão/amortecimento.

Apesar dos seus pneus largos que absorvem muito das vibrações, qualquer pequeno buraco ou desnível levam a um desconforto quer nos braços pela vibração do guiador quer do espigão do selim que propaga esses choques para a espinha dorsal.

Se fosse tudo ciclovia ou se fosse tudo alcatrão lisinho não tinha problemas, mas os nossos pisos não são assim tão confortáveis.

Podemos reduzir esse desconforto pelo nível de ar nos pneus, que vão desde os 2 aos 4,5 bars. Mas pneus mais vazios rolam mais lento em qualquer piso e mais cheios apesar de acelerar a viagem ficam mais duros e recebem mais das vibrações que se propagam pelo quadro e pelo ciclista.

"Inflate to the upper limit for a faster ride. And to the lower limit for a smoother ride."
https://www.ternbicycles.com/support/techtips/pump-it

Assim que andei a indagar e um dos meus parceiros destas aventuras do uso da bicicleta, o António P, já me tinha falado de uma solução que arranjou para a bicicleta dele.

Um espigão de selim com suspensão! 
Que coisa moderna...

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Com uma opinião tão positiva e depois de ver alguns videos e outras opiniões em blogs e site, resolvi comprar a ver se ajudava nestes meus quase 40 kms diários.

Decidido então mandei vir aqui deste site:
https://www.bike-discount.de/en/search?q=suntour+seatpost

Montar é extremamente simples, bastou tirar o espigão original e substituir pelo novo, ajustar a inclinação e voilá! (só tive de pedir a chave dinamométrica ao meu vizinho Paulo que é um engenhocas e tem essas cenas todas... provavelmente não era preciso mas não queria estar a estragar)


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Até vem com uma capinha para proteger, mas é mais para quem usa no BTT e cenas sem guarda-lamas.

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Apesar de funcionar os suportes do selim ficam mesmo colados à "cabeça da suspensão" do novo espigão, e parece-me que vai acontecer o que este moço reporta neste outro blog Tour On A Bike e não Touro Na Bike :)
https://www.touronabike.com/sr-suntour-sp12-ncx-suspension-seat-post-review/

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Estou desconfiado que vai desgastar dado o contato com os suportes do selim, por estarem tão perto ao fazer o amortecimento parece-me que vai roçar bastante. Se fizerem zoom à imagem la´mais em cima verão que já está a desgastar :( A ver se ajusto ao máximo que possa para tentar não roçar tanto.


Ver aqui estes videos de como isto funciona:

https://www.youtube.com/watch?v=_R2hFZqdiws

https://www.youtube.com/watch?v=G3kB4z8vAyc

Para já a experiência tem sido muito positiva! Obviamente que as vibrações no guiador continuam a sentir-se mas na coluna há uma melhoria significativa.

Com o tempo darei uma opinião mais fundamentada, mas até ver parece-me um excelente upgrade! O primeiro que fiz na Gestrudes - exceptuando o descanso central que foi uma peça oferta da marca a substituir a de origem que admitiram não ser de boa qualidade, pelo feedback dos seus clientes e pelo uso do modelo que tem apenas dois anos e pouco no mercado.

Mas dizia... até ver foi uma excelente decisão e compra!
As minhas costas e o eu do futuro agradecem estes cuidados com a saúde :)
 

A Gestrudes é a eBike do Ano

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 15/01/2020 às 9:51

Temas:

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«The Tern GSD is our cargo e-bike of the year, and also our overall winner. We’ve tested the GSD in two builds over the last two years, and one abiding feeling remains: this is the most useful and practical bike you’re ever likely to own.

The GSD is built around a long-tail frame and 20-inch wheels. The long-tail design means there’s masses of room at the back – enough for a weekly shop or two passengers – while the small wheels mean that the overall footprint of the bike is no bigger than a standard city bike. Even better than that, the GSD flips up on its end and the saddle and handlebars fold down, so it takes up barely any space at all. The ride position is highly adjustable, so anyone in the family can use it with just a few quick tweaks.

It’s easy and fun to ride – there’s no learning curve like you get with a box bike – and it’s a rare day you come across a situation or a load that the GSD won’t take in its stride. With loads of different options for carrying cargo, children and grown-ups, you can configure it exactly how you need it and it can grow with you as your family grows. 

It’s a genuine car replacement, and perfect for city living. The more expensive S00 build we tested this year is great if you’re looking for a heavy-duty workhorse, but the S10 is enough bike for nearly any situation and a grand cheaper, so that’s still our favourite one and the only bike so far to have got a full five stars.

