Publicado em 13/05/2021 às 17:02
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
Mais um parque de merendas |
Puro Algarve |
Publicado em 12/05/2021 às 20:24
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
Amanhece no Torrão |
N2 rumo a Faro! |
Mais um excelente parque de merendas |
N2 ao Sol |
Castro Verde |
Almodovar |
Na paragem do Autocarro |
No cimo do Caldeirão |
Ah pois é! |
Km 738! |
Publicado em 11/05/2021 às 20:44
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
O balcão do café era bastante antigo e transmitia ambiente ao resto do estabelecimento. Mal sinalizado, o humilde café da beira da estrada fora um achado importante, em mais uma manhã de fim Junho na Nacional 2. Estava a absorver esse ambiente, sentado numa cadeira barata, em frente a uma mesa onde repousavam um pão de carcaça com queijo e um galão que arrefecia no seu tradicional copo estriado.
Um cliente local conversa, algum esforço de sedução à mistura, com a jovem empregada. Eu tinha feito os primeiros quilómetros da manhã em jejum, por falta de opções, e imaginava o quanto me penalizariam estes comportamentos. Em qualquer caso, por aqueles tempos sentia-me um veterano, um viajante intrépido, um bikepacker endurecido, que não temia nem o clima nem a distância, e que confortavelmente se instalava em qualquer espaço público, indiferente aos olhares à sua indumentária de licra e habituais camadas de pó e suor.
A minha atenção recaiu então no pequeno televisor instalado a um canto, que transmitia um popular programa matinal. Num segmento sobre celebridades, no contexto de um ano de 2020 cheio de adversidade, discutia-se o falecimento recente de Pedro Lima. Isto era novo para mim. Tinha brevemente cruzado caminho com o conhecido actor de novelas na minha carreira de fotógrafo. Enquanto eu fora fotógrafo do grupo Motorpress, o Pedro assumira a posição de director da revista Mens Health. Era um cargo quase honorífico, mas que reflectia o estatuto de estrela de Pedro Lima.
Em pessoa, qualquer um facilmente dava esse estatuto por merecido. O Pedro tinha uma presença que não decepcionava. Era um James Bond da vida real, tinha a beleza de um modelo e o carisma de um bom líder. Tal como com o personagem de Ian Fleming, ficava a ideia de que os homens queriam ser como ele, e as mulheres desejavam estar com ele. O seu charme rivalizava apenas com a sua humildade. Por isso mesmo, a notícia de que esta privilegiada figura pública, casado e pai de filhos, tinha acabado com a própria vida, parecia deixar os comentadores do mundo social perplexos. A minha reacção não era diferente. E aquela questão fez o resto da viagem comigo.
Montargil |
A albufeira |
Puro Alentejo |
Mesmo a calhar |
R2? |
500! |
Foto obrigatória |
N2-R2 |
Publicado em 10/05/2021 às 21:01
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
Um tapete rolante. Mas prefiro o Norte. |
E depois de 1187Km, um furo. Ou será que não? Na roda traseira a pressão vai-se perdendo misteriosamente. O líquido mágico do Tubeless não está a fazer a sua função e tenho que parar com frequência nas bermas da estrada escaldante na zona da Sertã. Está muito calor hoje, será que isso interfere com as propriedades do líquido? Tenho câmaras de ar, mas usar uma significa abdicar do Tubeless nessa roda para o resto da viagem, e não sei se estou pronto para isso.
Sobra dar à bomba. Ao Sol. Já desci bastante para Sul pela N2 e as temperaturas são muito elevadas a partir do meio da manhã. A N2 também é agora mais rolante, por vezes com mais faixas. A estrada é agora mais despida, mais desabrigada. E os carros circulam bem mais depressa. Felizmente não há muito trânsito.
Despedida de Pedrogão |
O meu quarto dia da N2 foi muito repetitivo: dar à bomba, para manter a roda traseira minimamente cheia de ar. E comprar água cada hora ou hora e meia, que o calor de outra forma não se aguenta. Fui rolando e rolando para Sul, a determinada altura estava no caminho errado e tive de voltar para trás, mais uma vez por causa do meu GPS do demo, que ainda por cima só avisa que eu estou "fora do track", mas não oferece explicações nem alternativas.
O verde vai desaparecendo aos poucos |
Alguma atenção depois de 1200Km |
Cera para cima! |
Publicado em 9/05/2021 às 18:27
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
N2?? |
? |
Come-se bem em Góis... |
Vistas da estrada |
A Famosa |
SIM! Só para mim! |
Home, sweet home! |
Dia 17. Vimieiro-Pedrogrão Grande. 101km. (Estrada).