Why it wins: It’s the most useful and practical bike you’ll ever own. Every home should have one!»

https://ebiketips.road.cc/content/news/ebiketips-e-bike-of-the-year-awards-201920-2259


Vale o que vale pois cada um avalia as coisas conforme as suas necessidades, mas fico feliz por saber que a minha escolha foi a escolha certa, aos olhos de outros que têm outros fatores em consideração e comparando com outras eBikes.

Continuo mega satisfeito com a aquisição! So far, so good!

 

A minha ex anda por aí...

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 7/01/2020 às 23:01

Temas:

Esta semana um amigo das lides do uso da bicicleta mandou-me umas fotos da minha antiga bicicleta pedalec, a Romana.

Como estão lembrados dei a Romana à troca quando comprei a Gestrudes, e não estou nada arrependido... o Miguel da BeElectric já me tinha dito que já tinha vendido a Romana a um moço algures de Lisboa.

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O dono atual até manteve o spoke card do Sexta de Bicicleta! Nível :)

...confesso que bateu uma nostalgia ao ver as fotos da minha ex-companheira.

O importante é que vai fazer feliz mais um sortudo que se desloca na cidade de modo ativo, sem poluir, sem fazer ruído e potenciando uma convivência melhor com os demais habitantes da cidade.

E para a Romana não vai nada, nada, nada? Ip, ip, urááiii!
Quem viva?! Viva a Romana!!
 

A publicidade que nos mata, sem sabermos...

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 7/01/2020 às 22:50

Temas:

Hoje apanhei um apressado que me apitou e gesticulou pq queria que eu saísse da frente para o senhor acelerar no meio da cidade para chegar primeiro ao próximo semáforo vermelho.

Devia querer que eu me esfumasse ou que eu saltasse como o Kit do Mikel Knight por cima dos carros parados na fila para virar á direita ao invés de ocupar a fila de trânsito que fluia no sentido que eu pretendia.

Esta cultura é algo enraizado e que vai demorar anos, gerações, a mudar. 

E que vejo eu a caminho do trabalho? Publicidade de uma marca automóvel a fazer alusões subtis à velocidade, à competição, aos rallies e corridas diárias...

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Mas não há quem tenha noção e acabe com este tipo de publicidade?

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Publicado originalmente no grupo de Facebook de Ciclismo Urbano onde podem ler alguns comentários interessantes, e outros nem tanto...
https://www.facebook.com/groups/ciclismourbanonoporto/permalink/2642951465759201/

 

Dicas para quem vai fazer um dia a Estrada Nacional 2

@ Eu e as minhas bicicletas

Publicado em 7/12/2019 às 18:37

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Após já muitas semanas, e antes que a memória comece a desvanecer, seguem algumas dicas da recente experiência para ajudar quem um dia queira fazer a aventura da EN2 de bicicleta.

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1. Sozinho ou em grupo?

Na minha opinião fazer a EN2 sozinho não será uma experiência agradável, a não ser que se queira fazer numa de isolamento e introspecção pessoal.

A par já será interessante para ter uma companhia, repartir os custos e até partilhar a experiência no seu todo.

Nós fizémos num grupinho de 3 e acho que foi o ideal, pois acaba por ser uma boa convivência social de apoio, confraternização e até a repartição de custos é mais simples.

Se calhar mais que 3 já seria logisticamente mais complicado gerir ritmos, vontades e alojamento... a não ser que houvesse um grande alinhamento prévio nesse grupo.

2. Duração

Cada pessoa ou grupo terá o seu ritmo, que dependerá muito da forma física e calendário disponível, pelo que o meu conselho é baseado na experiência recente desta nossa viagem.

Nós fizémos em 6 dias a rolar, mas dado que para chegar ao ponto de partida em Chaves tivémos de tirar outro dia para essa viagem acaba por ser 7 dias para este percurso.

O que aconselho, partindo de Lisboa, será que quem queira e possa tire apenas a tarde de sexta de "féria" e apanhe o autocarro para Chaves de forma a começar a viagem no Sábado seguinte e assim fazer a viagem em 8 a 9 dias a rolar, de Sábado a Domingo.

Desta forma poderão fazer a viagem de forma mais vagarosa e apreciando os cantos e recantos do interior de Portugal, fazendo até distâncias mais curtas para quem não esteja em tão boa forma física.

E assim apenas necessitar de 5 dias e meio úteis de folga do trabalho.

3. Transportes

Lisboa > Chaves : Autocarro

Nós fomos os 3 de Lisboa para Chaves pela Rede de Expressos.

Recentemente a Rede Expressos passou a cobrar pelo transporte de bicicletas (e outros equipamentos desportivos como pranchas de Surf) e eu acho isso muito bem!

Antes ficava um pouco ao critério do motoristas e de haver muita ou pouca bagagem normal se a bicicleta podia ou não embarcar no dito autocarro. Agora assim é um custo de um serviço pelo que tem meessssmo de levar a bicicleta como bagagem. O custo do bilhete da bicicleta são apenas 5€!

Convém comprar com antecedência para garantir o lugar para a bicicleta...

redeexpressos.PNG

"Quero fazer uma viagem com a Rede Expressos/Renex e tenho uma bicicleta para transportar. Posso viajar?
Sim, pode. O transporte de bicicletas ou pranchas de surf implica um acréscimo no preço do bilhete de 5 euros. Apenas é permitido o transporte mediante a compra prévia, exclusivamente online, mediante o pagamento da referida taxa. Dada a limitação de espaço, é permitido um total de quatro unidades, entre bicicletas e pranchas de surf, por veículo. Estas devem estar em condições de viajar sem provocar danos nas restantes bagagens ou volumes, sendo obrigatório desmontar a roda da frente, colocando-a sobre o quadro e estando o respetivo conjunto embalado numa caixa ou bolsa preparada para o transporte. Se não houver espaço para mais bicicletas no horário escolhido, a célula de seleção de viagem com bicicleta não estará disponível. Depois de adquirir o bilhete, o passageiro deve apresentar-se para embarque, com a sua bicicleta/prancha de surf, com uma antecedência mínima de 15 minutos antes da saída. Outras bagagens especiais: serão aplicáveis os mesmos preços e condições a todos aqueles equipamentos e acessórios de desporto e/ou lazer equiparáveis, similares aos descritos anteriormente e que, pelas suas dimensões e/ou características, devam ser transportados no porão do autocarro. Estas bagagens devem estar em condições de viajar sem provocar danos nas restantes bagagens ou volumes, sendo obrigatório o respetivo embalamento para o transporte."

https://www.rede-expressos.pt/faq

Faro > Lisboa : Comboio Intercidades

No nosso último dia de viagem a rolar chegámos a Faro com alguma pressa para ainda conseguirmos o regresso no Domingo, pois como país civilizado temos muito poucos comboios a ligar pontos relevantes do país.

Os comboios intercidades permitem o transporte de bicicletas, sem desmontar nem embalar, num máximo de duas por cada carruagem, o que num dia como domingo estávamos apreensivos se iriamos ou não conseguir embarcar. Felizmente chegámos a tempo e horas à estação e lá comprámos as passagens para o regresso a Lisboa. Não se paga para transportar a bicicleta, mas é preciso na compra do bilhete indicar que se pretende levar uma bicicleta para reservar o espaço da mesma.

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"O transporte de bicicletas é gratuito.

Comboios Intercidades das Linhas do Norte (Lisboa – Porto / Guimarães / Braga / Viana do Castelo), Beira Alta, Beira Baixa, Alentejo (Lisboa Oriente / Évora) e Sul

As carruagens de 2ª classe destes comboios Intercidades possuem suportes específicos para o transporte de bicicletas tradicionais, permitindo o transporte de 2 bicicletas por carruagem.

Condições particulares:

  • Apenas é permitido o transporte de uma bicicleta tradicional por passageiro;
  • O peso da bicicleta deve ser igual ou inferior a 15 kg;
  • O transporte de bicicletas está condicionado à disponibilidade dos lugares destinados a esse efeito - lugares 15 e 17 das carruagens de 2.ª classe nos comboios Intercidades da Linha do Norte (Lisboa-Porto/Guimarães/Braga/Viana do Castelo) e lugares 12 e 18 das carruagens de 2ª classe nos comboios das Linhas da Beira Alta, Beira Baixa, Alentejo (Lisboa Oriente/Évora) e Sul. No caso destes lugares já não se encontrarem disponíveis, apenas é possível transportar bicicletas se as mesmas se encontrarem dobradas ou desmontadas e acondicionadas no espaço disponível para bagagem, não sendo admitida mais do que uma bicicleta por passageiro.
  • Os suportes existentes nas carruagens não possuem cadeados."
https://www.cp.pt/passageiros/pt/informacao-cliente/informacao-util/transporte-bicicletas