Publicado em 9/05/2021 às 8:10
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
Viseu |
Amanhece em Lamego. É o segundo dia na N2, que fica mesmo ali no fim da rampa de acesso do Parque de Campismo. Despeço-me do velho pastor alemão gigante, um amistoso local, que veio mais uma vez ver se eu precisava de alguma coisa. O que eu precisava era de um bom pequeno almoço, mas hoje não há disso por aqui. Mais vale ir andando para esta que será mais uma etapa de 100Km, como acordado.
Castro Daire |
A estrada é agradável até Castro Daire. Mas depois desta bela localidade, a N2 está cortada. Sou encaminhado para uma volta por estradas secundárias, onde a determinada altura até o asfalto desaparece. Por mim tudo bem, para isso é que tenho uma bicicleta Gravel. Mas isto corta a velocidade média e hoje não sei mesmo onde irei acabar.
Às voltas pelos montes, a tentar regressar à N2 |
Depois de alguns atalhos, o desvio leva-me de novo para a N2. Pela hora do almoço estou em Viseu e mais uma vez estranho o burburinho da urbe, já não lido bem com muita gente, nem com muito trânsito. Eu estou bem é nos montes e vales, em zonas recônditas onde por vezes tenho a N2 toda só para mim.
Convém talvez esclarecer, para quem não conhece, o perfil da N2. Esta estrada nacional, como tantas outras, não tem sempre as mesmas características, devido ao progresso e ao crescimento urbano e do tráfico. Mas na maioria dos quilómetros, a N2 é a típica estrada de duas faixas, uma para cada sentido de transito, com uma berma pequena ou mesmo inexistente. No Norte do país, a N2 sobe e desce bastante, mas sem exageros. Há também muitas curvas, que fazem as delicias dos motards e ciclistas, e obrigam os outros utilizadores a estarem sempre atentos ao volante, o que juntamente com o trânsito reduzido, torna o percurso, a meu ver, bastante seguro.
Conhecem? |
O Almoço foi McPorcarias numa McEsplanada. Estava em caminho e eu tinha preguiça de ir à procura de algo mais substantivo. Nesta fase já desci pelo país o suficiente para o calor ter regressado e preciso de me abrigar um pouco do Sol do meio dia. Mas também não me posso acomodar, ainda falta bastante para os 100Km do dia.
Oi? |
Mais a Sul encontro a Ecopista do Dão, e como ela é paralela à N2, a determinado ponto eu decido ir explorar. O caminho é super agradável, com árvores, muita sombra e tranquilidade. E ainda são uns largos quilómetros. Mas a ecopista comete o erro de tantas outras ciclo-coisas, termina no meio do nada, sem indicações de nenhum tipo. Largado num arvoredo, sigo o Google Maps até encontrar a estação ferroviária de... wait for it... Santa Comba Dão!
Mas estou do lado errado da via e sou perseguido por mais um cão dos Baskervilles. O enorme animal parece ser o cão de guarda de umas obras e claramente não está ali para fazer amigos. Tenho que pular literalmente a cerca e depois atravessar várias linhas férreas para chegar à bonita estação, abandonada ao calor do dia, que já vai longo.
Ecopista! |
Respirar fundo. Isso. |
Não muito longe da estação está uma casa de um cavalheiro bem conhecido, um filho da terra. Parece-me estar a reconhecer a modesta vivenda, de filmes e fotografias antigas e parei para confirmar. Uma placa esclarece que, sim senhor, ali nasceu Salazar.
Aqui nasceu Salazar |
Bicicleta no quarto III |
Em conversa com o proprietário, fico a conhecer um bocadinho mais da zona. Ele parece estar envolvido na dinamização da Ecopista do Dão. Aliás, toda a temática da natureza visa atrair turistas sensíveis a estas questões para a zona, sobretudo do Norte da Europa. Foi uma rara conversa nestes dias, uma agradável troca de ideias com um tipo inteligente, mas não podia durar. Because COVID, e também porque eu tenho mesmo que ir dormir. Cumpri mais uma vez com a distancia mínima e amanhã isso é para repetir.
Dia 16. Lamego-Vimieiro. 109km. (Estrada).