4. Alojamento

Acampar versus Hóteis/Pensões/Alojamento Local

Desde o início que este grupo de jovens quarentões decidiu que não se queriam sujeitar a essas delícias e maravilhas do campismo, há quem goste e nada contra, mas não queriamos levar toda essa parafernália a pesar na bicicleta e gastar tempo a montar e desmontar a tenda todos os dias.
#CicloturismoEmHotéis era o mote... Traveling light :)

Marcações e reservas

Nesta aventura, à excepção do alojamento em Chaves que previamente reservamos online pelo Booking, todos os remanescentes alojamentos foram sendo marcados no próprio dia à medida que nos iamos aproximando da localidade que consoante o nosso ritmo definíamos como objetivo de meta.

Obviamente dado o tempo limitado que tinhamos para a travessia sabiamos mais ou menos quais seriam as etapas e os destinos diários, mas fomos ajustando os mesmos e assim sem termos os alojamentos previamente marcados estavamos mais libertos dessa obrigação de rolar para lá chegar.

Portanto o conselho que deixo é terem um macro-plano de intenções de etapas diárias e fazerem em andamento as reservas dos alojamentos quando se aproximam o suficiente para decidir a meta do dia.

Nós reservamos quase tudo via app móvel do Booking, excepto o alojamento no parque de campismo de Castro Verde que fizémos por chamada telefónica.

Hotel + Alojamento Local + Parque de Campismo

Em Chaves ficámos num pequeno e antigo hotel num quarto triplo e com pequeno-almoço, cada um pagou nem chegou a 13€... :)

Nos restantes dias fomos pernoitando em alojamento local, e pagámos entre os 50€ e os 80€, o que a dividir por três acaba por não ser nenhum exagero.

A última noite foi nos bungalows do parque de campismo de Castro Verde que são basicamente casas, não sei porque lhes chamam bungalows.

Apenas no alojamento local em Góis as bicicletas não pernoitaram connosco e ficaram numa garagem, de resto vieram sempre connosco para as casas/quartos.

Calhou pelo menos uma vez a cada um dormir na sala, sendo que eu fui o último no parque de campismo e a cama era enorme - azar, não tenho culpa de ter calhado uma boa cama na sala no último alojamento :)

Todos nós ressonávamos, pelo que dica importante: levar tampões para os ouvidos! Deu-me muito jeito...

5. Refeições

Felizmente no nosso grupinho ninguém era esquisitinho com a comida o que nos permitiu mais uma vez repartirmos as refeições principais de almoço e de jantar, diminuindo assim os custos. Como muitas vezes no interior as doses são generosas pediamos quase sempre apenas dois pratos e chegava bem para os três.

Apenas os pequenos-almoços e as refeições ligeiras que iamos consumindo ao longo do caminho eram pagas em separado pois nem todos comiamos o mesmo. Também parámos várias vezes em supermercados e afins para comprar frutas, barrinhas e líquidos.

Muitas vezes enchiamos as nossas garrafas de água em torneiras de cafés e restaurantes, infelizmente não conseguimos encher nas fontes e fontanários pois estavam quase todos secos. Recordo no entanto que bebemos sofregamente em Vila de Rei, numa das poucas fontes que encontrámos, e que jorrava uma água deliciosa ao travo.

Portugal é tem um manacial gastronómico fenomenal, os Italianos e Franceses tem a fama toda mas a nossa comida típica e regional é algo de agradar aos deuses. Deliciámo-nos opiparamente de Norte a Sul. E constatámos que os preços aumentam à medida que se desce por Portugal a baixo.

Fomos bastante constantes nas bebidas... ao almoço era sempre vinho branco, que escorrega como refresco, e à noite era tinto para dormirmos ainda melhor.

Comemos os pratos regionais e os do dia, dividindo as despesas as refeições completas oscilaram entre os 6€ (!!!) e os +-18€. E comemos como Abades! Como Reis! Como Imperadores!

(razão pela qual ao fim de tanto km e caloria queimada acabei quase com o mesmo peso com que comecei a travessia da EN2)

6. Trajeto

A EN2 é sem dúvida uma atração turística que está sub-aproveitada... diria mesmo que está muito mal aproveitada.

Está mal divulgada, apesar do push pré-eleições do atual primeiro-ministro que falou e promoveu a EN2 como foco turístico esta deveria ter muito mais foco.