Publicado em 7/05/2021 às 12:12
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
Cá vamos nós! |
O modesto hotel de Chaves não desilude na simpatia e no pequeno almoço. O ambiente é de enorme expectativa. Depois de duas semanas na estrada, hoje começa a N2! Mas no briefing que faço de manhã cedo com o Dentuça, há uma questão que surge. Acontece que conhecemos quem tenha feito esta rota antes, de bicicleta, mas com carro de apoio e alojamento tratado. E quem fez, fez muitos mais quilómetros por dia do que aquilo que eu sou capaz. Por causa das comparações, o Dentuça acha que temos andado a pastar, a vagabundear pelo país até agora, e se não estipularmos uma meta, um objectivo, eu vou "arrastar-me" também pela N2 abaixo, porque aparentemente sou "um granda menino".
Assim, para não ser demasiado fácil, para ter mais um aliciante, mais um incentivo, fica estipulado que tenho que fazer a N2 completa em sete dias no máximo, o que se traduz numa média diária sempre superior a 100km. A altimetria no Norte mete respeito, mas melhora no Sul do país. O facto de nesta altura já ter mais quilómetros nas pernas que os 738 da própria N2 dá-me alguma confiança. No entusiasmo da manhã, eu acho tudo boa ideia e comprometo-me a cumprir os objectivos traçados pelo paquiderme estofado.
Na ponte romana |
Chega a hora da partida. Atravesso Chaves com um cacho de bananas pendurado na bolsa do selim, e a sensação de estar a dar início a uma missão, alguma coisa importante. Localizo o Km 0 sem dificuldades. Fica no meio de uma banal rotunda concorrida. Imediatamente alguém reconhece os meus propósitos e se oferece para tirar a minha fotografia com a bicicleta, em frente ao marco quilométrico que indica simplesmente 0Km. Boas energias.
O Km Zero |
E a coisa começa. Rolando pela cidade, já na N2, recebo várias buzinadelas de incentivo. As pessoas acenam, sou uma pequena vedeta temporária. Os habitantes estão acostumados ao colorido de ciclistas e motards a passar por aqui, mas não devem ter visto muitos recentemente, devido ao COVID. A sensação é incrível, ontem era só um ciclista esquisito anónimo, cheio de coisas penduradas na bicicleta. Hoje sou como um peregrino de Santiago, toda a gente parece perceber o que estou a fazer. E parecem gostar.
Vidago |
A estrada em si tem ambiente. Nos últimos anos parece ter havido um esforço por divulgar o traçado da N2 como forma de fomentar o turismo nos concelhos abrangidos e os indícios estão por toda a parte. Desde os cafés e restaurantes que mudaram de nome para algo referente à N2, até uma app dedicada para o telemóvel e um passaporte, ao estilo da credencial do peregrino de Santiago. Mas não se enganem, a N2 não é feita de marketing, o traçado é de facto simplesmente magnífico, e depressa a sua fama se justifica.
Decididamente não estamos no Isaltinistão |
Mais Chaimites em Vila Real |
A4, Viaduto do Corgo |
Não está mal |
Razoável |
Aceitavelzito |
Lamego! |
Final de dia em Lamego |
Publicado em 6/05/2021 às 13:25
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
Chaves! Rejubilai! |
O tempo continua farrusco quando regresso à N103 pela manhã, mas não chove e depois do dia de ontem, isso agradece-se. A nacional tem vindo a revelar-se muito aprazível. Não tem a altimetria maluca das estradas secundárias dos montes e vales do Gerês, mas tem curvas e sobe e desce suficiente para não ser aborrecido. O trânsito é ligeiro e não provoca stress. Pelo meio da manhã tenho que concluir que, se não chover, vai ser um dia divertido.
Estas nuvens ladram mas não mordem |
Quase |
Pontes |
E mais pontes |
E pontes... |
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Publicado em 5/05/2021 às 14:30
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Perdido no Gerês |
A manhã do 13º dia da expedição é em tudo igual às anteriores. Chove continuamente. Trata-se de um desastre, mas há esperança: a previsão é de ligeira melhoria ao longo do dia. Eu decido que já esperei o suficiente e que hoje vamos mesmo fazer quilómetros. Dê por onde der. Nisto conto com o apoio do Dentuça, já que ele é aquele tipo de mamute de peluche que quando alguém diz "mata" ele logo diz "esfola!"
A paisagem nunca desaponta |
Ainda demos tempo ao tempo, a ver se este melhorava, mas não parou de chover. A tenda foi arrumada molhada, o que é sempre bastante desagradável, mas não havia alternativa. No GPS tinha um caminho carregado que serpenteava e ziguezagueava pelos montes. Isto era uma contrariedade inevitável, já que o caminho mais simples e com menor altimetria era pela fronteira, que estávamos impedidos de cruzar. A manhã já ia longa quando por fim tudo ficou arrumado, e arrancámos, debaixo de chuva e de um céu tenebroso.