Tem má sinalização, mesmo má, em Vila Real quase que entrávamos numa auto-estrada pois tem uma placa com fundo branco a apontar para a mesma entrada da auto-estrada. Há muitos troços interiores com pouca ou nenhuma sinalização, obrigando-nos várias vezes a recorrer a mapas e aos telemóveis.

Tem pouco apoio e informação, e até um suposto passaporte com os tais carimbos para validar as passagens é desmotivante (nós nem nos preocupamos com isso, as fotos e videos são prova mais que suficiente), com os locais fechados ou até não assinalados, uma série de bandeiras sobre a EN2 mas com um grafismo que mal se nota a quem passa.

Portanto o meu conselho é estudar previamente o mapa e os pontos de maior dificuldade já identificados por muitos outros peregrinos.

Uma das coisas que fizémos, e que se pudesse voltar atrás não faria, foi fazer o antigo trajeto da EN2 pela IP3 durante ali uns 4 kms... basicamente é proibido e até mais ou menos perigoso apesar de ter uma berma considerável, mas os energúmenos de carro e camiões que ali ao lado passavam faziam questão de apitar e fazer razias como que a fazer-nos pagar pela ousadia de ali circular. Neste troço depois de Santa Comba Dão tem de se fazer uns kms numa estrada alternativa que não é a EN2, é o meu conselho a quem um dia fizer o trajeto... que se lixe o traçado original, em 738 kms não são um pouco de kms que tiram o mérito!

Há muitas zonas do trajeto que são idilicas, outras nem por isso. Muitas são sossegadas e seguras, outras nem por isso. Muitas tem berma larga e bom piso, outras nem por isso.

No fim de todo trajeto o sentimento de vitória, de realização, de felicidade acaba por minimizar estes troços menos agradáveis, mas... há zonas que não é para "pessoas sensíveis". E muito menos para famílias, com crianças mais pequenas.


7. Bagagem

Esta foi a minha primeira experiência em cicloturismo e até pensava que ia demasiado leve... mas afinal até levei foram coisas a mais.

Primeiro estando nós em Portugal e não num qualquer local inóspito há sempre comércio que nos acuda quando precisamos de algo, como por exemplo protetor solar que me esqueci e depois comprei.

Levei roupa a mais que não usei, e quiça me faltou uma camisola mais quentinha.
A meio da viagem comprei mais uma tshirt, pois se durante o dia ia secando a roupa que lavava de véspera - os boxers, meias e camisola e calções almofadados, já tshirt para usar depois da viagem à noite não dava para lavar...

Levei boxers e meias que não usei pois como ia lavando e secavam facilmente com o vento ou no estendal ao sol nas paragens para almoço.

Dependendo da estação que escolherem para a viagem aconselho irem o mais leve possível.

Lista do que eu levei:
- bolsa de higiene pessoal;
- boxers e meias para X dias / 2 - ir lavando e secando;
- camisola e calção - eu levei 2 conjuntos de ciclismo leves que ia lavando alternadamente;
- calças para usar de manhã cedo quando está fresquinho, e à noite para ir jantar fora;
- camisola/casaco para usar de manhã cedo quando está fresquinha e à noite;
- capacete, dado que ia atingir velocidades e locais que não conhecia;
- chapéu, eu usei debaixo do capacete;
- óculos: escuros e outros transparentes;
- 2 conjuntos de luzes traseira e dianteira;
- impermeável: andei a carregar a semana toda e só usei quando saí do comboio em Lisboa e chovia copiosamente, safou-me nos ultimos 20 minutos da viagem!
- carregador USB com três saídas;
- cabos USB Mini e USB-C;
- dois pares de sapatilhas, umas calçadas na pedalada e outras para a noite - ms facilmente se pode levar apenas um par;
- Telemóvel;
- Relógio;
- phones: usei duas vezes na viagem mas não é algo que me agrade, ir de phones na estrada, mas dá jeito para as viagens de autocarro e comboio!

Coisas que levei mas não usei, ou podia ter abdicado:
- power bank : não usei mas convêm ter;
- chinelos : levei e só usei nos alojamentos, mas podia não ter levado;
- calções de banho : levei mas não usei;
- toalha : levei e não usei;
- coluna de som USB : não usei;
- cabos elásticos;

Não levei mas devia ter levado:
- luvas, pois de manhã estava mesmo muito frio!


...


Não é uma aventura fácil mas também não é impossível!
É uma epopeia pessoal! Só é preciso decidir ir e... ir!

Boa viagem e boas pedaladas!



Post retirado do blog da viagem na EN2: https://estradan2.blogspot.com/

 
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