O GPS achava que era por aqui |
Aqui já estava molhado até aos ossos |
Sem comentários... |
Seguia o meu GPS com uma confiança religiosa, pois não queria estar sempre a parar naquelas condições, para me orientar ou por qualquer outro motivo. Mas algumas paragens eram inevitáveis. Como quando havia gado na estrada, coisa comum por estas paragens. Não tenho fotos, pois a minha atenção nessas alturas ia para os cornos dos bichos. Juro que uma das vacas estava a dizer "Estás a olhar para onde? Esta manhã já caguei coisas maiores que tu!" Dizem que as vacas matam mais pessoas por ano que tubarões, e eu acredito. Outra fauna fácil de encontrar são os famosos garranos, que andam à solta pelos montes e vales. Vi também um acidente, que paralisou totalmente a N304, à excepção este vosso escriba, que contornou o carro virado ao contrário e seguiu caminho, deixando para trás filas quilométricas de enlatados desesperados.
Só faltava o Sol! |
Depois de muita chuva e quase 2000m de acumulado, sem ter feito paragens para comer, estava a ficar claro que Chaves não era um destino realista para o dia. Estava exausto, molhado e com frio. Precisava de uma refeição quente e de uma boa noite de descanso, num sítio confortável. E acabei por ficar no excelente Hotel São Cristovão, à beira da N103, que, assim o esperava, me havia de levar a Chaves. Saindo das roupas molhadas no meu quarto com vista para a Albufeira da Venda Nova, tomei um merecido duche prolongado e em breve iria jantar luxuosamente no restaurante ali mesmo ao lado, e de manhã estaria como novo.
Um dos sítios onde a bicicleta ficou no quarto |
Dia 13. Entre ambos os Rios-Venda Nova. 76Km (Estrada).
Publicado em 4/05/2021 às 11:35
Temas: bikepacking viagem volta a Portugal
O mundo continuava molhado lá fora |
Quem diria que meados de Junho poderiam ser dias tão chuvosos no Gerês? Muita gente, se calhar. Pois é o dia décimo segundo da expedição e o Dentuça e eu parece que estamos a reviver o dia anterior. A manhã é passada na tenda, a ver o mundo por uma nesga aberta, a esperar que a chuva pare. Mas ela não para. E o tempo vai passando e chega uma altura que já é demasiado tarde para arrancar.
Pouco mais há a fazer a não ser ir até ao café-restaurante-mini mercado do parque. Mas isso depressa se torna aborrecido. Primeiro because COVID, afinal aquilo é um espaço fechado, que nem é muito grande, e a esplanada está fora de questão devido à água que continua a cair do céu. Segundo porque o pessoal do parque alterna entre o extremamente simpático e o muito estranho. Havia mesmo um indivíduo que fazia questão de não me servir. A outras pessoas até preguntava se estava tudo bem, se precisavam de alguma coisa, mas comigo fingia que não via que eu o estava a chamar à meia hora. É verdade que o parque era um bocadinho fancy, adaptado a malta do Norte que faz desportos náuticos, e não só. Não sei se era xenofobia, afinal eu estava vestido como um típico emigrante brasileiro (amigos do Brasil, por aqui ninguém vai ao supermercado de calções e havaianas em pleno dezembro, just saying).
Fosse como fosse, a minha estadia no parque parecia cada vez mais uma contrariedade. O parque é amplo, limpo, num espaço natural, sem o cimento e a sobre-construção que arruínam outros lugares deste género. Permite ainda muito espaço entre as tendas. Tem além de tudo isso, vistas absolutamente paradisíacas. Mas mesmo no paraíso um tipo sente-se preso se tem outros planos. Eu andava a sentir-me culpado por ter uma média fraca de quilómetros diários e agora tinham passado dois dias com zero quilómetros. Não era ideal.
Enfim, fechado na tenda, a mordiscar os últimos mantimentos que me sobravam, tipo amendoins e bolachas, ia fazendo planos para os próximos dias. A fronteira permanecia fechada, por isso tinha eliminado a hipótese de visitar amigos que tinha na Galiza, ali ao lado. A ideia agora era fazer a Nacional 2 em toda a sua extensão. Este era o próximo objectivo que me motivava. Uma viagem bucket list que eu tencionava incluir na minha volta a Portugal! Para isso, o próximo destino seria Chaves, onde a N2 tem início. Eu estava ansioso por começar, mas primeiro a chuva tinha de acalmar.
Dia 11. Entre Ambos os Rios. 0Km.